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07/04/2005 - 10h19

Cosmética recruta voluntários com facilidade

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FLÁVIA MANTOVANI
da Folha de S. Paulo
LUANDA NERA
Colaboração para a Folha

Há um tipo de estudo clínico para o qual não é difícil encontrar voluntários --eles são sadios e vão até o centro de pesquisa espontaneamente. Trata-se dos testes com cosméticos. Quem se interessa preenche um cadastro com seus dados e características dermatológicas (tipo de pele e cabelo, por exemplo). Quando há um estudo voltado para seu perfil, a pessoa é chamada para uma avaliação médica.

O cadastro da Allergisa, instituto de pesquisa na área dermatológica, possui em torno de 7.000 nomes. Outra empresa do ramo, a Medcin, tem mais de 3.000 voluntários registrados, de diversos níveis socioeconômicos. "As pessoas de maior renda podem comprar cosméticos no dia-a-dia e geralmente querem inovações em cremes e maquiagem. Quem ganha menos nos procura porque não tem condição de comprar", diz Sérgio Schalka, diretor da Medcin.

A recepcionista Renata Soares, 29, participou de testes com um xampu, um batom e um hidratante. "Sou fã de cosméticos. Para mim, não foi sacrifício nenhum ir à clínica", diz. Ela conta que foi informada de que poderia ter alguma reação. "Com os cosméticos do teste nunca aconteceu. Mas já comprei produtos na farmácia que me deram problema."

Assim como no caso de medicamentos, para ser voluntário em testes de cosméticos é preciso assinar um termo de consentimento. "Muita gente acha que é distribuição de amostra grátis. Não é isso. A pessoa tem que comparecer às visitas, deve usar o cosmético conforme as instruções e não pode distribuir o produto", alerta Schalka.

Caso ocorra alguma reação, há plantão médico telefônico e pessoal. "Há riscos, mas, no caso de cosméticos, é muito raro que algo aconteça", diz.

Sérgio Schalka afirma que o maior perigo é submeter-se a procedimentos que não passam pelo crivo da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

"Há muita clínica de estética fazendo teste com cosméticos. Às vezes, as pessoas acabam participando de pesquisas sem nem saber", diz. Para evitar que isso aconteça, deve-se perguntar se o produto tem registro na Anvisa.

Tratamento de ponta

Em situações de doenças mais graves, experimentar novos tratamentos pode ser a única saída. Foi o que aconteceu com a funcionária pública Nair de Alvarenga, 59. Ela tinha uma displasia na corda vocal e foi a primeira pessoa no país a testar um tratamento que já é rotina no hospital Sírio-Libanês, onde foi feito o estudo. Os médicos suspeitavam de câncer. Nair tomou uma medicação e teve um laser aplicado no local. O tratamento regenerou sua corda vocal e, em três dias, ela recuperou a voz. "Essa experiência me fez nascer de novo. Já tinha perdido as esperanças", diz.

O empresário Eduardo Marafanti, 53, também tinha uma doença grave e foi buscar uma pesquisa clínica para seu caso no exterior. Em 1998, ele descobriu que estava com leucemia mielóide crônica e que teria pouco mais de um ano de vida. Em 2000, ficou sabendo que uma nova droga para a doença estava em teste nos EUA. Marafanti encontrou o autor do estudo pela internet e conseguiu se tornar voluntário. Ele fez uma campanha para trazer o remédio para o país --que é hoje usado com o nome de Glivex-- e fundou a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia).

Durante os cinco anos da pesquisa, sua doença foi controlada --a porcentagem de células leucêmicas chegou a apenas 0,03%. Só que, há um mês, ele descobriu que tinha outro câncer, chamado leucemia linfóide aguda.

Mais uma vez, os estudos clínicos são a esperança de Marafanti. Ele é o primeiro brasileiro que testará um novo medicamento para o caso, desta vez aqui mesmo, no hospital Albert Einstein, em São Paulo. "Pelo que me disseram, as chances de cura são boas."

Segundo o cirurgião Orlando Parise, coordenador do comitê de ética e pesquisa do hospital Sírio-Libanês, de 2004 até hoje os estudos clínicos da instituição foram de 41 para 87, a maioria na área de oncologia.

Ele afirma que os pacientes podem conseguir benefícios, mas ressalta que eles se restringem ao que está sendo estudado: "Pesquisa não é tratamento. O voluntário não pode achar que ganhou um seguro médico. Se ele tiver outro problema de saúde, não nos responsabilizamos."

As pesquisas de Arnaldo Lopes Colombo, professor titular de doenças infecciosas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), geralmente são com pacientes graves. Ele diz que, em geral, os voluntários têm outras doenças e estão sensibilizados com o processo de desenvolvimento de tecnologia na saúde: "Eles têm um grau de solidariedade muito grande. Isso facilita meu trabalho e a ciência."

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