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22/04/2007
-
15h41
ROBERTO DE OLIVEIRA
da Revista da Folha
Pela primeira vez em 13 anos de convivência, o fox paulistinha Bruce comemorou seu aniversário separado da dona, Olga Ayres de Toledo, 80.
No último dia 26 de fevereiro, ela teve poucos segundos para acariciar o animal, sedado, que, do outro lado de um vidro de 3,5 milímetros da UTI canina, recebia soro e tinha os batimentos cardíacos monitorados. Fora da sala de emergência, o foco de atenção se voltou para a aposentada. Por mais de uma hora, Olga recebeu acompanhamento de uma psicóloga.
Para ela, a aposentada contou, aos prantos, que seu desespero tinha um motivo forte que atormenta a maioria dos donos de animais de estimação: o medo da perda. O fox paulistinha chegou ao hospital desmaiado. Ele sofre de insuficiência cardíaca, agravada por uma grave pneumonia.
"Geralmente, os casos de doenças crônicas envolvem um longo vínculo entre dono e bicho. O maior temor é que essa história de vida seja interrompida repentinamente", explica a psicóloga Clarissa Castilho, 32.
Um dos mecanismos utilizados por Clarissa numa hora dessas é incitar os donos a relembrarem bons momentos ao lado de seus pets. E, a partir daí, dar voz a eles.
Em meio a lágrimas e risos, Olga desabafa: "Desde pequenino, Bruce dorme ao meu lado. Eu me afastei de amigos que não gostam de bichos e inventei para parentes que tenho medo de viajar de avião só para não deixá-lo sozinho".
Suporte emocional
Outra manifestação comum em situações emergenciais é o sentimento de culpa. Perguntas como "Será que eu cuidei direito?" ou "Procurei ajuda na hora certa?" costumam rondar a cabeça dos proprietários.
"O diálogo é uma estratégia para tentar expulsar esse fantasma", conta a também psicóloga Simone Cortez, 30. Ela e Clarissa trabalham no Hospital Veterinário Sena Madureira (zona sul), que tem assistência psicológica aos proprietários de animais em tratamento crônico ou estado crítico. O serviço é oferecido gratuitamente durante a internação ou quando o animal precisa ficar sob cuidados por um período longo.
Segundo a psicóloga Clarissa, casos que envolvem crianças e idosos, principalmente os solitários em que o bicho é o único companheiro, exigem mais atenção.
No último dia 25 de fevereiro, a estudante Carla, 7, ficou "transtornada e fora de si", na definição da mãe dela, a advogada Renata Guatura, 41, ao ver a pinscher Kelly Cristina, 2, contorcer o corpo e espumar a boca, depois de ter engolido veneno de rato.
"Mostramos à criança que já ocorreram internações semelhantes e que hoje os animais estão vivos e sadios. Que o mesmo pode ocorrer com nós, humanos, se ingerirmos comida estragada, por exemplo", conta Simone.
"O proprietário retoma a calma, passa a se interessar melhor pela situação clínica do bicho e tem de volta seu otimismo", diz ela.
Empolgada, Carla conta que retomou o seu. "As psicólogas me ajudaram a enxergar que a minha cadela podia ficar boa. E foi o que aconteceu."
Delicado mesmo, confessam as psicólogas, é acompanhar o processo de luto e eutanásia. "Há aqueles que querem se despedir do bicho, os que preferem não ver, os que se calam e os que só choram", diz Simone.
Quando as psicólogas percebem que os donos estão muito perturbados emocionalmente, as profissionais podem sugerir que eles busquem auxílio terapêutico fora do hospital veterinário.
Nem sempre o problema psicológico acomete só os donos. A instrutora de equitação Ligia Cardoso Coelho, 44, perdeu sua gata siamesa Pipoca, 14, em fevereiro último. A partir daí, sua outra gatinha, Miúcha, 7, da mesma raça, passou a ter problemas respiratórios. O quadro clínico aparentava sinusite, mas os exames revelaram que Miúcha não tinha nenhum problema.
Com o auxílio das psicólogas e da equipe veterinária, Ligia descobriu que a siamesa, na verdade, estava somatizando a perda da antiga companheira.
Esta reportagem foi publicada pela Revista da Folha em 04/03/2007
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da Revista da Folha
Pela primeira vez em 13 anos de convivência, o fox paulistinha Bruce comemorou seu aniversário separado da dona, Olga Ayres de Toledo, 80.
No último dia 26 de fevereiro, ela teve poucos segundos para acariciar o animal, sedado, que, do outro lado de um vidro de 3,5 milímetros da UTI canina, recebia soro e tinha os batimentos cardíacos monitorados. Fora da sala de emergência, o foco de atenção se voltou para a aposentada. Por mais de uma hora, Olga recebeu acompanhamento de uma psicóloga.
Kiyomori Mori/Folha Imagem |
Aposentada Olga Ayres de Toledo, 80, acaricia o fox paulistinha Bruce, 13, na UTI canina |
"Geralmente, os casos de doenças crônicas envolvem um longo vínculo entre dono e bicho. O maior temor é que essa história de vida seja interrompida repentinamente", explica a psicóloga Clarissa Castilho, 32.
Um dos mecanismos utilizados por Clarissa numa hora dessas é incitar os donos a relembrarem bons momentos ao lado de seus pets. E, a partir daí, dar voz a eles.
Em meio a lágrimas e risos, Olga desabafa: "Desde pequenino, Bruce dorme ao meu lado. Eu me afastei de amigos que não gostam de bichos e inventei para parentes que tenho medo de viajar de avião só para não deixá-lo sozinho".
Suporte emocional
Outra manifestação comum em situações emergenciais é o sentimento de culpa. Perguntas como "Será que eu cuidei direito?" ou "Procurei ajuda na hora certa?" costumam rondar a cabeça dos proprietários.
"O diálogo é uma estratégia para tentar expulsar esse fantasma", conta a também psicóloga Simone Cortez, 30. Ela e Clarissa trabalham no Hospital Veterinário Sena Madureira (zona sul), que tem assistência psicológica aos proprietários de animais em tratamento crônico ou estado crítico. O serviço é oferecido gratuitamente durante a internação ou quando o animal precisa ficar sob cuidados por um período longo.
Segundo a psicóloga Clarissa, casos que envolvem crianças e idosos, principalmente os solitários em que o bicho é o único companheiro, exigem mais atenção.
No último dia 25 de fevereiro, a estudante Carla, 7, ficou "transtornada e fora de si", na definição da mãe dela, a advogada Renata Guatura, 41, ao ver a pinscher Kelly Cristina, 2, contorcer o corpo e espumar a boca, depois de ter engolido veneno de rato.
"Mostramos à criança que já ocorreram internações semelhantes e que hoje os animais estão vivos e sadios. Que o mesmo pode ocorrer com nós, humanos, se ingerirmos comida estragada, por exemplo", conta Simone.
"O proprietário retoma a calma, passa a se interessar melhor pela situação clínica do bicho e tem de volta seu otimismo", diz ela.
Empolgada, Carla conta que retomou o seu. "As psicólogas me ajudaram a enxergar que a minha cadela podia ficar boa. E foi o que aconteceu."
Delicado mesmo, confessam as psicólogas, é acompanhar o processo de luto e eutanásia. "Há aqueles que querem se despedir do bicho, os que preferem não ver, os que se calam e os que só choram", diz Simone.
Quando as psicólogas percebem que os donos estão muito perturbados emocionalmente, as profissionais podem sugerir que eles busquem auxílio terapêutico fora do hospital veterinário.
Nem sempre o problema psicológico acomete só os donos. A instrutora de equitação Ligia Cardoso Coelho, 44, perdeu sua gata siamesa Pipoca, 14, em fevereiro último. A partir daí, sua outra gatinha, Miúcha, 7, da mesma raça, passou a ter problemas respiratórios. O quadro clínico aparentava sinusite, mas os exames revelaram que Miúcha não tinha nenhum problema.
Com o auxílio das psicólogas e da equipe veterinária, Ligia descobriu que a siamesa, na verdade, estava somatizando a perda da antiga companheira.
Esta reportagem foi publicada pela Revista da Folha em 04/03/2007
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