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07/03/2002 - 09h14

Bichos inofensivos provocam pânico em adultos

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KATIA DEUTNER
free-lance para a Folha

O fisioterapeuta Denis Pioli, 22, já matou cobra a paulada. Mas toda essa valentia pode sumir numa fração de segundo. Do alto de seus quase dois metros de altura, ele confessa: "Não posso nem ver grilo; se percebo a presença de um, procuro passar longe e com a mão espalmada para evitar que ele pule em mim".

Como o fisioterapeuta, muitas pessoas entram em pânico ao se deparar com bichos inofensivos, como baratas, lagartixas, minhocas, grilos e passarinhos. Racionalmente, elas reconhecem que seu medo não tem justificativa. Essa constatação, porém, não é suficiente para evitar o mal-estar e o constrangimento de fazer escândalos em público.

"Já coloquei na cabeça que elas não fazem nada", diz a universitária Thatiene Cristina Argentino, 20, que tem pavor de aves. "Mas ando pelas ruas pisando forte para espantar as pombas e sei até que lado devo bater o pé para que elas não voem para cima de mim."

Sentir medo é natural, e essa sensação é detonada por dois nódulos em formato de noz, chamados amígdalas, localizados no cérebro. São eles que identificam o perigo e avisam o corpo de que existe uma ameaça por perto. "Nossos ancestrais só sobreviveram por causa desse senso de perigo", explica a terapeuta comportamental Maly Delitti, professora da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

O problema acontece quando o medo se torna exagerado e se transforma em fobia, provocando reações como taquicardia, falta de ar e tontura. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 11% da população mundial sofre de fobia específica por animais ou objetos.

Às vezes, não é necessário nem ter contato com um bicho de verdade. Há alguns anos, perto do Natal, as alunas da pintora Dirce de Lourdes Garbim Novoa, 60, deram-lhe uma galinha de borracha na brincadeira de amigo secreto. Foi o suficiente. "Cheguei a passar mal, fiquei com taquicardia e falta de ar", lembra. Essa não foi a única vez que Dirce se deparou com sua fobia. "Estava na feira e vi uma mulher com uma galinha amarrada. Não tive dúvidas, eu me enfiei embaixo de uma banca", conta a pintora, que, por causa das pombas, deixou de visitar a Praça de São Marcos, em Veneza, quando foi à Itália. "Preferi ficar no hotel."

Segundo Delitti, é comum os fóbicos passarem por privações para "fugir" do que lhes provoca tanto pavor. "Eles só procuram a ajuda de um profissional quando o grau de aversão aos bichos interfere muito em sua vida pessoal ou profissional", explica.

A explicação para esse tipo de fobia pode estar na atitude dos pais durante a infância. A mãe que sobe em cima da mesa ao ver uma barata ou o pai que repete sempre "Cuidado com o bicho-papão!" estão ensinando os filhos a sentir medo. "As crianças acabam aprendendo que o coelhinho é fofinho e que a barata é nojenta", afirma Delitti.

Talvez seja por isso que muitas mulheres não podem nem ver esses insetos pela frente. A dona-de-casa Maria Souza, 55, chegou a pular de um carro em movimento. "Quando percebi que havia uma barata lá dentro, não tive dúvida e desci do carro, que, para minha sorte, estava em baixa velocidade." Sua irmã, Ana Souza, 60, também sofre com a fobia. "Já saí gritando pela rua por causa delas."

A comerciante Denise Amaral, 32, não sente medo de barata, mas, em compensação, tem pavor de lagartixa. "Entro em verdadeiro pânico só de pensar que aquela coisa gelada e nojenta pode cair em cima de mim", explica. Já a fobia de cobras afasta a dona-de-casa Maria Izabel Masuda, 52, das minhocas.

"Se eu precisasse pegar uma para pescar, eu nunca pescaria", diz ela, que não gosta de épocas chuvosas. "Se chove muito, as minhocas sobem pelas paredes."

Para a terapeuta Delitti, a maioria dos medos exagerados podem ser explicados. "As fobias são adquiridas em situações de aversão ao animal, como um trauma." Provavelmente é o caso do fisioterapeuta Pioli, cujo pai costumava jogar grilos nos filhos como brincadeira.

As fobias podem surgir também em situações em que o bicho não é o personagem principal. "Pessoas que não estão se sentindo bem e passam por uma situação vexatória ou por um susto envolvendo o bicho podem ficar amedrontadas", diz o psiquiatra Tito Paes de Barros Neto, supervisor do Ambulatório de Ansiedade (Amban) do Hospital das Clínicas de São Paulo e autor do livro "Sem Medo de ter Medo" (ed. Casa do Psicólogo).

Para os fóbicos, enfrentar o bicho parece quase insuportável, o que dificulta o tratamento. Uma das opções é abordar o problema de maneira gradual. "Começamos com o desenho de uma barata, por exemplo. Depois mostramos fotos e filmes com muitas baratas até que chegarmos ao estágio de o paciente pegar um inseto de borracha ou um vidro fechado com uma barata viva", explica Barros.

ONDE
  • Laboratório de Comportamento e Saúde da USP: tel. 0/xx/ 11/ 3818-4448
  • Clínica Psicológica da PUC-SP: tel. 0/xx/11/ 3670-8040
  • Ambulatório de Ansiedade (Amban): tel. 0/xx/ 3069-6988
  • Departamento de Psicologia da Unifesp: tel. 0/ xx/11/5539-0155
  • Associação Nacional da Síndrome do Pânico: tel. 0/xx/11/3794-4658
  • Instituto de Psiquiatria da UFRJ: tel. 0/xx/ 21/ 295-3499, ramal 246

    Leia mais:

  • Saiba o que ajuda a vencer o medo de bichos

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