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Candidatos à presidência - Ciro

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De trajetória errante, Ciro hoje aposta no trabalhismo

PATRICIA ZORZAN
FREDERICO VASCONCELOS

da Folha de S.Paulo

De aspirante à vice-presidência da UNE por uma chapa considerada de direita, foram 23 anos até que Ciro Ferreira Gomes, candidato do PPS à Presidência da República, 44, encabeçasse uma aliança de inspiração getulista.

Nesse período, foi eleito segundo suplente de deputado estadual pelo PDS, deputado estadual e prefeito de Fortaleza pelo PMDB, governador cearense pelo PSDB, e atuou como articulador do Plano Real e ministro da Fazenda de Itamar Franco.

Período em que também afirma ter votado em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e depois em Fernando Henrique Cardoso. Hoje, crítico de ambos, diz-se oposição. Oposição de centro-esquerda, que fique bem claro, já que foi no PTB de tradicionais barganhas com o governo federal que o presidenciável encontrou seu primeiro apoio para a disputa deste ano.

Filiado ao pequeno PPS desde setembro de 1997, Ciro não teria direito a muito mais do que os 2min24s de TV da eleição passada caso não conseguisse agora a adesão de aliados com maior representação no Congresso e nos Estados.

Uniu-se então ao PTB dos deputados federais José Carlos Martinez e Roberto Jefferson, representantes da tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Daí ter reagido com tanta irritação quando foram divulgadas notícias sobre negociações iniciadas por seu próprio partido em Alagoas para aproximar a Frente Trabalhista da legenda de Collor no Estado. Viu no caso, como em tudo o mais que lhe acontecesse de negativo nos últimos tempos, uma armação do adversário José Serra (PSDB).

Não que o tucano não tenha prejudicado sua candidatura, como provam as tentativas do PSDB de proibir as recentes aparições de Ciro na TV.

Mas, passado pouco mais de um mês, o que se vê é o PTB negociando apoio a Collor na disputa pelo governo de Alagoas e um dos ex-ministros do ex-presidente, Antônio Cabrera, sendo escolhido candidato da frente ao governo de São Paulo.

A eterna sombra da comparação com Collor é das críticas que mais incomodam Ciro e, por isso mesmo, das mais repetidas pelos inimigos de campanha. Preconceito motivado apenas pelo fato de ambos serem jovens e de carreira política baseada no Nordeste, justifica o presidenciável.

Muito provavelmente, entretanto, a agressividade verbal de quem já se referiu aos pagadores de ágio como "otários" ajudou na comparação com o ex-presidente que propalou sua masculinidade declarando ter "aquilo roxo". Coincidentemente, uma afirmação feita ao lado de Ciro, em uma solenidade realizada em Juazeiro do Norte, quando o presidenciável era governador do Ceará.

Mas o horror de ser tachado como "o novo Collor" não encontra, pelo menos em público, reciprocidade por parte do ex-presidente. Collor é só elogios quando se refere ao candidato do PPS.

"Tivemos algumas arengas sem consequência de ordem prática. Não encontro nem resquícios na memória de algo que tenha nos afastado", declara Collor. "Isso aborrece muito meu filho, mas já disse para ele largar mão", diz a mãe do presidenciável, Maria José Santos Ferreira Gomes, referindo-se às constantes comparações entre os dois.

Mas, se em relação a Collor Ciro prefere não seguir os conselhos da mãe, já deu várias outras demonstrações de que é capaz de esquecer. Com a facilidade de quem escolhe com cuidado a quem perdoa, cultiva o hábito de transformar famosos desafetos do passado em aliados do presente. Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que foi chamado de "sujo que só pau de galinheiro", tem hoje sua adesão à aliança comemorada pelo ex-ministro.

Exemplo de incidente descrito pelo presidenciável como um atrito "episódico" em nível pessoal e que não justificaria colocar em risco a governabilidade de seu eventual mandato no Planalto. O mesmo vale para o presidente do PDT, Leonel Brizola, integrante da frente responsável pelo verniz getulista da coligação.

Lamentando com ares de pena a quinta colocação do ex-governador na eleição presidencial de 1994 -"Ele devia ter poupado sua biografia desse constrangimento"-, Ciro se referiu ao agora homenageado parceiro como ""a morte de um modelo político".

Do PDT de Brizola, aproximou-se ainda do filósofo Roberto Mangabeira Unger logo após sua saída do PSDB. Conselheiro intelectual do ex-ministro -escreveram juntos o livro "O Próximo Passo -Uma Alternativa Prática ao Neoliberalismo"-, Mangabeira hoje coordena o programa de governo do presidenciável.

Consciente da imagem de voluntarioso que mantém junto aos formadores de opinião, o ex-ministro tem se esforçado para controlar a impaciência, característica de sua personalidade que mais o desagrada. "Estou mesmo uma seda", vem repetindo frequentemente como uma espécie de mantra, sempre que se surpreende com suas próprias reações.

Aos que presenciaram cenas explícitas de irritação, atribui o descontrole à doença da namorada, a atriz Patrícia Pillar, que passa por tratamento contra um câncer.

Mas o temperamento explosivo vem de antes, já da época em que disputava a Prefeitura de Fortaleza. Criado em Sobral, foi questionado por um jornalista, durante a eleição de 1988, onde estava localizado o Morro do Chapéu. "Sou candidato a prefeito. Não a carteiro. Se quiser chegar até lá, rapaz, tomo um táxi", respondeu.

Sinceridade cortante que o salvou de um vexame que poderia ser ainda maior. Não há um Morro do Chapéu na cidade. Filho de funcionários públicos nascido na cidade de Pindamonhangaba (SP), Ciro chama cearenses de conterrâneos, mas, candidato, tem feito questão de divulgar sua origem paulista. E não é mera coincidência São Paulo ser o maior colégio eleitoral do país.

"Fiz o caminho inverso do pau-de-arara", brinca sobre a experiência de ter se mudado com a família para o Ceará, Estado de seu pai, aos 4 anos de idade. Costuma dizer que, apesar da vida modesta, não passou fome, mas viu colegas nessa situação.

Iniciou sua carreira política aos 23 anos pelas mãos do pai, prefeito de Sobral, interior do Ceará. Preocupado com a manutenção da herança política da família, José Euclides Ferreira Gomes Júnior fez de Ciro, o primogênito de cinco filhos, suplente de deputado estadual por seu partido, o PDS.

A sigla reunia quadros da antiga Arena, legenda que deu sustentação ao regime militar. Eleito mesmo tendo se filiado fora do prazo estabelecido, o candidato conheceu o empresário Tasso Jereissati, então presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC), em palestra na Assembléia. Do encontro resultou uma estrutura de poder que se sustenta há 16 anos no Estado. Caso raro de criatura que ainda mantém relações políticas e pessoais estreitas com seu criador, Ciro permanece fiel a Tasso mesmo depois de sua saída do PSDB, em 1997.

Além do apoio do padrinho político, preserva sua influência na região constante por meio do irmão Cid, atual prefeito de Sobral, citado como provável candidato à Prefeitura de Fortaleza em 2004.

Repetindo o gesto do pai, viu ainda o irmão Ivo se tornar secretário da Educação de Sobral, e fez do outro, Lúcio, um de seus tesoureiros de campanha. Amigos mais próximos do ex-ministro também foram transformados em funcionários públicos durante suas passagens pelo poder. E, pelo menos com um deles voltou a trabalhar depois deixar seu último cargo público, o de ministro da Fazenda.

Quando o presidenciável foi contratado, em Fortaleza, como assessor do parque aquático Beach Park, por R$ 10 mil mensais, Osterne Feitosa, 44, colega de Ciro desde a época da faculdade, já trabalhava na empresa como diretor de planejamento havia aproximadamente um ano. Com os amigos, desfruta de uma fidelidade absoluta. Todos ressaltam sua capacidade de liderança desde jovem. Em coro, mencionam ainda sua inteligência, vocação política e determinação. "Sou amigo do Ciro, graças a Deus", disse Raimundo Oman Carneiro Filho, 43, seu amigo desde a infância em Sobral.v Sem manias, tem supostamente como único defeito conhecido pelos que o rodeiam o fumo, vício que mantém desde a adolescência, quando adquiriu o hábito escondido dos pais.

Descrito pela mãe como alguém que raramente chora, teve no pai, a primeira palavra que pronunciou quando criança, seu maior ídolo. Maria José diz se lembrar do filho chorando apenas em quatro ocasiões, duas deles relacionadas ao pai. A primeira, quando José Euclides se elegeu prefeito, e a segunda, quando morreu de câncer, há seis anos.

Pai de Lívia, 18, Ciro, 17, e Iuri, 12, o candidato terminou um casamento de 15 anos em 1998 com a deputada estadual e candidata do PPS a uma vaga no Senado pelo Ceará, Patrícia Gomes. Apesar do namoro com Patrícia Pillar, mantém com a mãe dos filhos, como se refere à ex, uma relação próxima. Apoiada por ele na disputa pela Prefeitura de Fortaleza em 2000 e agora novamente este ano, Patrícia Gomes assistiu da primeira fileira a convenção que homologou o nome de Ciro.

Com Patrícia Pillar vive um relacionamento público e, ainda que diga pretender poupar o namoro da curiosidade alheia, tem se valido dele como candidato. Afirmando ter encontrado o ""homem de sua vida", como não se cansa de repetir, a atriz tem feito jus à idéia de que será um dos grandes trunfos da campanha, quando, mesmo em recuperação, não poupa esforços na distribuição de autógrafos e beijos.

Já na criação dos filhos, o ex-ministro parece seguir o estilo da mãe. "Nunca influenciei meus meninos. Acho que as pessoas têm de ter individualidade", afirmou Maria José sobre sua reação diante dos cabelos longos adotados por Ciro aos 15 anos.

Talvez por isso o presidenciável tenha preferido não se manifestar quando a filha colocou um piercing na língua. Acabou retirando o adereço após uma inflamação. Reação previsível até quando vinda de um pai que declarou não usar brincos por ser governador.


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