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22/11/2002

BICAMPEÃO Moeda americana bate demais opções do mercado, porém especialistas desaconselham aplicação no curto prazo

Dólar protege investidor, mas está caro

da Folha de S.Paulo

Assim como no ano passado, o dólar continua sendo a vedete dos investimentos neste ano. Até outubro, os fundos cambiais haviam acumulado uma rentabilidade média de 51,62%, muito superior a outros investimentos como fundos DI e de renda fixa.

Apesar do ótimo desempenho, poucos consultores se sentem confortáveis em recomendar novos investimentos na moeda norte-americana. O problema é que, apesar de não ser possível afirmar que o dólar não voltará a subir, o preço atual já é considerado muito elevado. Na sexta-feira, o dólar comercial fechou em R$ 3,56.

"O dólar próximo a R$ 4 não traz benefícios nem para os exportadores, que não conseguem investir para garantir a produção", diz Emílio Garófalo, ex-diretor do BC. Para ele, a moeda pode se estabilizar em torno de R$ 3.

O diretor-executivo da Unibanco Asset Management, Marco Sudano, estima que a moeda ainda sofrerá volatilidade no primeiro semestre de 2003, mas depois deve se fixar num patamar entre R$ 3 e R$ 3,30. "Este ano foi muito ruim. A menos que realmente ocorra uma guerra contra o Iraque, a situação mundial deve melhorar", diz. "Outro ponto positivo é que o governo eleito, pelo seu discurso, tem se apresentado como um governo de mudança, mas não de ruptura."

Incerteza
Já o economista-chefe da corretora Hedging-Griffo, Elson Yassuda, ainda acha cedo para se apostar em um cenário positivo. Ele lembra que o governo terá de lidar com uma agenda que inclui as reformas tributária e da Previdência. "É preciso ver até que ponto o discurso de moderação do PT vai conseguir atender às demandas do seu eleitorado e, ao mesmo tempo, restabelecer a credibilidade da política monetária." Segundo ele, ainda faltam iniciativas concretas nesse sentido. "Creio em um dólar a R$ 3,90 para dezembro de 2003."

Diante de um cenário que não é de consenso, os consultores recomendam que o investidor só use o seu 13º salário para fazer aplicações atreladas à moeda americana caso tenha alguma despesa futura em dólar, como uma viagem programada ao exterior ou a compra de algum produto importado. Outra hipótese é a diversificação do portfólio para se proteger de um agravamento da economia mundial com reflexos no país a médio prazo.

A consultora Márcia Dessen aconselha a quem quer se proteger da oscilação da moeda a entrar num fundo cambial e não comprar diretamente dólar em espécie. "Onde você vai deixar esse dinheiro? Em casa? Isso não é seguro", diz. Ela ressalta, porém, que quem entrar num fundo cambial não vai, necessariamente, obter exatamente a mesma rentabilidade da moeda.

Isso ocorre porque, além da variação do dólar, os títulos que compõem esses fundos também oferecem uma taxa de juros, que é fixa, por um tempo determinado. Isso significa que, se nesse período, o governo subir os juros gerais da economia, esses papéis serão automaticamente desvalorizados pelo mercado. Se caírem os juros, o efeito pode ser o contrário, ou seja, de valorização dos papéis. Se também houver um certo descrédito no mercado com relação à capacidade do governo em honrar esses títulos, seu valor é ajustado para baixo. Isso explica porque o fundo pode apresentar uma rentabilidade ligeiramente diferente da do dólar.


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