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22/11/2002

CENÁRIO Novo governo terá de domar as incertezas do mercado em meio a situação internacional bastante delicada

Câmbio e juros ainda inspiram cautela em 2003

da Folha de S.Paulo

Qualquer que seja a opção dos investidores para atravessar a troca de governo, o momento exige reflexão e, sobretudo, cautela. As duas principais variáveis macroeconômicas da gestão FHC, o câmbio e os juros, estão sob intensa pressão neste final de mandato e continuarão ditando o comportamento de todos os tipos de investimento em 2003.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e seus principais assessores tomarão posse em janeiro com a disposição de baixar os juros para estimular a economia. Mas isso não será tarefa simples e nem de curto prazo, dadas as limitações financeiras do próprio governo _que tem apertadas metas fiscais e de inflação para cumprir no acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional)_ e as muitas incertezas que assolam os mercados.

"A margem de manobra do próximo governo será muito estreita, como o próprio PT reconheceu", diz Dawber Gontijo, estrategista-chefe do HSBC no Brasil. O comportamento do dólar será outra incógnita, já que não dependerá apenas do resultado favorável da balança comercial (superávit este ano superior a US$ 10 bilhões), mas também das expectativas dos agentes econômicos. "Tudo vai depender da política econômica da nova equipe", afirma Gontijo.

Alta pressão
Internamente, a alta da inflação na esteira da crise cambial agravada durante o período eleitoral e as renovadas promessas petistas de responsabilidade fiscal impedem a redução imediata das taxas de juro pelo Banco Central. O juro real, portanto, está caindo e pode cair ainda mais em 2003.

Lá fora, as condições desfavoráveis _ameaça de guerra dos Estados Unidos contra o Iraque e o desaquecimento econômico dos países centrais_ perturbam o cenário mundial, afetando o comércio e o fluxo de investimentos para o Brasil e, consequentemente, a cotação do dólar.

"É difícil ter uma postura otimista para o ano que vem", diz o economista Walter Brasil Mundell, vice-presidente de Investimentos do Grupo Sul América.

Segundo ele, há uma crise clássica de superprodução no capitalismo mundial. O processo de deflação que consome a economia do Japão desde o início dos anos 90 está chegando aos Estados Unidos e ameaça a Europa.

Os resultados maléficos dessas crises nos mercados produtivos e financeiros são conhecidos e poderão ser agravados se houver um recrudescimento dos conflitos no Oriente Médio, que afetem o preço do petróleo.

E o que fazer com o dinheiro num momento desses? "O mundo está mais perigoso. O melhor é investir no curto prazo, em ativos líquidos e em moeda forte", recomenda Mundell. (MILTON GAMEZ)

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