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22/11/2002

PORTO SEGURO Rendimento menor não afasta investidores; simplicidade e benefício do Imposto de Renda são atrativos

Segurança supera lucros na poupança



Luiz Carlos Murauskas - 3.set.02/Folha Imagem
O consultor Alexandre Póvoa, para quem a segurança da poupança é um argumento simbólico
SUZANA BARELLI
free-lance para a Folha de S.Paulo

Os depósitos na caderneta de poupança crescem todo final de ano, quase como uma tradição de Natal. As duas parcelas do 13º salário explicam os recursos extras na aplicação.

O juro _TR mais 6% ao ano_ é menor que o dos fundos de renda fixa e DI, mas a caderneta está isenta da tributação do Imposto de Renda e não tem prazo mínimo de carência.

A simplicidade e a facilidade da movimentação do sistema _basta um depósito bancário ou uma transferência na conta corrente_ estão entre os fatores que explicam a preferência pela caderneta nesta época do ano.

"O poupador sabe que pode sacar o dinheiro imediatamente se tiver algum tipo de gasto não previsto", afirma Roberto Derzie, superintendente nacional de Serviços e Captação da CEF (Caixa Econômica Federal), a entidade líder neste tipo de aplicação, com 20,8 milhões de contas. Se precisar dos recursos antes de 30 dias, o poupador fica sem a remuneração correspondente, mas não perde capital.

A expectativa neste final de ano é que os depósitos sigam a velha tradição. "O dinheiro nessa época migra sazonalmente para a poupança", afirma Décio Tenerelo, presidente do Comitê Executivo da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).

No ano passado, segundo dados da Abecip, o saldo da poupança habitacional (incluindo depósitos, retiradas e rendimentos) subiu 1,42% em novembro, em comparação com o mês anterior. Em dezembro, o aumento foi de 2,19% em relação a novembro. E, em janeiro de 2002, quase como prova de que o consumidor brasileiro gasta mais nas festas de Natal e Ano Novo, o saldo teve queda de 0,31% em comparação com dezembro de 2001.

Novo governo
Neste ano, a poupança conta com um atrativo adicional: a troca de governo. Quem teme a trajetória ascendente da dívida pública federal _cujos títulos recheiam as carteiras dos fundos_ por conta das altas dos juros e do dólar nos últimos meses tende a preferir a caderneta, que tem lastro em empréstimos habitacionais e cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Bem ou mal, a caderneta já rendeu 8,21% até o mês de novembro. "Dos investimentos financeiros, talvez a poupança seja o menos suscetível a qualquer ação ou calote", afirma o consultor Alexandre Póvoa. Mas ele observa que esse é um argumento mais simbólico do que técnico. "Na época do Plano Collor, o confisco não poupou nem mesmo os depósitos em caderneta", lembra.

Para garantir que os recursos do 13º salário tenham a caderneta com principal destino, os bancos planejam campanhas internas de convencimento em suas agências, incentivando o depósito com o argumento de que a poupança é a única aplicação que pode ser considerada um "porto seguro".

No Bradesco, por exemplo, a previsão é que o saldo cresça entre 1% e 1,5% em cada um dos últimos dois meses do ano. "Vamos colocar a nossa rede para trabalhar pelos recursos", afirma Tenerelo, que também é vice-presidente do Bradesco.

Na CEF, a expectativa é que a campanha de contas sorteadas, veiculada no primeiro semestre do ano e que distribuiu R$ 16 milhões em prêmios, tenha reflexos ainda no final de ano. "Os gerentes vão continuar o seu trabalho de incentivar novos depósitos", afirma Derzie.

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