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22/11/2002

ESTRATÉGIA Oscilação nos rendimentos leva investidor a rever carteira de aplicações e a planejar melhor seus movimentos

Fundos ganham novo fôlego para 2003

SILVANA MAUTONE
free-lance para a Folha de S.Paulo

Os números não mentem. Boa parte dos brasileiros continua buscando a segurança da caderneta de poupança. São cerca de R$ 140 bilhões contra R$ 85,5 bilhões aplicados nos fundos DI, o produto que tem o maior patrimônio entre os fundos de investimento. Mas esses mesmos números mostram que a tranquilidade da poupança também tem seu preço.

Enquanto a caderneta de poupança rendeu até outubro 7,4%, a rentabilidade média dos fundos DI ficou em 13,53%, segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). Mesmo descontando-se a alíquota de 20% do Imposto de Renda sobre o rendimento _na poupança não há a incidência de IR_, o ganho ainda assim é maior. No caso dos fundos DI, o retorno líquido ficou em 10,82% até outubro.

Esses números também revelam que, dependendo do índice usado, até mesmo aos fundos de investimento têm sido difícil repor as perdas com a inflação. E para o dinheiro aplicado na poupança, essa se torna uma tarefa ainda mais complicada.

Segundo o IPCA, adotado oficialmente pelo governo, a inflação ficou em 6,98% nos dez primeiros meses do ano. Mas o IGP-M, por exemplo, acumula até outubro uma alta bem maior: de 14,82%.

"A poupança não tem a volatilidade dos fundos, mas o investidor paga caro por esse conforto", afirma a consultora Márcia Dessen. E acrescenta: "Quem busca uma rentabilidade maior, tem de correr mais riscos. Um ganho mais alto não vem por acaso".

O consultor Mauro Halfeld concorda. "Com a inflação crescente, os fundos baseados no pagamento de juros, como o DI e a renda fixa, não são mais suficientes. O brasileiro vai ter que aprender a investir, a fazer planejamento de longo prazo, correr riscos e aplicar em diferentes ativos."

Desconfiança e perdas
No fechamento do mês passado, a indústria de fundos de investimento acumulava uma captação negativa (depósitos menos saques) de R$ 63 bilhões. Isso quer dizer que saiu mais dinheiro do que entrou nos fundos.

Além da instabilidade econômica, contribuiu para esse desempenho a crise da chamada marcação a mercado, iniciada em maio. Ao terem a atualização diária cobrada pelo governo, alguns fundos registraram perdas expressivas. Isso assustou os investidores, que transferiram seus recursos para aplicações que têm como marca registrada a fama de segurança, como a poupança. Não foi a melhor estratégia. "Em geral, quem fez isso se precipitou. Além de ter pago a CPMF na hora do saque, viu nos meses seguintes seu dinheiro render menos do que teria ganho caso ainda estivesse nos fundos", explica Márcia.

"A história sempre acaba se repetindo. Seja em renda fixa ou em ações, no geral, o investidor sempre entra nos momentos de alta e sai nas baixas. É exatamente o procedimento inverso ao que deve ser feito", diz o consultor Fábio Colombo.

Para evitar a tentação de mexer nos investimentos em momentos de estresse, os consultores recomendam aos investidores que não acompanhem a rentabilidade de suas aplicações diariamente e que tracem uma estratégia. Para isso, porém, ressaltam que é importante que o investidor distribua os recursos em vários produtos, de acordo com suas necessidades e planos futuros.

Erro frequente
Outra coisa que o investidor deve ter em mente, de acordo com Roberto Apelfeld, diretor de investimentos da Citigroup Asset Management, é que ele não irá acertar sempre. "Nem quem é do mercado, que trabalha o dia todo de olho na economia, consegue isso. Então não adianta ficar levando os recursos de um lado pro outro", diz. Caso seja esse o procedimento, não há como escapar das perdas.

Justamente por isso, segundo Apelfeld, é fundamental que o investidor pesquise sobre os fundos, leia atentamente os seus regulamentos e busque informações sobre o gestor antes de decidir em qual deles vai aplicar o seu dinheiro.

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