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Palco e estúdio de filmagem chegaram cedo na vida da moça belíssima da sociedade soteropolitana, mas
o primeiro passo iluminado foi mesmo na passarela. Antes de tornar-se mulher de Glauber Rocha
e musa dos maiores diretores do cinema brasileiro dos anos 60/70, a atriz Helena Ignez participou
de concursos de glamour girl e desfilou para fábricas paulistas, como estamparia Matarazzo e têxtil Rhodia.
No concurso de Miss Bahia 1958 escandalizou com olhares e atitudes intensos. Ela achava as modelos
da época "muito estáticas, todas com aquelas caras de bunda".
Logo a pesquisa de roupas virou ponto forte na composição de personagens. Em "Cara a Cara" (67), primeiro filme
seu com o diretor Júlio Bressane, a câmera acompanhava a atriz em momento coquete, despindo um longo da boutique Barbarella adaptado de figurinos do final do século 19. "Mas era roupa vendida na vitrine", lembra Helena.
No ano de 68, vivendo a Janete Jane de "O Bandido da Luz Vermelha" (do atual marido, o cineasta Rogério Sganzerla), depois na antológica primeira montagem paulista de "Hair" (69) e como Ângela Carne e Osso em "A Mulher de Todos" (70), a atriz viveu a febre da minissaia e do minishort, peças que adotou incondicionalmente, muitas delas compradas
na boutique de Mary Quant, no Chelsea londrino (ela morou lá, auto-exilada com o grupo de Caetano Veloso).
As saias e tubinhos eram os mais curtos possíveis: "Um dia, em Porto Alegre, fui almoçar num macrobiótico
e acabei escondida numa farmácia, que fechou as portas por causa da multidão que me seguiu", lembra. Botinhas
e cintos Courrèges, charutaço na boca e cabelo louro-palha escorrido finalizavam a composição da "descarada".
Em Londres, outra preferência eram os brechós chiques que nos 60's ainda possuíam modelos originais
dos anos 20 e 30. O rosto levava toda a maquiagem possível, com grande influência da inglesa Twiggy: "Ela usava tanto delineador, apliques de cílios naturais e sombras de cílios pintadas que o olho ficava parecendo uma flor". Helena
também marcava no rosto dois pontinhos, como lágrimas na linha das pupilas, "inventados simultaneamente pela
Geraldine Chaplin, que era casual-chiquésima e usava sandálias tipo havaianas nos festivais de cinema", recorda.
No carrossel que foi sua vida em 1970, interpretou Salomé, de Wilde (MAM-RJ), com vestidos
do cenógrafo Hélio Eichbauer. O figurino mais fantástico era o da célebre cena da dança:
"Um casulo gigante com varas de três metros de comprimento, manipuladas por dentro da roupa". Crisálida fatal.
Em "Antiga", peça de Dionísio Neto que ela volta a encenar este ano em várias capitais, veste
criações de Reinaldo Lourenço: "São vestidos inteligentes, que ele disse ter feito para o público ouvir bem minha voz".
Na mesma montagem, usa cópia de um parangolé de Hélio Oiticica, de tela metálica e tecido branco transparente.
Falta experimentar algo? Helena Ignez vestiu o melhor das artes plásticas, teatro, cinema e moda
de pelo menos três gerações de criadores. Um verdadeiro corpo-laboratório.
Helena em cena de "A Família do Barulho", filme de Júlio Bressane, 1970
alvaro machado
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