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moda / vintage

glamour 60

éramos todas lindas, divinas, deslumbrantes

Nos anos 60, em Paris, era assim. Vivia-se intensamente para a moda, 24 horas por dia, mesmo quem não era manequim nem estilista. Pelo menos três vezes por semana era obrigatório ir ver as novidades na boutique Saint Laurent Rive Gauche, na rue de Tournon. E a cada vez, coisas novas nos levavam ao delírio.

Foi lá que comprei meu primeiro smoking, minha saharienne de algodão cáqui (que tenho até hoje), os mais lindos cintos e as mais divinas blusas de seda. A gola de uma delas, branca, era como se fosse uma tira larga, dupla, que saía de trás do pescoço, cruzava na frente, voltava para trás, voltava para a frente e terminava num nó -tipo os mosqueteiros. O máximo.

As calças compridas para a noite também foram lançadas por Saint Laurent, e a noite não acabava sem uma passagem pelo Epi Club, em Montparnasse -onde Régine cuidava do vestiário-, e mais tarde no seu próprio night club, o Régine's. Ela morava no mesmo prédio, no 3º ou 4º andar, não me lembro, e sempre dizia: "Eu moro acima das minhas posses" -claro, sua posse era o Chez Régine's.

Dançava-se muito, as mulheres eram lindas e a moda um grande divertimento. Só divertimento, não: era também uma emoção, uma paixão e um sofrimento, às vezes.Você acredita que houve um tempo em que se entrava numa loja, se via um vestido e se pensava: "Se eu não tiver eu morro?". Pois era assim, e era ótimo.

Aí, um dia, Courrèges abriu sua boutique na Av. Montaigne. Foi -mas não me peça precisão de datas- mais ou menos na época em que foi lançado o filme "Barbarella", com Jane Fonda, que estava casada com Vadim, ex-marido de Bardot -uma história vai puxando outra.

Só sei que quando entendi Courrèges -e para essas coisas eu sou rápida-, enlouqueci, literalmente. E comprei rapidamente um vestido branco, bem espacial e curtíssimo, que usava com colã branco e sapato branco sem salto, o que era uma sensação. Foi o primeiro de uma série.

Os cabelos eram longos, ajudados por uma meia peruca, as pestanas postiças imensas, a maquiagem exagerada, sobretudo os olhos. E o blush, o santo blush. A cada coleção nova os corações disparavam, e nunca houve, em toda a história da moda, um momento como esse, em que éramos todas lindas, divinas, deslumbrantes. Foi demais ter vivido nos anos 60 -e ainda há quem pergunte porque não acho mais graça na moda.

danuza leão

Na foto, modelos com looks dos anos 60

foto reprodução
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