Folha Online Cotidiano São Paulo 448 anos
São Paulo, 448
Bovespa
Telesp Celular
Banco do Brasil
Um caso de amor

MOACYR SCLIAR
colunista da Folha de S. Paulo

Tive várias namoradas em São Paulo (espero que elas ainda lembrem, e lembrem com carinho), mas o meu caso de amor com a cidade vem de muito tempo antes.

Na verdade, da época do Quarto Centenário, quando, numa excursão do colégio, visitei pela primeira vez o que para nós era a grande cidade, a cidade de nossos sonhos. Foi uma longa viagem de trem _três dias e quatro noites!_ dormindo nos bancos de madeira, mas valeu a pena. Tudo era novidade, tudo deslumbramento.

Podem não acreditar, mas foi a primeira vez que andamos de escada rolante _uma sensação comparável à que deve ter tido o primeiro astronauta ao desembarcar na Lua. Passamos horas na escada rolante. E passamos horas no Butantã, então uma grande atração turística, e no recém-inaugurado Ibirapuera. O hino do Quarto Centenário _São Paulo, meu São Paulo, São Paulo quatrocentão_ ficou gravado em nossas cabeças; Porto Alegre é, afinal, uma cidade relativamente nova. Nunca seríamos quatrocentões.

A experiência marcou-me para sempre. Quando, mais tarde, tornei-me um adolescente rebelde e resolvi fugir de casa, para onde iria? Para São Paulo, naturalmente. Tornei-me um habitante do Bom Retiro, aprendi a comer em lanchonetes e a pedir arroz à Camões (ainda existe? O arroz com um só ovo frito, lembrando o solitário globo ocular do grande vate?). Frequentava a socialista Livraria das Bandeiras, onde, provavelmente era o único que não roubava _que que expropriava_ livros.

Adulto, comecei a vir regularmente a São Paulo, na maior parte das vezes a trabalho. Deveria já ser uma rotina, mas não é. Cada vez que desembarco em Guarulhos o jovem dentro de mim acorda, em ansiosa expectativa. E há visitas obrigatórias. O Masp. A Livraria Cultura (e a avenida Paulista). Os teatros. Alguns restaurantes. A Bienal de Arte e a Bienal do Livro. Os muitos amigos, sobretudo os editores e escritores.

Há decepções, claro. Uma vez, depois de muitos anos, resolvi ir ao Bom Retiro e descobri que o Jardim da Luz tinha sido cercado. Como um apache atacando o forte, andei ao redor um bom tempo, até descobrir a entrada. Nem sempre se sabe por onde entrar.

Entre os festejos do Quarto Centenário havia um monumental espetáculo circense, no Pacaembu, e com artistas de vários lugares do mundo, da China, inclusive. Sentado na arquibancada, a meu lado, estava um garoto de Buenos Aires. Perguntei-lhe se havia visto algo assim em sua cidade.

- Todos os domingos, respondeu, olímpico.

Não tenho esta mentirosa arrogância. Continuo olhando São Paulo boquiaberto, admirado. E com os olhos úmidos de emoção.

Moacyr Scliar é escritor, autor dos livros "A Paixão Transformada: A História da Medicina Através da Literatura", "Contos Reunidos" e "Sonhos Tropicais"

Texto originalmente publicado na Folha de S.Paulo do dia 25 de janeiro de 1997
FolhaShop
 São Paulo, 448
CD - Acústico Cassia Eller
Livro - O Universo numa casca de Noz - Stephen Hawking
Kit Promocional DVD Player D-10 Gradiente + 10 Filmes
Livro Senhor dos Anéis: Capa do Filme
Camera Digital Web Cam Clone
Reduce Fat-Fast
Barraca FIKAN Light Iglu 2 Pessoas
DVD Philips DVD703
Sorvete de rosas
Flores com livros e Cds
Creme Hidratante Nivea Visage All Day Aqua 49ml
Loção Nivea Body Milk para Pele Extra-Seca 200ml

Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).