Folha Online Brasil 100 dias de Lula
100 dias de Lula
09/04/2003

Opinião - Mudança de rota

PAULO MALUF

especial para a Folha de S.Paulo

Como disse o presidente Luis Inácio Lula da Silva, em seu pronunciamento na televisão, sobre os primeiros cem dias de seu governo, "foi amargo e necessário" o remédio dado ao país nesse período, dada às circunstâncias em que o Brasil se encontrava e se encontra.

Se o tratamento de choque aplicado tem se mostrado eficaz nesta fase em que o paciente corria perigo de vida, é preciso no entanto que progressivamente o medicamento forte vá sendo atenuado e substituído por outros, sob pena de o doente morrer por excesso de remédio.

Falar é fácil, dirão alguns, fazer é uma outra coisa.

Mas aí é que está o caminho -na criatividade- para um governo mostrar eficácia e encontrar os meios que tirem o país do círculo vicioso da política essencialmente monetarista que estamos praticando há anos.

Política que agrada ao FMI e ao chamado mercado financeiro, mas que é sedentária e viciada e trava o crescimento econômico de que tanto precisamos.

Não é por outra razão que tanto se teme que o valor do dólar continue caindo, como está, pois se isso acontecer as exportações vão diminuir e provocarão a queda no superávit de nossa balança comercial.

O presidente e seu governo, dada a popularidade inequívoca que têm, possuem também os mecanismos e as pessoas habilitadas para centrar seus objetivos, agora, em três pontos básicos: queda nos juros e da inflação, diminuir a carga fiscal (daí a enorme importância da reforma tributária) e ampliar ainda mais as exportações.

É o remédio mais adequado para o país, que neste momento, deve substituir o outro, "amargo e necessário", de que falou o presidente na televisão.

O bom antibiótico combate a febre e melhora o estado do doente, mas é necessário que o paciente pare de tomá-lo tão logo o seu estado geral melhore.

Dessas três medidas, somadas, virão os demais fatores que o Brasil precisa para crescer: geração de empregos, recursos para investimentos em programas sociais e o próprio crescimento do país.

O presidente tem consciência disso e muita vontade de acertar.

Precisa por isso usar sua indiscutível popularidade e a habilidade de seus ministros para mudar progressivamente o remédio que está aplicando no Brasil.

Pois sabe que se ater exclusivamente à política monetarista é usar o mesmo caminho que o governo anterior insistiu em utilizar para levar todos nós a paralisação em que estamos.

Paulo Maluf, 71, engenheiro, foi deputado federal (1983-86), prefeito de São Paulo (1969-71 e 1992-96) e governador do Estado (1979-82)

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