Folha Online Cotidiano Crise no transporte
Crise no transporte
23/05/2003

Saiba mais sobre a crise nos sistema de transporte em São Paulo

da Folha Online

A cidade de São Paulo sofre, há alguns anos, com o descaso no sistema de transporte público. O problema se agravou a partir do início deste ano, quando motoristas e cobradores intensificaram protestos exigindo aumento de salários e melhores condições de trabalho.

Pelo menos duas grandes greves aconteceram nos meses de fevereiro e abril. Ao menos uma centena de ônibus foi destruída. A estimativa é de que cada paralisação prejudicou cerca de 3 milhões de passageiros (o sistema transporta cerca de 3,5 milhões de pessoas todos os dias, de acordo com a SPTrans --empresa que administra o transporte coletivo na cidade).

A partir de então, a prefeitura passou a acusar o sindicato de promover locautes (movimentos de greves conduzidos pelos próprios donos de empresas de ônibus) com o intuito de pressionar a prefeitura a destinar ou aumentar subsídios.

Confira abaixo a cronologia do caso:

3/FEV - Suposto locaute pára a cidade de São Paulo e prejudica cerca de 3,1 milhões de usuários de ônibus. Terminais são fechados.

6/FEV - A Folha revela que Edivaldo Gomes de Oliveira, conhecido como Dentinho, diretor de garagem do sindicato dos motoristas, era acusado de receber R$ 5.600 mensais da viação de ônibus Santa Bárbara, valor incompatível com as funções que exercia.

5/ABR - Prefeitura descredencia nove empresas de ônibus: cinco garagens que estavam sob intervenção (Expresso América do Sul, Parelheiros, Santa Bárbara, Cidade Tiradentes e São Judas) e duas que estavam sob auditoria (Serra Negra e Marazul). A prefeitura também impediu a circulação da Viação América do Sul, que não participava da concorrência, e da Solution Bus, que não foi habilitada.

7/ABR - Mais um suposto locaute pára a cidade e prejudica cerca de 3,5 milhões de passageiros de ônibus.

12/ABR - A TV Globo informa que três diretores do sindicato receberam R$ 3.000 da viação Cidade Tiradentes, como "ajuda de custo". São eles: José Domingos da Silva (Dominguinhos), Antonio Ferreira Mendes (Toninho) e José Otávio de Albuquerque (Xerife).

15/ABR - A prefeitura envia cópia de documentos à Polícia Federal com indícios de envolvimento de empresários de ônibus com representantes do sindicato.

5/MAI - A Folha revela que dois diretores do sindicato, Dentinho e Francisco Chavier da Silva Filho (Chiquinho), tinham bens que não condiziam com a renda deles. Dentinho, por exemplo, colocou à venda uma casa em Itu por R$ 380 mil. Na mesma semana, promotores conseguiram a quebra de sigilo bancário de diretores do sindicato.

12/MAI - Em entrevista à TV Globo, um ex-diretor do sindicato, Marco Antonio Coutinho Silva, diz haver um esquema em que empresários pagam até R$ 1 milhão a sindicalistas para a realização de greves.

13/MAI - A Folha revela que um diretor do sindicato, Paulo Cesar Barbosa (Paulão) é acusado de mandar matar Marco Antonio Coutinho da Silva, que foi alvo de tiros, mas sobreviveu.

A força-tarefa responsável pela investigação dos sindicalistas também apura a ligação do sindicato com morte de oito sindicalistas.

17/MAI - Entra em vigor a primeira fase do novo sistema de transporte na cidade, com alterações em linhas de ônibus e lotações.

19/MAI - Com mandado de prisão temporária emitido pela Justiça contra 17 integrantes do sindicato dos motoristas e cobradores, a Polícia Federal prende o presidente da entidade, Edivaldo Santiago, e outros sindicalistas.

Eles são acusados, entre outros crimes, de receber propina de empresários para incentivar a categoria a fazer paralisações. As greves seriam um meio de pressionar a prefeitura a conceder subsídios ou aumentar a tarifa do transporte.

A polícia mostra um cartão de Natal e uma carta enviada por Severino Teotônio do Nascimento, o Titonho (preso sob acusação de assassinar o presidente do sindicato dos motoristas de Guarulhos), a Edivaldo Santiago, presidente do sindicado dos motoristas. Na carta, Titonho afirma que gostaria de ter passado as festas na casa de Santiago, mas que não conseguiria.

21/MAI - Mais um membro do sindicato dos motoristas e cobradores de São Paulo, Paulo Cesar Barbosa, se entrega na sede da Polícia Federal.

22/MAI - O sindicalista José Domingos da Silva, o Dominguinhos, se apresenta à polícia. A Polícia Federal anuncia que fará uma devassa em empresas de ônibus de São Paulo que estariam em nome de "laranjas". Depoimentos de ex-sindicalistas e denúncias de trabalhadores de viações que operam na cidade já envolvem seis delas no esquema, que visaria proteger os verdadeiros proprietários de dívidas e ações criminais.

23/MAI - José Valdevan de Jesus, o Noventa, o último sindicalista dos 17 acusados, se entrega à Polícia Federal.

Justiça de Guarulhos (Grande São Paulo) decreta a prisão temporária de 30 dias de Edivaldo Santiago, presidente do sindicato dos motoristas de São Paulo, acusado de envolvimento no assassinato, há dois anos, do presidente do sindicato dos motoristas de Guarulhos, Maurício Alves Cordeiro.

A Justiça federal prorroga por mais cinco dias a prisão temporária dos envolvidos e determina a quebra do sigilo bancário de 13 dos acusados. A Justiça já havia determinado a quebra do sigilo bancário de três deles. Segundo a Justiça Federal, o Ministério Público não pediu a quebra do sigilo de apenas um dos acusados: Renato Souza Oliveira.

28/MAI - A Prefeitura de São Paulo desclassifica as propostas comerciais de todos os consórcios que disputavam as oito áreas da licitação do futuro sistema de ônibus da capital paulista.

29/MAI - O diretor sindical Ariacir de Oliveira da Silva, o Tim Maia, se entrega, por volta das 17h40, na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal descobrem uma lista de propina na sala do diretor de esportes, Jorge Luiz de Jesus, o Febem, um dos 18 sindicalistas presos, onde consta o nome de mais sindicalistas (Zoinho, Osório, Cabo Bruno, Cidão, Mirandinha e Zezão).

2/JUN - Laudo elaborado pela Polícia Federal em Foz do Iguaçu (PR) promotor Silvio Marques, da Promotoria de Justiça da Cidadania de São Paulo, afirma que duas empresas de ônibus do empresário Baltazar José de Sousa (Viação Januária Ltda. e Viação Campo Limpo Ltda.) enviaram US$ 12 milhões (cerca de R$ 36 milhões) ao exterior, entre 1996 e 1997. O grupo de viações pertencentes a Sousa, que já chegou a ter 61 empresas de ônibus espalhadas pelo país, deve R$ 259.501.437 ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

4/JUN - O presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Transportes de Cargas de São Paulo, José Carlos de Sena, deixa o Hospital do Coração e vai para a prisão. Ele teve a prisão decretada por ser acusado do assassinato de Maurício Alves Cordeiro, ex-presidente do sindicato dos motoristas de Guarulhos, há mais de um ano.

6/JUN - São Paulo tem a primeira paralisação de uma empresa de ônibus após as denúncias de corrupção que resultaram na prisão de sindicalistas. A viação Capital, que opera na zona leste, ficou parada durante parte da manhã. Os funcionários reivindicavam os salários atrasados.

10/JUN - A Justiça decretou a prisão preventiva do ex-sindicalista Marcos Antônio Coutinho da Silva, autor das denúncias de corrupção e assassinatos envolvendo a diretoria no sindicato dos motoristas e cobradores de São Paulo e que acabou na prisão de 18 sindicalistas. Ele era secretário de saúde do sindicato até o ano passado e é acusado de ter assassinado o motorista de ônibus José Leidson.

19/JUN - A prefeita Marta Suplicy (PT) decide reservar R$ 119 milhões dos cofres municipais para subsidiar as empresas de ônibus e lotações até dezembro deste ano. A medida, que retoma a política de subvenções interrompida em 2001 e criticada pela atual administração petista, visa remunerar os operadores pelo transporte gratuito de idosos em São Paulo.

26/JUN - O juiz da 3ª Vara Federal de São Paulo, Toru Yamamoto, revoga a prisão preventiva de oito membros do sindicato presos na PF. São eles: Luiz Carlos Antônio, José Simeão de Lima Filho, Jorge Luiz de Jesus, Geraldo Diniz da Costa, Edvaldo Lima da Silva, José Otaviano de Albuquerque, Francisco Xavier da Silva Filho e Isao Hosogi.

A decisão do juiz de libertar os sindicalistas foi tomada pelo fato deles terem endereço fixo e terem renda compatível com seus bens. Não foram beneficiados os sindicalistas acusados por homicídio.

27/JUN - A Polícia Federal liberta sete sindicalistas após o juiz Toru Yamamoto revogar suas prisões. Um oitavo sindicalista que foi beneficiado pela decisão de Yamamoto permaneceu preso enquanto a PF analizava se contra ele havia mais algum mandado de prisão.


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