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DNA
07/03/2003

A hélice do milênio

da Folha de S.Paulo

Reprodução/NYAS
"Design 26: Spinal Column Dress", obra de Helen e Kate Storey, retrata o impacto do DNA na cultura atual
O destino está nos genes e o DNA é sua escritura. Assim se poderia descrever a estatura imaginária assumida pela molécula em formato de dupla hélice 50 anos depois de descoberta sua estrutura pelo americano James Watson e pelo britânico Francis Crick, com base na imagem de raios X obtida pela também britânica Rosalind Franklin.

Mais do que construir um modelo elegante que se revelaria correto em quase todos os detalhes, Watson e Crick puseram em cena a 7 de março de 1953 um estilo de pesquisa que ficaria conhecido como biologia molecular e atingiria sua apoteose no Projeto Genoma Humano.

Com esse estilo de compreensão da vida estreou também o de sua modificação, batizado como engenharia genética. Em meio século de pesquisa, cuja história é o tema deste especial, a biotecnologia foi capaz de avanços como a produção em bactérias de proteínas humanas (como insulina), reduzindo efeitos colaterais para doentes de carne e osso.

O sucesso experimental e econômico da genética suscita, por outro lado, manifestações de desconforto. Um dos alvos é a própria genômica, que dominou a pesquisa biológica na última década. Até um protagonista da revolução molecular como Sydney Brenner _uma das três entrevistas do caderno com nobelistas, ao lado de Maurice Wilkins e Marshall Nirenberg_ vê com reservas tanta ênfase no sequenciamento.

A compreensão material da vida ainda vai trazer muitas revelações para o homem, defende artigo do cientista brasileiro Fernando Reinach, um dos mentores do sequenciamento da bactéria Xylella fastidiosa, em 2000. Para além de seu sucesso material, a biologia molecular criou ainda um signo perturbador para a própria auto-imagem do homem. Na medida em que se associou com a informática e traduziu genes em bits, a biotecnologia iniciou uma era de apropriação do cerne da matéria viva e do humano que gera certo mal-estar e ao mesmo tempo abre novas perspectivas para pensar a fronteira entre natureza e cultura _uma reflexão proposta nos textos de Laymert Garcia dos Santos e Alberto Tassinari que fecham a edição.

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