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Escolas colégios 30/09/2003

Crise na ponta do lápis

MARIANA SGARIONI E VERÔNICA FRAIDENRAICH

Para a maioria dos pais, "educação" é um dos últimos itens a sofrer corte no orçamento familiar.

Indagados sobre o que fariam diante de uma crise financeira, 78% disseram que tentariam manter seus filhos na escola onde estão, reduzindo outros gastos.

Apesar da prioridade ao ensino, dados sobre matrículas mostram que a classe média não está conseguindo preservar seus filhos nas instituições particulares. Pesquisa do Instituto Ipsos Brasil, divulgada em agosto passado, apontou uma queda de 23,3% para 21,9% na porcentagem de alunos da rede particular na faixa etária de 15 a 17 anos. O levantamento foi feito com 15.260 jovens de nove centros urbanos, incluindo a Grande São Paulo, de 2001 a março de 2003. Na rede pública, o número de estudantes aumentou de 64,4% para 66,3% nessa mesma faixa etária.

A inadimplência é outro indicador da dificuldade de manter os filhos na rede privada: no primeiro semestre deste ano, este nível ficou em 11% em todo o Estado de São Paulo. No mesmo período do ano passado, era de 7%, segundo dados do Sieeesp.

Diversidade social

A migração para a rede pública tem duas consequências imediatas: 1) torna as escolas privadas cada vez mais reduto da elite (92% de classes A e B, segundo levantamento do Datafolha); 2) leva uma parte da classe média para a escola pública, o que pode motivar uma melhoria no nível de ensino fornecido pelo Estado.

Para amenizar os efeitos do primeiro impacto -elitização ainda maior das particulares- muitos colégios têm redobrado os esforços nas atividades que buscam mostrar um pouco da diversidade social do Brasil: promovem discussões em sala de aula, incentivam o trabalho solidário, estudos de campo etc. "Imagine se um desses alunos vira um ministro da Fazenda que só conhece menino de rua pelos sinais de trânsito", questiona José Marcelino, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão ligado ao Ministério da Educação.

Dificuldade de senso prático, preconceito, problemas em se movimentar sozinho pela cidade, repertório limitado são apenas alguns dos problemas levantados por educadores que os alunos "de redoma" podem enfrentar no futuro. Sem contar no mercado de trabalho, que exige flexibização do profissional. "A sociedade não quer mais só um engenheiro. Ela espera que esse engenheiro saiba fazer e conviver com várias situações que fogem dos livros", alerta Raquel Caruso Whitaker, psicopedagoga do CAD (Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento).

"Mundo real"

Incomodada com a falta de contato com "o mundo real brasileiro", a estudante Mariana Goldmann, 17, tomou uma atitude inusitada: decidiu, no ano passado, mudar para uma escola mais barata. "Todos os meus colegas, inclusive eu, estávamos sendo criados para uma vida que não existe. É uma geração protegida da casualidade", diz Mariana, hoje aluna do 2º ano do colégio Santa Inês, que tem uma frequência mais heterogênea. "É a primeira vez que estudo com um negro e um nordestino na mesma sala. Aprendo muito com eles", afirma Mariana.

Sua mãe, que é professora, apoiou a decisão. "A Mariana está mais comprometida e mais atenta aos estudos", diz Marina Goldmann.

Mas, na maioria das vezes, a mudança de escola não é tranquila. Quem migra para uma escola mais barata ou pública, em geral, o faz contra a sua vontade. E ainda tem o desafio de ser aceito pelo grupo novo, bem diferente do anterior.

Além disso, muitos jovens vêem a mudança como perda de status. "Se o seu filho tem de sair da escola, você também não pode continuar com o carro importado. Assim, para ele, ficará mais fácil compreender o que está acontecendo", diz a psicopedagoga Leda Barone.

Um exemplo de transição bem-sucedida foi o do estudante Caio Pereira da Rocha, 16. No início de 2000, sua mãe perdeu o emprego e não tinha mais como pagar a mensalidade da escola onde ele sempre estudou. A única opção foi passar o menino para a escola estadual Calhim Manuel Abud, considerada modelo na rede pública e que fica próxima de onde moram, na Vila Friburgo, na zona sul. Dércia Maria Pereira da Rocha, que hoje trabalha como vendedora, disse que ficou muito chateada e preocupada. "Não sabia quem seriam seus amigos, como era o ensino e até se a escola era limpa", diz Dércia, refletindo o medo que a classe média tem do ensino público (13% dos pais mudariam seus filhos para um colégio particular mais barato contra 9% que optariam pelo ensino público).

A experiência com Caio mostrou que os temores não tinham fundamento. "A escola não fica nada a dever para a particular", diz a mãe. Caio concorda: "Prefiro mil vezes a estadual. Lá fiz amigos e não tem tanto playboy que pensa que pode fazer o que quiser e comprar o mundo."

Na escola estadual Ennio Voss, no Brooklin, a enxurrada de alunos provenientes da rede particular criou uma espécie de "apartheid". "Eles não se misturavam, o que favorecia a formação de gangues: algo como 'ricos x pobres'", conta a diretora Cleuza Silva Pulice.

A solução foi criar o "Dia do Convívio", onde todos fazem atividades fora da sala ligadas ao respeito às diferenças. Nas brincadeiras, os alunos são estimulados a falar o que pensam. O trabalho deu tão certo que hoje os pais e alunos de classe média fazem questão de ajudar os mais carentes com uniformes e material escolar.

Outro efeito da migração da classe média sentida na Ennio Voss foi um movimento de resgate da qualidade de ensino. Com uma APM (Associação de Pais e Mestres) forte, que arrecada dinheiro com festas, bingos, rifas, bazares, a escola foi reformada e hoje é considerada uma opção (e não uma falta dela) aos moradores da região. "Ao se juntar por uma escola melhor, a população está responsabilizando o Estado pela educação, o que é o resgate de um valor primordial", afirma Leda Barone.

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