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27/01/2003

Turbulência ainda traz risco aos investidores em 2003

Crise externa gera expectativa; conheça os melhores fundos de 2002

MILTON GAMEZ
Free-lance para a Folha de S.Paulo

Enquanto fecha o cerco ao Iraque, a máquina de guerra do presidente George W. Bush já está afetando o bolso dos brasileiros. O dólar subiu 7,4% na semana passada ante o real, para a R$ 3,63, e inverteu a queda deste início de ano. A Bolsa caiu mais de 7% e devolveu os ganhos das primeiras semanas de 2003.

O cenário externo desfavorável, com impactos imprevisíveis sobre a economia mundial, reduz as chances de redução mais rápida dos juros por parte do governo. Por esses e outros motivos, com a inflação ainda elevada, o Banco Central aumentou a taxa básica de juros para 25,5% anuais.

O ano mal começou, mas tudo indica que o cenário para os investimentos financeiros não será dos mais tranquilos. "Há riscos tremendos lá fora. No Brasil, o governo acabou de começar e tem muitos desafios pela frente", diz Walter Brasil Mundell, vice-presidente do Grupo Sul América.

Ainda assim, a maioria dos gestores de fundos de investimento aposta que este será um ano menos conturbado que 2002. A instabilidade eleitoral ficou para trás e a nova equipe econômica está praticando uma gestão monetária conservadora.

Juros altos favorecem aplicações de renda fixa e prejudicam as ações. E o dólar? A melhora na balança comercial _prevê-se no mercado financeiro um superávit em torno de US$ 15,5 bilhões até dezembro_ ajuda a segurar as cotações. Na média, segundo o Banco Central, os bancos apostavam em meados de janeiro que o dólar fecharia o ano em R$ 3,60. Se esse otimismo se confirmar, as aplicações cambiais deixarão de ser a alternativa mais rentável, como foram nos últimos três anos.

Desde 2000, os fundos cambiais lideram o Guia de Fundos do Labfin (Laboratório de Finanças) do departamento de Economia e Administração da USP (Universidade de São Paulo). Em 2002, o dólar comercial subiu 52,3% ante o real, enquanto o euro valorizou-se 80,7%. Com isso, os fundos cambiais foram a alternativa mais rentável dentre as categorias avaliadas para a Folha pelo Labfin, com retorno de 60,83%, em média.

A segunda categoria mais rentável foi a dos fundos livres, com valorização média de 16,1%. A alta dos juros ao longo do ano _a taxa Selic saiu de 19% em janeiro e chegou a 25% em dezembro_ favoreceu os fundos de renda fixa. Em média, essa categoria rendeu 15,74%, e a DI, 15,72%. O pior desempenho foi o dos fundos de ações, com desvalorização de 11,12%, em média.

Os fundos cambiais, os livres, os de renda fixa e os DI superaram a inflação de 9,92%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe. Mas, na média, somente os fundos cambiais bateram os 25,3% do IGP-M, que mede também os preços de atacado e foi muito pressionado pela desvalorização do real.

Cautela em 2003
Para os investimentos em 2003, os gestores de recursos recomendam cautela com os fundos cambiais. A maioria aconselha essas aplicações somente aos clientes que têm ou terão compromissos em moeda estrangeira. "Os fundos cambiais serão um mau negócio para quem não precisa de dólares", afirma Carlos Gomes, superintendente do Banco AGF.

As aplicações em renda fixa deverão ser uma alternativa mais interessante neste ano, imaginam os gestores. As taxas de juro devem cair pouco, pois o BC terá de combater uma inflação de dois dígitos. Antes da alta dos juros básicos na semana passada, os bancos previam que a taxa chegaria a 20% em dezembro, segundo pesquisa do BC. A inflação seria de 10% (IPC-Fipe) e 14,97% (IGP-M).

Mas prepare-se para momentos de alta volatilidade. Questões decisivas para a economia brasileira, como a reforma da Previdência, serão definidas neste início de governo. "A reforma da Previdência é crucial para ajustar as contas públicas no longo prazo e permitir a queda dos juros e a retomada do crescimento", diz Fábio Alperowitch, da Fama Investimentos.

A reforma tributária também será acompanhada com lupa. Ela irá afetar a competitividade das empresas, com impacto na geração de empregos, na balança comercial e no controle da inflação.

Até agora, o mercado gostou do que viu e ouviu em Brasília. "O governo Lula não só confirmou como excedeu o discurso de austeridade e responsabilidade fiscal", avalia Marco Sudano, diretor do Unibanco Asset Management.

Infelizmente, a possibilidade cada vez maior de guerra no Oriente Médio pressionou os mercados brasileiros. O melhor a fazer, em cenários como esse, é um só: "Diversificar os investimentos é sempre recomendável", diz Robert John von Djik, superintendente da Bradesco Asset Management.

Colaboraram Suzana Barelli e Silvana Mautone, free-lance para a Folha

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