Folha Online Dinheiro Folha Invest
Folha Invest
27/01/2003

Cambiais: Duplamente beneficiado, euro dispara

Moeda européia se valoriza frente ao dólar e dá maior retorno ao investidor; fundos são tricampeões em rentabilidade

SILVANA MAUTONE
Free-lance para a Folha de S.Paulo

Com o dólar batendo recorde atrás de recorde no decorrer de 2002, os fundos cambiais foram os mais rentáveis do ano, com retorno médio de 60,83%. Mas a variação entre eles foi grande. Entre os que apresentaram as dez maiores rentabilidades, o ganho ficou entre 64,44% e 97,91%. Em 2001, os cambiais também haviam sido os mais rentáveis, com uma média de 24,86%. Em 2000, alcançaram o topo com 15,72%.

Entre todos os fundos referenciados em câmbio, o que apresentou a maior rentabilidade foi o Bradesco Deutsche Euro FIF, rebatizado de BD Euro FIF. Diferentemente dos demais, esse fundo, que obteve ganho de 97,91%, não é referenciado em dólar, mas, sim, em euro, o que surpreendeu os investidores habituados a investir apenas em fundos atrelados à moeda norte-americana.

O fato é que o fundo se beneficiou quando o real se desvalorizou frente ao dólar e quando a moeda americana perdeu valor frente ao euro _em 2002, ele subiu 17,2% em relação ao dólar.

Segundo Luiz Roberto Zaratin Soares, diretor de renda fixa da Bradesco Asset Management, ainda são poucos os investidores pessoa física que se interessam por fundos atrelados ao euro. "A maior procura por esse investimento no ano passado foi por parte de empresas que tinham dívidas atreladas à moeda", diz.

Os fundos cambiais não dependem apenas da variação do euro ou do dólar. Eles também fazem aplicações em ativos que pagam, além da variação cambial, uma taxa de juros. E essa taxa variou muito. No começo de 2002, estava abaixo de 10% ao ano, mas chegou a superar os 50%. Isso fez com que papéis emitidos com taxas menores fossem desvalorizados no ajuste diário de seus preços, puxando o rendimento do fundo para baixo, mesmo em momentos de alta do dólar.

Como a volatilidade do mercado foi contínua, no geral, os fundos cujos gestores foram mais ágeis obtiveram melhores resultados. Outro ponto em comum entre os mais rentáveis foi a composição da carteira, recheada com papéis de curto prazo. Isso porque, ao atualizar diariamente o valor desses títulos, os que tinham vencimento mais longo foram os que mais perderam valor em razão do cenário de incerteza do ano passado.

Prazos diferentes
Isso explica como fundos cambiais de uma mesma instituição, na mão dos mesmos gestores, obtiveram rentabilidades muito diferentes. É o caso, por exemplo, do Itaú. Um dos seus fundos cambiais, o Itaú-Matrix US Hedge, apresentou o melhor desempenho na faixa de aplicação inicial de até R$ 5 mil, com ganho de 85,71%. Já outro fundo da mesma categoria, o Itaú Cambial, rendeu 52,45% no mesmo período.

"O objetivo do Matrix é obter uma rentabilidade muito parecida com a do dólar. Por isso, sempre trabalhamos com operações de prazo curto, de no máximo 30 dias. No ano passado, essa política acabou nos beneficiando", explica Mauro Morelli, superintendente de fundos derivativos do Itaú.

Já Itaú Cambial investe em operações um pouco mais arriscadas, com prazo mais longo, que pode variar entre um e dois anos.

Glauco Cavalcante, gestor do Credit Suisse First Boston, diz que a opção por trabalhar com papéis com prazo de vencimento curto foi fundamental para o fundo CSAM Cambial, que em 2002 rendeu 80,48%. O prazo médio da carteira foi de 30 dias.

Outro fundo que tem como característica fazer operações de curto prazo é o FIF Boston Cambial. Segundo Mônica Dresbach, diretora-adjunta de Renda Fixa da BankBoston Asset Management, a política desse fundo é manter o prazo médio do vencimento das operações em 21 dias úteis. "Isso não significa que tivemos uma atuação passiva”, diz ela. “Em algumas ocasiões deixamos até mesmo de vender alguns papéis esperando o melhor momento para agir."

Para 2003, o mercado espera um ano com oscilações, mas de intensidade menor do que em 2002, ano considerado atípico. Os fundos cambiais têm sido recomendados somente aos investidores que têm ou terão compromissos em moeda forte.

Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).