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27/01/2003

Renda fixa: Susto sacode aplicação e afeta rendimento

Exigência do Banco Central pega bancos e investidores de surpresa; rentabilidade média fica em 15,74%

SILVANA MAUTONE
Free-lance para a Folha de S.Paulo

No ano passado, muitos investidores de perfil mais conservador, acostumados a deixar seu dinheiro em operações de renda fixa consideradas de baixo risco, tomaram um susto: em maio, viram as cotas dos seus fundos serem puxadas para baixo. O reflexo também se estendeu aos fundos DI, os de menor risco do mercado.

O baque ocorreu porque muitos fundos não estavam atualizando diariamente o valor dos títulos públicos prefixados e pós-fixados que tinham na carteira. Com economia brasileira imersa em um cenário de pontuado de incertezas, as taxas de juros dos títulos públicos prefixados acabaram subindo muito.

Isso fez com que os papéis emitidos há mais tempo, com taxas mais baixas, acabassem sendo desvalorizados naquele momento. Quanto mais distante o prazo de vencimento dos papéis, maior era a desvalorização.

Em razão disso, o valor dos papéis públicos pós-fixados também passou a ser desvalorizado pelo mercado. Como muitos fundos não estavam atualizando isso diariamente, o Banco Central exigiu que isso fosse feito. A consequência imediata da medida foi perda de rentabilidade. Os papéis de instituições privadas continuaram fora dessa exigência.

Títulos privados
Em 2002, a rentabilidade média dos fundos de renda fixa foi de 15,74%. Ficou abaixo do IRFM (Índice de Renda Fixa de Mercado), que mede a variação dos títulos prefixados do governo, que estacionou em 20,05%. Entre os que foram os mais rentáveis, porém, a alta girou entre 18% e 20%.

O BNP Paribas High Yield II FIF (rebatizado de BNP Paribas II FIF) foi um dos que obteve as maiores altas, chegando a render 20,58%. O diferencial desse fundo em relação aos seus similares do mercado é que ele tem 80% da sua carteira em títulos prefixados privados. Eles alcançam na média uma rentabilidade mais elevada do que os públicos, já que o risco desses papéis não serem honrados é maior.

Segundo Gilberto Kfoury, diretor da BNP Paribas Asset Management, as operações do fundo são compromissadas. "Emprestamos para instituições privadas, mas elas nos oferecem como garantia títulos públicos", explica.

Outro fundo que se destacou, o Tática Over, da Tática Asset Management, é um FAQ, ou seja, um fundo que investe em outros fundos. Ele rendeu 20,37%. Segundo o diretor Dany Rappaport, a política é manter 50% da sua carteira em ativos muito conservadores, como papéis pós-fixados, e de prazo de vencimento curto. Os outros 50% são destinados a operações mais arriscadas.

A Pactual Asset Management teve três fundos de renda fixa entre os dez mais rentáveis na faixa com aplicação mínima entre R$ 20 mil e R$ 100 mil. O FIF Pactual Capital Markets aplica entre 10% e 20% da sua carteira em papéis privados de cinco ou seis emissores. "O perfil é efetivamente mais conservador", diz Rodrigo Xavier, da Pactual.

O FIF Pactual High Yield, que tem a gestão mais ativa dos três, também pode manter, dependendo do momento, uma parcela do patrimônio em papéis privados. Além disso, aplica em câmbio e em papéis da dívida, além de títulos prefixados.

Outro fundo que se destacou, o Pactual Fix, é referenciado ao IRFM. Por isso, mantém 100% da sua carteira em títulos públicos prefixados.

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