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27/01/2003

Fundos: DI buscam mais ganho em título privado

Gestores assumem risco e incluem papéis de empresas em suas carteiras, que oferecem rentabilidade superior à dos públicos

SILVANA MAUTONE
Free-lance para a Folha de S.Paulo

Ainda que carreguem a fama de mais conservadores do mercado, os fundos não deixaram de dar um susto nos investidores no ano passado. Em maio, as cotas de alguns chegaram a sofrer desvalorização por conta das mudanças nas regras de contabilização dos papéis comprados pelos gestores. Em junho, o saldo entre saques e depósitos nos fundos DI foi negativo em quase R$ 9 bilhões.

Por norma do Banco Central, os fundos DI são obrigados a ter pelo menos 95% da sua carteira atrelada ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que acompanha a taxa de juros Selic. Como essas são posições pós-fixadas, quando o governo eleva a taxa de juros, o fundo ganha, mas quando a taxa cai, o fundo rende menos do que as operações prefixadas.

Ao longo de 2002, a Selic manteve movimentos opostos. Na primeira metade do ano, ela passou por uma tendência de queda. Começou 2002 em 19% e em julho chegou a 18%. Em outubro, porém, pressionado pela escalada do dólar e pela retomada da inflação, o BC voltou a elevar a taxa, que encerrou o ano em 25% _e agora foi reajustada para 25,5%.

Além da Selic, outro fator que afetou o desempenho desses fundos foi a questão da "marcação a mercado", essa sim a causadora da queda da rentabilidade desses fundos em maio (leia acima).

"Com a incerteza em relação à campanha eleitoral, os títulos públicos com prazo de vencimento após as eleições foram desvalorizados pelo mercado", explica o consultor Alexandre Póvoa.

Nova receita
No encerramento do ano, porém, os fundos DI, na média, obtiveram ganhos de 15,72%. Algumas estratégias, porém, fizeram com que os fundos mais rentáveis conseguissem uma valorização de até quatro pontos percentuais acima da média.

Uma das mais adotadas foi a inclusão de títulos privados na carteira. Eles oferecem uma rentabilidade superior à dos títulos públicos, por terem um risco maior. O mercado trabalha com a premissa de que o risco de uma empresa não honrar sua dívida é maior do que o risco de o governo fazer o mesmo.

O campeão na faixa até R$ 20 mil foi o Prosper Institucional DI FIF, que rendeu 19,72%. Parte da carteira foi aplicada em papéis privados. Segundo Fernando Netto, gestor dos fundos DI do Banco Prosper, outra estratégia que trouxe benefício para o fundo em 2002 foi a compra apenas de papéis cujo vencimento fosse ainda no governo FHC. "Buscamos evitar o deságio causado pelo risco de moratória", diz. Risco, por sinal, dissipado nos primeiros dias do governo Lula.

O fundo BMC Renda Fixa DI FIF, que obteve a maior rentabilidade entre os que exigem aplicação mínima até R$ 5 mil, também investe em papéis privados. Ele rendeu 19,31%. De acordo com Norival Wedekin, executivo da BMC Asset Management, cerca de 40% do patrimônio é aplicado nesse tipo de papéis.

"Fazemos operações de curto prazo, no máximo 30 dias, e apenas compramos papéis classificados como de baixo risco de crédito."


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