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18/02/2003
História: Alma da China sempre foi intelectualizada
da Folha Online
Aberta ao mar Amarelo e ao mar da China por uma costa imensa, a civilização chinesa apresenta um caráter continental. Separada do resto da Ásia pelo planalto do Tibete, desenvolveu-se em direção ao interior pela necessidade de se defender contra os povos nômades da zona das estepes, que ao norte a invadiam através da Mongólia.
A China se comunica com o Ocidente através dos oasis do Turquestão, incrustada entre dois mundos por onde passava a "rota da seda". Penetrando pelos passos de Kashgar, no Afeganistão, a rota desemboca nas portas da China em Tuen-huang.
A contenção dos nômades nas fronteiras do norte e a possessão da marca ocidental do Turquestão foram uma constante preocupação dos imperadores.
A China, território agrícola muito fértil, está inteiramente constituída por planícies de aluvião produzidas por três grandes rios: de Norte ao Sul o Huang-ho (rio amarelo), o Yang-tse (rio azul) e o Si-kiang.
Este imenso território, às vezes unificado por uma mesma autoridade, dividido em outras ocasiões em diversos Estados, possui uma grande unidade de raça e de religião, sancionada por uma língua e escrita comuns.
No momento em que uma dinastia busca unificar a China sob um mesmo império, a situação de submissão aos bárbaros a obriga a seguir uma política de expansão; mas, as invasões nômades que ocorreram com freqüência, por vezes desestruturaram este império.
Dinastias autóctones ocorreram em algumas províncias ao Sul, enquanto os bárbaros rapidamente assimilados, fundaram um novo Estado sedentário, com possíveis ligações para com a reconstituição da unidade da China. Esse perpétuo estado de alerta foi favorável para a civilização chinesa, pois serviu para combater a tendência à inércia manifestada pela sua filosofia tradicionalista, fazendo com que mantivesse ligações para com novas forças rejuvenecedoras que a mantinham em contato com o interior. A zona de expansão da civilização chinesa é situada por via marítima, até o Japão e, por via continental, até a Birmânia, Indochina e Insulíndia, de onde virá a tomar contato com a civilização hindu.
A religião chinesa se fundamenta essencialmente sobre a crença em um acordo mágico entre a ordem humana e a ordem universal; este acordo é mantido por um ritual que o imperador, supremo chefe de Estado, ordena. Como prolongamento racional de um estado muito antigo de crenças, esta religião, que não venera deuses personificados, submete o homem a forças cósmicas administradas pelo Céu, soberano do alto; e este tem por mandatário o imperador, soberano da terra. O culto aos antepassados contribui para a manutenção da harmonia universal, convertendo suas almas em forças propícias.
A moral desta religião prática, que é uma moral cívica, foi formulada no século VI pelo filósofo Confúcio, quem inspirará todas as teorias estatais dos letrados posteriores; engendrará um humanismo filosófico que é o princípio da civilização chinesa. Sem dúvida, a alma chinesa se viu solicitada por doutrinas místicas que desenvolveram seus instintos espiritualistas. O taoísmo, cuja fundação se atribui a Lao-Tsé, que viveu no século VI a.C., conduz a alma à renúncia do sensível para encontrar, no seu âmago, o princípio da sua essência pura, em concordância com o princípio de ordem universal: o Tão.
Essa mística, que teve grande influência na pintura, era praticada por monges. O budismo, introduzido na China sob a dinastia Han, durante o século I da nossa era, se estabeleceu na China quando foi oficializado como religião pela dinastia tártara dos Wei, no século V, sob a forma mística do Grande Veículo.
À alma da China, demasiado intelectualizada, o budismo contrapôs uma religião de amor, embasada na confiança na misericórdia dos bodhisatvas: Maitréia, Senhor da Luz infinita, dono do Paraíso, e Avalokitesvara, que na China se converteu na deusa Kuan-yin, a infinitamente misericordiosa.
A seita chamada da contemplação (dhyana, em sânscrito; tzhan, em chinês), convergindo com o taoísmo, se entregou à busca por via intuitiva, da essência do budismo no fundo do coração humano. Por caminhos diversos, o pensamento chinês tende sempre a uma espécie de monismo, a uma crença na unidade de todos os seres e todas as coisas na essência universal, não considerando as diferenças e as individualidades senão como aparências, ilusões dos nossos sentidos.
Este intelectualismo, seguido por um extremo refinamento das sensações, conduz os chineses a buscar, nas obras de arte, mais do que nenhum outro povo, a pureza das formas; uma fruição artística ideal, para um chinês, consiste em manipular um objeto de jade, cuja forma extremamente simples e de textura delicada, juntamente com o seu significado mágico, possibilite procurar para a alma uma espécie de êxtase que a afaste do mundo das aparências.
Fonte: BrasilConnects
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