Folha de S.Paulo Moda
*número seis *sexta-feira, vinte e sete de junho de dois mil e três
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vintage

a nova onda nos 80
fernanda abreu relembra o punk, o pop e a new wave na blitz

O ano era 1981. Eu tinha 19 anos. Estudava arquitetura e sociologia, era bailarina da companhia de balé clássico de Tatiana Leskova, cantava na banda de Leo Jaime e fazia dança contemporânea. No final do ano fiz meu primeiro show com a Blitz. A banda foi um marco. Chegou arrebentando com suas músicas, seu comportamento -e com seu visual.

Justiça seja feita agora na hora de lembrar essa moda. A estética "quadrinhos" da Blitz, capas, cenários, os efeitos especiais dos shows e o figurino eram criados e produzidos em conjunto com a Bela Arte (estúdio de design de Luiz Stein e Gringo Cardia, sócios na época). Patricia Travassos e Chacal (poeta) também faziam parte desse grupo que "pensava" a Blitz.

A Blitz reinaugurou o Pop Brasileiro nos anos 80, mas a estética new wave era mais forte no visual da banda do que na música. Nunca fui muito sintonizada com a new wave: aquelas bandas não me diziam grande coisa. Sempre fui apaixonada por black music e Disco.

Estamos então em 1982. No Rio, a cultura efervescia. O Circo Voador em plena praia do Arpoador era o celeiro dessa geração. Meu visual na época causou sensação. Sempre gostei muito de moda. Na minha festa de dez anos (em 71) pedi pra minha mãe de presente umas roupas da Bibba e da Anik Bobó no estilo black/anos 70. Cortei meu cabelo curtíssimo e usava espetado antes mesmo de integrar a Blitz. Acabou caindo como uma luva pra complementar o visual da banda. O corte na verdade era mais inspirado no movimento punk do que na onda new wave, mas tudo bem.

Eu usava roupas inacreditavelmente coloridas. Até 85 eu não tinha uma calça jeans básica no armário! A moda eram tecidos tipo stretch (o início do boom dessa tecnologia) com estampas de todo o tipo: padrões de animais, listras, geométricos. Sem falar nos acessórios de plástico. E muitos óculos escuros. O ápice foi a sobreposição disso tudo, resultando nas combinações mais incríveis. Uma loucura! Mas eu adorava.

Fizemos uma parceria de sucesso com Simão Azulay, dono da Yes Brasil, que estava também entrando no mercado. Os dois lados queriam inovar. Simão colocou à nossa disposição sua fábrica, para que criássemos estampas, padronagens e modelos exclusivos. Só depois que a Blitz estreava o show é que Simão criava algo semelhante para vender nas lojas Yes Brasil. A Blitz lançou moda. Na época era tudo muito divertido, mas hoje, olhando pra trás, acho tudo meio brega e deselegante. Se há um clima de revival no ar, me deixem fora dessa...

fernanda abreu
Fernanda Abreu e Evandro Mesquita em show da Blitz, no Rock in Rio, em julho de 1989
foto pedro martinelli / abril imagens

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