Folha de S.Paulo Moda
*número sete *sexta-feira, vinte e seis de setembro de dois mil e três
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moda/ vintage

tão básico que nunca sai de moda

para teórico do movimento, punk é um verdadeiro clássico

No humor, na revolta e nas mensagens, o punk é, antes de mais nada, visual. Foi assim desde seu impacto original, quando office boys se vestiam diferente para imprimir sua presença em uma multidão apagada pela mesmice. O punk já se atirou como uma logomarca. E o que era aquilo que arrasava com o que vigorara até então?

É claro -também não cubramos o sol com a peneira- que, entre a coisa hippie (poncho e conga, barba e bolsa, o degradê nas cores do arco-íris), os longos cabelos com caspa e piolhos (tudo recendendo a patchuli), até os cabelos curtos (nas laterais e na nuca) da onda lançada em 1976 pela butique SEX, no fim da rua da moda em Londres, a King's Road, com bandage, bondage, sado-masô, o couro preto & boots, aconteceu o pintoso glam rock.

Este já fazia tabula rasa do chinfrinismo riponga: o glamour warholiano das pin-ups, a supertraveca operada (Amanda Lear na capa do segundo LP), o cabelo espigado do Bowie em cor de cenoura orgânica e os cartões-postais na capa do primeiro LP do Roxy Music (o cabelo pintado de preto-azulão à la Elvis/Rockabillychique do Bryan Ferry; a maquiagem vamp nos olhos de Brian Eno; o blusão com padrão pele-de-zebra ou de onça).

O punk veio como filho bastardo disto e daquilo. Estudiosos viram no advento do punk o outro lado (digamos, o lado B) da moeda hippie. (Punk detesta essa idéia, mas, já que mais traquejado em história que eles, permitam-me considerá-la).

Sim, o punk vem dessa linhagem, mas com uma proposta, uma blitzkrieg (se musical) básica volta ao nada original, aos três acordes, enfim, ao básico.

O que primeiro impressionou no punk foi a postura rude, totalmente oposta à efeminação hippie & glam. O posicionamento punk era, digamos assim, bofe -não só nos garotos, mas também nas minas. A garota punk também surgiu rude, agressiva, também com um côté bofe. A garota-bofe. Mas com o extra-plus da maquiagem. Elas, nos olhos, a cat woman (mulher-gato).

A glória da criatividade do look punk acontece principalmente quando rola festival, como os anuais, em que se misturam todas as tendências -do cabelo moicano aos tons cítricos, do dreadlock à Veronica Lake ao rabo-de-cavalo (as minas do Infect); e a minissaia acoplada em ligas à meia arrastão (mais furadas do que se tivessem saído para pescar tubarão com rede). E tatuagem, piercings, correntes, rebites nas pulseiras e nas gargantilhas, alfinetes de fralda etc. E dúzias de punk-ralé (cujo visual realmente rotten faz lembrar os piratas do filme "Piratas do Caribe"). Ou então o visual absolutamente clean sem nonsense. O punk, enfim, foi tão básico no seu pretinho, que nunca saiu nem sairá de moda. O punk se reinventa a cada estação. Já se tornou clássico.

antonio bivar
O punk Ariel no festival "O Começo do Fim do Mundo", em 1982
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