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Petrobras 50 anos 03/10/2003

Artigo: País precisa de âncora produtiva

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE

Muitas são as razões para desconfiarmos de grandes conglomerados industriais. A tendência a instituir monopólios ou oligopólios, o poderio econômico incontrolável, o abuso do poder político que acompanha indissociavelmente sua dimensão financeira. Mas a análise da história das maiores economias do mundo no século 20, e mesmo antes, mostra que não há exemplo de desenvolvimento industrial sem o suporte de conglomerados.

Mesmo que seja possível, apesar de nunca ter acontecido, o pleno desenvolvimento econômico de uma nação sem que seja ancorado em uma estrutura de capital produtivo como aquelas que só podem ser constituídas por conglomerados industriais de grande porte, devemos convir que seria certamente desejável a formação de alguns blocos de tal natureza no Brasil.

Como que para confirmar esse postulado, o grupo Votorantim, o único de porte que, embora sendo uma empresa de estrutura familiar, amenizada agora pela adoção progressiva de gerência profissional, veio a ser o primeiro conglomerado privado a criar uma empresa de "venture capital", instrumento essencial para o desenvolvimento tecnológico.

Com um parque industrial dominado por multinacionais, é pouco provável que outro conglomerado privado comparável àqueles dos países desenvolvidos venha a se formar no Brasil em futuro próximo.

Restaria à Petrobras essa missão, uma vez que a Eletrobrás já foi, em certa medida, desmantelada. E a história da empresa de petróleo não é inteiramente alheia a essa função, que, aliás, culminou à época do governo Geisel, quando teve papel decisivo na construção do parque petroquímico e influência relevante no setor de bens de capital e mecânica.

Por outro lado, embora tenha a Petrobras inicialmente atuado positivamente na instalação do Proálcool, veio, a seguir, a se constituir no principal instrumento de sua débâcle. Também traiu sua missão desenvolvimentista ao privilegiar fornecedores externos de equipamentos de transporte marítimo e de prospecção de maneira nem sempre justificável, mesmo sob o ponto de vista estritamente financeiro.

A despeito de uma relativa consciência nacional desenvolvimentista de sua corporação interna, principalmente seu corpo de engenheiros, a Petrobras tem mostrado uma atitude e uma atuação que flutuam com a ideologia dominante dos políticos que governam o país na ocasião. Essa é uma característica infeliz das empresas estatais e que, no caso de uma entidade da importância para o desenvolvimento nacional, como é o da Petrobras, pode se converter em uma catástrofe.

Por espantoso que possa parecer, o conglomerado privado é muito mais consistente no que diz respeito à busca de crescimento econômico para seu país de origem, pois sua sobrevivência (e de seus dirigentes) depende dessa coerência. Sendo o sucesso econômico de uma empresa privada a sua própria razão de ser, não lhe é permitido fazer jogos políticos de interesse imediatista, quanto mais consentir em nepotismos e pequenas corrupções.

Por outro lado, a eficiência que demonstrou a estatal, sua capacidade para desenvolver novas tecnologias que lhe permitiriam o acesso a águas profundas, a que nenhuma outra empresa alcançou, atesta sua versatilidade e capacidade empresarial.

Todavia parece ser inquestionável que a Petrobras só voltará a desempenhar o papel de âncora do desenvolvimento nacional se voltar a ser dirigida por legítimos profissionais e deixar de ser cabide de emprego de políticos, seus parentes e correligionários.

Bem dirigida, pode constituir-se na principal alavanca para o progresso industrial que libertaria a nação da ameaça de estagnação econômica que paira sobre nossas cabeças atualmente.

Rogério Cezar de Cerqueira Leite, 71, físico, é professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Editorial da Folha.

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