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São Paulo, 450 25/01/1997

O carioca inveja São Paulo

CARLOS HEITOR CONY
colunista da Folha Online

Na Grécia antiga, a rivalidade entre Atenas e Esparta provocou guerras e uma literatura específica. Lisboa e Porto em Portugal, Milão e Roma, na Itália, Nova York e Los Angeles nos Estados Unidos, Moscou e São Petesburgo na Rússia, em qualquer país onde existam duas cidades grandes e históricas é natural que haja pinimbas, e em alguns casos, ressentimentos.

O carioca olha o paulistano com admiração, inveja e gozação. Admite que em São Paulo se come melhor, se trabalha melhor, se ganha mais dinheiro. Mas desconfia no resto. Quando vê um bando de paulistanos na praia, considera-os farofeiros de luxo e guarda distância. Bem verdade que o paulistano tem praias bonitas à disposição, estão um pouco distantes mas o sol nasce para todos. No entanto, o carioca acha que o sol no litoral santista não é confiável, é um sol meio suburbano, a cor dos paulistas durante o verão é suspeita: por baixo do bronzeado adivinha-se a tradicional cor do Brás e do Bixiga.

Ultimamente, o paulistano tem dado banho em matéria de futebol mas Ronaldinho e Romário são cariocas e isso lava a alma da gente. Habitando a cidade mais rica do país, o paulistano pega as sobras do ressentimento nacional. Enquanto o carioca tem fama de leviano --e merece-- o paulistano tem a tradição de ser caxias e competente --menos no samba e no Carnaval.

Aliás, o carnaval é um tempo de glória para o carioca, não pela suntuosidade de seus desfiles no sambódromo mas pela falta de molejo que ainda vigora no carnaval paulistano. No Rio, não há depressão moral, material, esportiva ou carnavalesca que resista a um flash de dois minutos do carnaval paulistano. O dia em que São Paulo não mais fizer desfile de escolas de samba haverá um suicídio em massa no Rio.

Nelson Rodrigues, em momento azedo, disse que a pior solidão é a companhia de um paulistano. Vinicius de Moraes considerava São Paulo o túmulo do samba. São expressões jocosas que tentam disfarçar a inveja que aqui sentimos da grande cidade fundada por Anchieta. Brandimos o Corcovado e o Pão de Açúcar como realizações nossas, como se nós tivéssemos construído dois formidáveis monumentos. É a desculpa que apresentamos para tentar esconder nossa incapacidade de amar a cidade que no fundo tanto e cada vez mais admiramos.

Carlos Heitor Cony, carioca, é autor de "Quase Memória" e "Piano e Orquestra" e membro do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo

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