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Saúde da mulher
27/04/2003

Para quem quer engravidar

A Organização Mundial da Saúde prega aos quatro ventos: exames pré-natais são uma das ferramentas mais eficientes para garantir uma boa gravidez e reduzir a mortalidade na concepção. Com exames simples das condições dos pais e o acompanhamento do feto na gestação, as chances de um bebê saudável são de mais de 90%, calcula o Unicef. Os cuidados são ainda mais necessários para a mãe, já que o Brasil integra o grupo de países que exibem alta taxa de mortalidade materna.

O último dado do Ministério da Saúde, de 1999, registrava 55,7 mães mortas para cada 100 mil nascidos. Para entrar no clube da taxa média baixa, esse número precisa ser inferior a 20 mortes por 100 mil. É um longo caminho a percorrer.


Primeiros passos

POR CAROLINA CHAGAS

Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) indicam que menos de uma em cada cinco gestantes procura um ginecologista antes de pensar em engravidar. A grande maioria das futuras mamães entra no consultório médico quando já está com a menstruação atrasada e, portanto, com algumas semanas de gestação.

O ideal, dizem os profissionais, seria buscar uma orientação antes da concepção, mas um bom exame no início da gravidez pode garantir uma gestação tranquila.

Seja logo antes de conceber ou com algumas semanas de gravidez, a primeira consulta da mulher sadia que pretende ser mãe é muito parecida. O médico fará a anamnese, um levantamento detalhado das doenças que ela já teve, seus problemas hereditários e hábitos alimentares, traçando um quadro geral de sua saúde para dar as primeiras respostas às inquietações que surgem a partir daquele momento.

A paciente deixará o consultório médico com uma lista de exames a fazer (confira na página ao lado) e, muito provavelmente, com uma receita de vitaminas e ácido fólico -substância presente em verduras verdes, feijão, vagens, germe de trigo, peixe magros e frutas cítricas-, comprovadamente eficiente na boa formação do feto.

Ceci Mendes Carvalho Lopes, ginecologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo, recomenda ainda que o futuro pai faça um hemograma completo antes ou logo depois da concepção. "Os homens costumam participar pouco dessa primeira fase do processo, mas eles também podem ser transmissores de doenças como sífilis e hepatite B e devem tomar as devidas precauções", afirma ela.

A faixa entre 20 e 30 anos, idade em que a mulher está mais fértil e a liberação dos óvulos é mais regular, é a ideal para a concepção do primeiro filho. Diferentemente dos homens, a mulher nasce com um estoque determinado de óvulos, que vão sendo liberados um a um durante os ciclos menstruais ao longo da vida. A partir dos 35 anos, a fertilidade começa a diminuir.

"Uma mulher sadia, abaixo dos 35 anos pode demorar de seis meses a dois anos para engravidar. Esse tempo é considerado perfeitamente normal", acredita Ceci Lopes.

Mulheres na faixa dos 30 são aconselhadas a começar a tentar pelo menos três anos antes dos 35. "Descobrir um problema de infertilidade muito perto dessa faixa etária diminui bastante a possibilidade de sucesso em um tratamento de reprodução assistida", explica Vicente Mário Izzo, chefe do setor de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O professor de obstetrícia da Unicamp João Luiz Pinto e Silva, 57, lembra também que é bom a mulher estar com o peso próximo do ideal no momento da concepção. "É sempre uma dor de cabeça a menos", afirma.

PERGUNTA: É possível engravidar durante a menstruação?

SIM, apesar de rara, a ocorrência de fecundação durante a menstruação pode acontecer em mulheres cujo ciclo é irregular, já que suas fases hormonais ficam prejudicadas ou indefinidas. Nas mulheres regulares, essa possibilidade é remota, porque a ovulação normalmente ocorre 14 dias antes do primeiro sangramento.

Além disso, a queda da mucosa interna do útero (endométrio) durante a menstruação impossibilita a implantação do óvulo fecundado.


Exames indispensáveis

Hemograma completo Para avaliar as condições gerais da mãe e a necessidade de reforço de vitaminas

Fator RH O RH é uma proteína que pode ou não estar presente no sangue. Uma mãe RH negativo pode dar à luz um filho RH positivo (do pai); na hora do parto, o contato com o sangue do bebê faz o organismo materno desenvolver anticorpos para o RH, o que pode prejudicar a segunda gestação. Uma vacina de imunoglobulina anti-RH acaba com o risco

Glicemia Revela a presença ou risco de diabetes, doença que aumenta o índice de má-formação da criança (em especial do coração) e a incidência de abortos precoces

Urina Cistites (inflamações na bexiga causadas por bactérias) e infecções urinárias podem provocar contrações uterinas e até abortos

Fezes Parasitoses levam o organismo a uma grande perda de ferro, elemento muito importante para a formação do feto e o desenvolvimento tranquilo da gravidez

Rubéola Doença de fácil cura que pode afetar o bebê, embora os casos de má-formação sejam muito raros. Os exames podem ser feitos até a 14ª semana e, caso a grávida já esteja doente, a orientação pode mudar conforme o médico. Alguns aconselham a continuidade da gestação e redobram os cuidados nos exames de rotina; outros recomendam o aborto

Toxoplasmose Transmitida por gato e carne crua, deve ser investigada antes ou no princípio da gestação. Mães que tenham os anticorpos não precisam se preocupar. Quem não tem será aconselhada a ficar longe de felinos, sushis, sashimis, quibe cru, carpaccio. Quando o exame revela a doença, repete-se a mesma situação vivida no caso da rubéola

Sífilis e HIV Podem ser feitos até o final do primeiro trimestre. A sífilis pode ser tratada com antibióticos e, durante a gravidez, o médico acompanha por ultra-sonografias eventual má-formação. Os novos coquetéis anti-Aids permitem proteger o feto da possível contaminação pelo vírus

Chances de engravidar naturalmente em um ano de tentativas

ATÉ 25 anos - 75%
DE 26 A 30 - 65%
DE 31 A 35 - 50%
DE 36 A 40 - 12%
DE 41 A 42 - 8%
DE 43 A 45 - 1%

Fonte: Organização Mundial da Saúde

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