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Saúde da mulher
27/04/2003

Tensão pré... Mickey Mouse

POR LÚCIA CARVALHO

Fiquei esperando o dia certo para escrever este texto. Como este é um texto sobre a tensão pré-menstrual, queria que ele fosse escrito num dia exato: num verdadeiro dia de TPM. Olha que idéia incrível, seria espécie de "reality show": eu sentiria e escreveria ao mesmo tempo. Mas quando chegou o tal dia, achei essa idéia ridícula, me achei a maior chata, tive ódio dessa minha mania de fazer gracinha com coisa séria e desisti de tudo.

Isso é TPM.

Bom, antes de entrar mais a fundo nas tais tensões, preciso contar uma coisa que descobri. É que nós, que sofremos com a TPM, vivemos só meia vida normal. Na outra metade estamos num tipo de limbo, um estado de transe esquisitíssimo. Veja se eu não tenho razão: passamos, no mês, pelo menos uma semana na TPM. Na semana seguinte estamos gordas, inchadas e com dores de cólicas, menstruando. Temos duas semanas de sofrimento num único mês, ou seja, ficamos meio mês em estado alterado.

É a mesma coisa que você ficar, das 16 horas que passa acordada durante um dia, oito horas fora do seu estado normal. Oito horas em um dia! Ou mais, imagine que, dentro de cada uma hora, você passa meia hora nervosa, irritada, se empanturrando de doces e com um monte de dor. Ei. É fácil viver assim?

Tá, eu sei, existe um monte de tratamento, remédio e exame para TPM. Eu mesma já fiz um monte deles, e fiquei ótima... nos 15 dias errados. Nos dias tepeêmicos continuei chutando balde, demitindo empregada, brigando na fila do supermercado e quase me separando do Zé. Puxa, é apavorante, 15 dias depois, descobrir os estragos que você causou.

Mas o que fazer? É da nossa natureza, temos que aprender a conviver com isso. Só preciso avisar uma coisa, se você é ou planeja ser mãe: se estiver na TPM, nunca, jamais, em-hipótese-alguma, vá com seus filhos à Disney. É sério. Você pode acabar com o sonho deles para sempre.

Pode falar o que quiser, mas a fantasia de toda criança é, um dia, ir para a Disney. E qualquer mãe, mesmo reclamando, aguenta todo tipo de provação para conseguir realizar aquela fantasia e chegar diante do castelo da Cinderela. Aquele não deveria ser um momento mágico, encantador e inesquecível para vocês? É. Deveria.

Isso se você não estiver na TPM, como eu estava. Eu entrei na Disney e sei lá. Parece que a TPM foi crescendo, aumentando, sem a menor explicação lógica. Olha, isso é muito sério. Deve existir alguma relação muito íntima entre o mundo mágico dos parques temáticos e o fenômeno mental de ódio puro causado por essa tal síndrome de tensão pré-menstrual. Será que nenhum médico vai estudar isso a fundo? Só sei que fui adentrando aquele mundo mágico, tentando me conter, mas todo o meu equilíbrio emocional foi para a cucuia quando tive a primeira visão do... Mickey Mouse.

- Ô rato ridículo!
- Mãe, num fala assim...
- Sério que vocês acham graça nisso? É um circo de horrores! Olha! Só tem aberração! Um cachorro com cara de panaca, uma pata deformada...
- Pááára, mãe!

Resumindo. No meio daquele pesadelo, eu tive um ataque. Daqueles. Berrava. Esbravejava. Que fazer? Era gente demais, fila demais, personagem demais. E, como sempre, TPM demais. Foi um horror, sobrou até para o Donald, que me viu nervosa e veio me abraçar.

- Sai, seu... pato bundudo!

Tadinho. Ele não falou nada. Abaixou a cabeça e saiu dali feito um pato bundudo mesmo. Lá se foi o dia mágico dos meus filhos. Mais uma vez, desculpa, gente.

É só 15 dias, isso passa.

Lúcia Carvalho, 40, é arquiteta, escritora e mãe de três filhos.

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