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Saúde do homem
11/07/2003

DISFUNÇÃO ERÉTIL: Direção segura

A guerra contra a impotência percorre uma estrada sinuosa. Quem procura tratamento tem a chance de descobrir que a disfunção erétil nem sempre vem sozinha. Ela pode ser o resultado sintomático de uma série de problemas em diferentes áreas do organismo masculino. Em homens com menos de 40 anos, cerca de 80% dos casos têm origem psicológica. Dos cinquentões para cima, os mesmos 80% são provocados por distúrbios orgânicos, explica o professor de urologia da Unifesp Joaquim Francisco de Almeida Claro, 42.

Nessa faixa, a impotência está relacionada a doenças hormonais (diabetes, queda de testosterona, problemas endócrinos), neurológicas (lesões na medula, mal de Alzheimer e Parkinson) ou vasculares (hipertensão arterial, aterosclerose). Portanto tratar a disfunção envolve obrigatoriamente a descoberta de sua causa.

A maior pesquisa sobre o tema já realizada no país revelou que 54% dos brasileiros (cerca de 25 milhões) sofrem de algum problema de ereção. O estudo, feito pelo ProSex (Projeto Sexualidade), do Hospital das Clínicas, em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), ouviu 71.503 brasileiros, de 20 e 103 anos. Divulgada no final de maio, a pesquisa, patrocinada pelo fabricante do Viagra (Pfizer), mostra que 1 milhão de novos casos são registrados no Brasil por ano. Segundo o estudo, doenças como diabetes, hipertensão, problemas cardíacos e sedentarismo são fatores de risco. O doente demora, em média, dois anos e três meses para procurar ajuda médica.

Apesar dos avanços na medicina e da diversidade de opções de tratamento, impotência continua sendo um palavrão impronunciável para boa parte dos brasileiros. A estimativa é de que apenas um em cada dez atingidos busque ajuda médica. E não é por falta de opção. Chamados de tratamento de primeira linha, os remédios que ajudam a promover a ereção -são quatro no Brasil- têm ação mais duradoura e cada vez menos efeitos colaterais. O mercado brasileiro é considerado o segundo maior do mundo para esse tipo de droga, atrás dos EUA.

O Viagra (Pfizer) chegou em 1998 e reinou sozinho até 2001, quando foi lançado o Uprima (Abbott). Em maio último, vieram o Cialis (Eli Lilly) e o Levitra (Bayer/Glaxo), que atuam praticamente de mesma forma que o Viagra. É bom deixar claro que nenhum funciona se não houver estímulo sexual. Além disso, não servem para cerca de 20% de pacientes, portadores de impotência em grau mais avançado. A esses restam tratamentos de segunda linha (injeções penianas), com sucesso em até 90% dos casos tratados, e os de terceira linha (prótese peniana), com o mesmo índice de aprovação, diz Joaquim Claro.

Outra ressalva importante diz respeito ao uso indiscriminado e desnecessário desses medicamentos. Inseguros ou seduzidos pela possibilidade de potencializar o desempenho, muitos jovens viraram usuários frequentes. "A superereção que eles conseguem com o remédio pode torná-los dependentes psicologicamente", alerta Sami Arap, 67, urologista do Hospital das Clínicas. Também não adianta encarar as pílulas como panacéia contra uma vida sexual insatisfatória. "Pacientes com relação deteriorada não vão resolver o problema conjugal com esses remédios", alerta o urologista Sílvio Pires, 38, da Santa Casa.

Como funciona a ereção

- Estimulado por apelos visuais, táteis e mentais, o cérebro envia mensagens químicas através dos nervos da espinha dorsal, até o órgão sexual masculino

- Ao chegar ao pênis, essas mensagens provocam a liberação de várias substâncias, entre elas o óxido nítrico, responsável pelo relaxamento da musculatura lisa dos corpos cavernosos

- O relaxamento faz com que os vasos se dilatem, deixando o órgão mais longo e permitindo que seus corpos cavernosos, ocos, sejam preenchidos por sangue

- A compressão das veias menores faz com que o sangue seja represado, mantendo o pênis ereto

Arsenal contra a impotência

Tratamentos de primeira linha, eficientes em 80% dos casos

Medicamento: Cialis (Eli Lilly)
Onde atua: Pênis. É um vasodilatador que aumenta o calibre dos vasos sanguíneos e, consequentemente, a circulação. Relaxa a musculatura lisa, permitindo que o corpo cavernoso se encha de sangue e ocorra a ereção
Início da ação: 30 a 60 minutos
Efeito (todos dependem de estímulo sexual): Até 36 horas
Vantagens: É o de efeito mais duradouro; não sofre interferência de refeições e álcool
Desvantagens: Riscos de interação medicamentosa, por permanecer muito tempo no organismo
Efeitos colaterais: Rubores, tonturas, dores de cabeça e musculares
Preço médio: R$ 59 (com 2 drágeas)

Medicamento: Levitra (Bayer e Glaxo)
Onde atua: Pênis. Ação semelhante ao do Cialis e do Viagra. Também é um inibidor da enzima fosfodiesterase 5. Aumenta o calibre dos vasos sanguíneos, permitindo a ereção
Início da ação: 40 a 60 minutos
Efeito (todos dependem de estímulo sexual): Até 8 horas
Vantagens: Pode ser encontrado em embalagens com apenas um comprimido; não sofre interferência de refeições e álcool
Desvantagens: Alimentação gordurosa retarda a absorção do medicamento
Efeitos colaterais: Rubores, coriza, dores de cabeça
Preço médio: R$ 29 (com 1 drágea)

Medicamento: Uprima (Abbott)
Onde atua: Sistema nervoso central. Seu princípio ativo, apomorfina, estimula os neurônios a liberar dopamina, neurotransmissor responsável pelo envio de impulsos elétricos que estimulam o pênis
Início da ação: 20 minutos
Efeito (todos dependem de estímulo sexual): Até 4 horas
Vantagens: É o mais barato e o único recomendado a cardíacos que usam nitrato; não sofre interferência de refeições e álcool
Desvantagens: Doses elevadas podem induzir vômitos; apresenta o menor índice de sucesso de todas as drogas
Efeitos colaterais: Dores de cabeça, tonturas, náuseas
Preço médio: R$ 80 (com 4 drágeas)

Medicamento: Viagra (Pfizer)
Onde atua: Pênis. Vasodilatador que age da mesma forma do Cialis (tadalafil) e do Levitra (vardenafil), mas com outro princípio ativo (sildenafil)
Início da ação: 60 minutos
Efeito (todos dependem de estímulo sexual): Até 8 horas
Vantagens: Está há mais tempo (cinco anos) no mercado, o que torna seus índices de aprovação mais seguros.
Desvantagens: Deve ser ingerido de duas a três horas antes ou depois das refeições e sua absorção é retardada por álcool
Efeitos colaterais: Rubores, má digestão, dores de cabeça e congestão nasal
Preço médio: R$ 98 (com 4 drágeas)

Outras alternativas

Tratamentos de segunda e terceira linha, para 20% dos casos

Injeção peniana Recomendadas principalmente para diabéticos que não obtiveram resultados com as drogas de primeira linha. Substâncias dilatadoras, como prostaglandina, papaverina, fentolamina são aplicadas diretamente no pênis, 15 a 20 minutos antes da relação sexual. Com o uso frequente, há risco, embora raro, de fibrose no pênis. Preços: de R$ 40 a R$ 80 por injeção.

Próteses Há dois tipos. A semimaleável usa dois bastões de silicone instalados no corpo cavernoso do pênis. Para não ficar permanentemente ereta, os bastões são "desencaixados". A inflável usa um mecanismo mais complexo: além de dois bastões ocos, implanta-se uma válvula com líquido dentro do abdome e uma espécie de bombinha na bolsa escrotal. Para obter a ereção, o paciente transfere o líquido da válvula para a prótese usando a bombinha escrotal. Depois do sexo, faz a operação inversa. É indicada para casos mais críticos de impotência. Em geral, as próteses duram de oito a dez anos. Preços: semimaleável, de R$ 1.500 a R$ 5.000; inflável, de R$ 5.000 a R$ 10 mil.

Fontes: Joaquim de Almeida Claro (Unifesp); Sidney Glina (Albert Einstein); Sílvio Pires (Santa Casa)

10 questões sobre o pênis

1 Ele pode quebrar?
Pode, apesar de não ter osso. O grau de incidência de fraturas penianas é pequeno e ocorre sempre quando ele está ereto. Movimentos bruscos, principalmente durante o sexo, são os principais responsáveis. A dor é imediata, aguda e intensa, seguida de hematoma e inchaço. O paciente deve se submeter a uma cirurgia de emergência, para remover os coágulos e "costurar" a ruptura provocada no corpo cavernoso do pênis. Em média, exige-se abstinência sexual por um mês. Se a cirurgia não for feita em tempo, há risco de impotência ou de o órgão sexual ficar torto.

2 Em que idade ele pára de crescer?
O órgão sexual masculino geralmente acompanha as demais partes do corpo, atingindo o pico do crescimento entre 13 e 17 anos. Mas não é incomum que continue crescendo até o começo da fase adulta, entre 21 e 23 anos.

3 É possível aumentar seu tamanho?
Até agora não foram apresentados métodos cientificamente aceitos que comprovem aumentos. Nenhum procedimento tem se mostrado eficaz, e a maioria das "técnicas" pode trazer complicações, como impotência e infecções.

4 Perder peso aumenta o seu tamanho (ou o contrário)?
Doce ilusão, a balança não tem nenhuma influência nisso. O que ocorre, na verdade, é que a perda de peso faz com que o órgão fique mais exposto, porque aumenta seu comprimento visível. Quando o homem está obeso, o pênis fica "embutido" no excesso de gordura que se forma na região pubiana.

5 Pênis torto é sinal de problema?
Não, se essa curvatura for de até 30 graus, para o lado direito ou esquerdo. O problema é quando a curva é mais acentuada e ocorre no meio do membro, um defeito de nascimento (o chamado pênis curvo-congênito) ou que pode aparecer na fase adulta, provocado pela doença de peyronie, uma inflamação no corpo cavernoso que atinge cerca de 10% dos brasileiros. Nos dois casos, recomenda-se cirurgia.

6 Pênis circuncidado é mais higiênico e menos sensível?
A circuncisão realmente facilita a higiene, o que ajuda a reduzir uma série de doenças masculinas, entre elas o câncer de pênis, além de diminuir os riscos de câncer de colo de útero na parceira. Mas não chega a tirar a sensibilidade, porque a glande contém poucos receptores sensoriais.

7 Ele enruga com a idade?
O que enruga é a pele que o recobre, como qualquer outra parte do corpo. Acontece geralmente a partir dos 75 anos.

8 Por que, mesmo quando eretos, alguns pênis ficam com sobra de pele?
Esse excesso de pele do prepúcio, chamado de fimose grau 4, não tem nenhuma função e pode facilitar infecções. Os médicos recomendam retirá-lo com uma cirurgia simples.

9 Qual a causa das ereções matinais?
São as chamadas ereções fisiológicas, que têm a função de oxigenar o órgão e ocorrem de três a cinco vezes por noite. No total, o homem pode passar cerca de 20% do sono com o pênis ereto.

10 Qual é a quantidade normal de esperma por ejaculação?
Varia de 2 ml a 5 ml (no máximo, uma colher de chá), dependendo do período de abstinência.

Fontes: urologistas Joaquim de Almeida Claro (Unifesp); Sidney Glina (Albert Einstein); Sílvio Pires (Santa Casa)

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