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08/10/2003
Alimentação: Firmes e fortes
Pilão é a mais lembrada na nova categoria pó de café; Doriana, Hellmann’s, Kibon, Skol e Parmalat mantêm a liderança
ROMY AIKAWA
free-lance para a Folha de S.Paulo
O grupo alimentação ganhou neste ano os números da categoria pó de café. Trata-se de um segmento de mercado extremamente pulverizado (existem mais de 2.000 marcas) e regionalizado. Assim, prevaleceu a tradição e a forte presença no Sudeste do café Pilão.
Nos outros itens, repetem-se os resultados do ano passado, reafirmando a estabilidade de marcas consagradas. A Unilever mantém a liderança isolada de seus produtos -margarina Doriana, maionese Hellmann’s e sorvete Kibon-, enquanto a Skol, que disparou em 2002 e levou o Top Performance, conseguiu subir mais dois pontos. O leite Parmalat perdeu pontos em relação ao Ninho, mas continua na frente.
Pó de café
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Cena da campanha do café Pilão |
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Com 11% das menções, Pilão foi o pó de café mais lembrado na estréia do segmento no Top of Mind. Tecnicamente empatadas em segundo lugar ficaram: Santa Clara (6%), Nescafé (6%), Melitta (5%) e Maratá (5%). Vale destacar o alto índice de menções de outras marcas, 61%, reflexo da pulverização do mercado. Entre as relacionadas, o que não faltou foi nome exótico: Toko, Urupa, Canaã, Kuill, Kimino, Hileia, Mamoré, Flor do Catu, entre outras.
Para Lilian Miranda, gerente-geral de marketing do café Pilão, marca controlada pela Sara Lee Corporation (assim como Café do Ponto, Caboclo, União e Seleto), o resultado da pesquisa era esperado, uma vez que o produto é líder de mercado desde o início da década de 80. Atualmente, Pilão tem 15% das vendas nacionais, seguido por Melitta, com 5,3%, e Santa Clara, com 4,4% (dados do Instituto ACNielsen).
"Não posso tomar muito café, mas compro uns três pacotes por mês de Pilão e sirvo para as visitas. É o mais saboroso"
Zenilda Gama Silva, 28, empregada doméstica, SP
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A expectativa, no entanto, é de aumentar ainda mais sua fatia de mercado, devido à ampliação da linha em abril deste ano. "Pilão está completando 25 anos. Em comemoração, lançamos as versões descafeinado, orgânico, expresso, quatro capuccinos e dois cafés solúveis, além da versão tradicional em embalagem a vácuo, com selo adesivo", diz a gerente.
Os lançamentos contam com apoio de ações de degustação e distribuição de amostras, como a Blitz Pilão, que desde setembro vem percorrendo pontos de grande fluxo de pessoas nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. A partir do primeiro semestre de 2004, estão previstas também ações na mídia. A verba anual de marketing destinada à marca Pilão é de R$ 14 milhões.
Do ano passado até o início deste, a Pilão investiu forte em ações sociais. Uma delas foi o projeto Pilão Solidário, em que códigos de barra do produto valiam ingressos para shows da dupla sertaneja Bruno & Marrone, com parte da renda revertida a entidades assistenciais. A de maior peso, no entanto, foi a da Cafeteria Itinerante Pilão, que promoveu mais de 30 mil degustações e arrecadou aproximadamente 12 toneladas em doações. De acordo com Lilian Miranda, o desafio é continuar surpreendendo o consumidor e conquistar novos mercados.
A pesquisa Top of Mind evidenciou a regionalização das marcas: enquanto 26% dos entrevistados no Sudeste citaram Pilão, o pó de café teve apenas 1% no Sul e não atingiu nem 1% no Nordeste, Norte e Centro-Oeste. No Sul, as lembranças concentraram-se na marca Melitta (30%); no Nordeste, a maioria indicou Santa Clara (18%); e no Norte e Centro-Oeste predominou o café Brasileiro (10%).
Com relação a sexo, idade, grau de escolaridade e renda familiar mensal, Pilão é mencionado de forma distribuída. No entanto, cai um pouco entre pessoas das classes D e E (6%), que fizeram maior menção ao café Santa Clara (9%), mas a diferença está dentro da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos percentuais (para mais ou para menos).
Margarina
A liderança de Doriana se confirmou com uma leve oscilação em relação às pesquisas do ano passado: de 21% na lembrança dos entrevistados, passou para 23%. Primor (14%), Delícia (11%) e Qualy (11%) ficaram em segundo lugar.
Segundo Anne Chaves, gerente de margarinas da Unilever Bestfoods, o investimento em mídia da divisão, que abrange as marcas Doriana, Becel e Claybon, foi 25% maior do que no ano passado. "Fizemos merchandising com Doriana na novela ‘Mulheres Apaixonadas’ e também veiculamos três campanhas: uma da Doriana Yofresh, outra da Doriana Oliva -variação lançada neste ano para consumo no lanche ou aperitivo- e uma campanha no Nordeste com a Doriana Cremosa", comenta. Esta última integra o conjunto de ações desenvolvidas para aumentar a presença da marca na região, que incluiu ainda ações promocionais e patrocínio de eventos.
"Só usava Doriana,mas experimentei Qualy e acabei mudando de marca. Acho saborosa e confio nos produtos da Sadia"
Luiza Toshie A.Silveira, 59, dona de casa, Atibaia (SP)
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Como reflexo de todas essas ações, o número de lembranças da marca passou de 1% no ano passado para 3% no Nordeste, e de 6% para 10% no Norte e Centro-Oeste, todas regiões dominadas pela margarina Primor. A marca da Santista oscilou positivamente dois pontos percentuais no Nordeste, obtendo 37% das menções, mas caiu três pontos no Norte e Centro-Oeste, onde ficou com 15%. O aumento das indicações de Doriana também foi verificado nas regiões Sul (de 35% para 38%) e Sudeste (de 30% para 35%).
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Propaganda da Doriana Yofresh |
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Embora a liderança de Doriana esteja consolidada na pesquisa Top of Mind, a margarina Qualy, da Sadia, é a líder em vendas. Segundo o Instituto ACNielsen, a Doriana tem 14,2% de participação no mercado, e a Qualy, 23,2%.
Entre as estratégias para a marca, a gerente Anne Chaves diz que ainda há planos de lançamentos para este ano. "Doriana foi pioneira no lançamento da embalagem retangular, de embalagens coloridas e de variantes diferenciadas, como Yofresh e Oliva. Pretendemos continuar inovando e trazendo o que há de mais moderno em termos de tendência de consumo."
Sorvete
Uma oscilação de dois pontos, dentro da margem de erro, tirou a Kibon do patamar dos 58% que a marca atingiu nos últimos três anos. De qualquer forma, seus 56% de lembrança deixam muito para trás os concorrentes Nestlé (3%), Yopa (1%), Maguary (1%) e Glacial (1%).
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Propaganda do sorvete Magnum, da líder Kibon |
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Líder de mercado com 68,8% de participação no segmento impulso (picolés) e 56,1% em "take home" (potes), a Kibon coloca novos produtos no mercado todos os anos. Neste, lançou os dois primeiros sabores da nova linha Magnum 7 Pecados -Preguiça e Vingança- e os picolés Bob Esponja, Pira Dedo, Stika Puxa e Pop Cor, voltados ao público infantil, sempre com campanhas em todas as mídias.
Além das novidades, realizou promoções com comunicação na embalagem, como a "Viver para Valer!" e a "Kibon para Curtir em Casa". Entre as ações que contribuíram para o aumento das vendas, a assessoria de imprensa da marca destacou a campanha promocional associada ao Teleton -maratona televisiva voltada a arrecadar verbas para a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).
"Picolé ou sorvete em pote, só compro Kibon. Minha família adora o pote de creme. É muito saboroso"
Paulo Leme, 40, engenheiro, SP
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As pesquisas mostram que a Kibon continua sendo mais citada nas regiões Sudeste (66%) e Sul (61%) do que nas regiões Nordeste (45%) e Norte/Centro-Oeste (44%). Nestas duas últimas, o número de entrevistados que não lembraram ou não souberam indicar uma marca foi bem alto: 40% e 35%, respectivamente.
A lembrança de Kibon é um pouco maior entre as mulheres (59%) do que entre os homens (54%). Também pesa mais entre pessoas com grau de escolaridade superior, renda familiar mensal de mais de dez salários mínimos e pertencentes às classes A e B. E embora tenha produtos para faixas etárias distintas, a marca é menos mencionada pelo público com mais de 41 anos.
Maionese
Líder invicta no Top of Mind, a maionese Hell-mann’s atingiu neste ano o índice de 57%, quatro pontos percentuais maior que o do ano passado e ainda mais distante de suas principais concorrentes Arisco (5%), Gourmet (3%), Cica (1%) e Maionegg’s (1%), que ficaram praticamente estáveis.
Cristiane Loize, gerente de marketing da marca na Unilever BestFoods, diz que, a volta de Hellmann’s para a mídia, um investimento de R$ 7,7 milhões, contribuiu para o resultado. "De fevereiro a maio veiculamos três filmes, nos quais salsichas vilãs invadem o comercial para protestar contra o fato de a maionese ser tão gostosa e tentam sabotar suas vendas. Pesquisas posteriores comprovaram que os índices de lembrança da propaganda foram excepcionais", comenta.
Além da campanha, a linha de maioneses Hellmann’s ganhou outro sabor, o Azeite de Oliva, e a maionese Hellmann’s Vitaminada, lançada especificamente em Pernambuco com o objetivo de elevar as vendas no Nordeste, região em que "a verdadeira maionese" foi menos lembrada. Enquanto no Sudeste, Sul e Norte/Centro-Oeste, Hellmann’s obteve 64%, 67% e 52%, respectivamente, no Nordeste o número de menções somou 44%, o mesmo índice de pessoas que não se lembram de nenhuma marca.
De acordo com a gerente da empresa, a busca por novas oportunidades é constante. "Hellmann’s é uma marca ativa, que traz sempre novidades. Apenas em maionese, são mais de dez opções à escolha do consumidor", destaca. A maionese Hellmann’s é líder de mercado desde seu lançamento em 1962, com 43,4%, segundo dados do ACNielsen.
Leite
Pelo segundo ano consecutivo, a Parmalat registrou uma leve variação nas pesquisas do Top of Mind, de 21% para 20% das menções. No caminho inverso, a suíça Ninho ganhou um ponto e foi para 17%. Como a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, a vitória da Parmalat é dada pelo critério de desempate, feito com a pergunta do "awareness": "Além desta, que outras marcas lhe vêm à cabeça quando se fala em leite?".
"Quando compro leite longa vida, a marca é Parmalat. Mas uso no dia-a-dia o Fazenda, que é tipo A, menos alergênico e mais saboroso"
Lilia Rocha, bióloga, Campinas (SP)
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A Ninho marcou pontos especialmente no Nordeste, onde foi citada por 36% dos entrevistados, enquanto a Parmalat teve 9% das menções, o mesmo desempenho de Itambé e Longa Vida na região. Embora a marca suíça também fique na frente no Norte e Centro-Oeste, a diferença é menor: 21% contra 16%. Nas regiões Sul (25%) e Sudeste (27%), a Parmalat é de longe a mais citada, e a Ninho chega a perder para Batavo (também uma marca da Parmalat), Itambé e Elegê.
De acordo com José Antonio Fay, diretor da unidade de negócios refrigerados e leite da Parmalat, a marca tem como compromisso a inovação e o desenvolvimento do mercado como um todo. O relançamento e segmentação de sua linha de leites longa vida no início de agosto, um investimento da ordem de R$ 10 milhões, é um exemplo.
"Nosso objetivo é mostrar ao consumidor que ele pode encontrar o leite ideal para suas necessidades na variada linha de leites Parmalat", diz. O slogan da campanha em mídia impressa é "Cada Corpo Tem o Parmalat que Precisa". Para a mídia televisiva, a Parmalat desenvolveu uma campanha específica com o leite Natura Premium.
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Propaganda dos leites Parmalat |
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O grupo Parmalat é líder de mercado, com participação de 18,6% (ACNielsen). Já a Ninho é líder no segmento de produtos destinados ao público infantil. Sua estratégia, segundo Serena Aboutboul, gerente-executiva da unidade de negócios lácteos da Nestlé, "é inovar para continuar oferecendo os melhores produtos, ingredientes e novas tecnologias em termos de nutrição para crianças".
Os investimentos na marca atingiram um montante superior a R$ 8 milhões, incluindo uma campanha realizada em 2002 durante a Copa do Mundo, que reforçou laços de gerações de consumidores, e a campanha de lançamento do Ninho Crescimento acrescido de Prebio 1.
Na pesquisa, a Parmalat atinge seus melhores resultados entre os jovens (27%), das regiões Sul (25%) e Sudeste (27%), com escolaridade superior (36%) e renda familiar de mais de dez salários mínimos (36%).
Cerveja
Depois da arrancada que a colocou na liderança da categoria em 2002 e lhe rendeu o Top performance, a cerveja Skol ainda teve fôlego para oscilar positivamente mais dois pontos, atingindo, neste ano, 36% das menções. A Brahma, com 25%, manteve a segunda colocação. A Antarctica também permaneceu no terceiro lugar, apresentando uma queda de cinco pontos percentuais: de 21% passou para 16%.
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Cena da peça de TV da Skol |
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De acordo com Miguel Patrício, diretor de marketing de cervejas da Ambev, companhia que detém as três marcas, não há predileção por uma delas e o resultado reflete o trabalho de longo prazo feito com cada uma. "As marcas são trabalhadas em seus diferentes atributos: Skol na leveza, Brahma na frescor e Antarctica na qualidade. A Skol tem um crescimento muito grande e é líder de mercado há nove anos. Já a Antarctica perdeu ‘share’, mas está estável e apresenta tendência de crescimento. É natural que, enquanto uma marca é mais lembrada, outra seja menos", diz.
Neste ano, a Ambev destinou verba idêntica à de 2002 para a publicidade de suas três marcas: R$ 350 milhões. A Skol terá um total de dez comerciais, e Antarctica e Brahma, oito cada uma. Os filmes produzidos para a Skol são sempre voltados aos jovens, seu público-alvo, daí a preocupação da empresa com o consumo responsável, que gerou, por exemplo, a campanha educativa "Beber Redondo É Beber com Responsabilidade", lançada em maio. Outra ação nesse sentido ocorreu em abril durante o evento Skol Beats, que neste ano reuniu o público recorde de 44 mil pessoas.
"Em bares, prefiro a Bohemia, que vem em garrafa e não é tão amarga nem leve. Em casa, só Skol, pelo custo/benefício: é mais barata, vem em lata, é prática e gostosa"
Melina Melas de Castro, 36, analista de sistemas, SP
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No Top of Mind, o crescimento da Skol na lembrança da faixa de consumidores de 16 a 25 anos subiu de 42% no ano passado para 45%. Brahma continuou com números similares entre 23% e 26%, e Antarctica, que se sobressaiu em 2002 na faixa acima dos 41 anos com 27%, caiu para 21%.
Quanto a estratégias para o próximo ano, o diretor Miguel Patrício sinalizou extensão de linhas, mas não revelou em que marca será desenvolvida. Skol detém, atualmente, 34,2% do mercado de cervejas, Brahma, 21,9%, e Antarctica, 14,1%.
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