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Especial Atenas-2004
30/07/2004

Tênis: Sócrates da raquete

por JUCA KFOURI

Gabriel Bouys - 30.mai.04/AFP
Gustavo Kuerten
idade 27
altura 1,91 m
peso 75 kg
Pense no Guga. E negue que você fica com vontade de convidá-lo para ir à sua casa. De oferecer, até, o seu colo.

Pense no Guga e veja se ele não tem assim um quê do Chico Buarque, se muito mais do que uma pessoa famosa ele não é uma pessoa querida. Pense no Guga e constate que alguma coisa nele passa uma certa sensação de carência, além de delicadeza.

E saiba que o Guga é sim, de certa forma, carente, porque perdeu o pai, Aldo, aos oito anos. E entenda por que seu treinador, Larri Passos, é muito mais que seu técnico. E que Guga é um cara extremamente delicado.

Pense no Guga e constate que ele é uma espécie de Doutor Sócrates do tênis, não apenas pela coragem de tomar posição (só ele para dizer um basta ao presidente da Confederação Brasileira de Tênis) como pela necessidade de ter prazer no exercício do seu ofício.

Desnecessário enumerar aqui as conquistas do Guga. Basta dizer que ele ganhou três vezes o charmoso torneio de Roland Garros e que ficou durante 43 semanas como tenista número um do mundo.

Ah, sim, e que ele é brasileiro, nasceu num país cuja tradição no tênis se resume a um nome, o da grande Maria Esther Bueno.

Um rapaz que simplesmente substituiu Ayrton Senna no coração do Brasil, afirmação que ele mesmo considerará de um exagero inominável, porque Senna é seu ídolo maior. Um manezinho da ilha de Floripa que aperta sua mão calorosamente e que até hoje parece estranhar a admiração que desperta.

Que está rico, milionário (ganhou quase US$ 15 milhões dando raquetadas pelo mundo afora, sem contar o faturamento com publicidade), mas é de uma simplicidade a toda prova. Que torce pelo Avaí no futebol e é fissurado no Bob Marley.

Que diz que não dá para conciliar sua vida de esportista cigano com a de chefe de família, razão pela qual quer ter um monte de filhos, mas só depois de pendurar a raquete --ou que é capaz de pendurá-la se acontecer de ter um filho entre um ace e um smash.

Agora você pode estar pensando que mais um pouco e Guga (quatro letras como Pelé, como Zico, como Éder, o Jofre, do boxe) será chamado de Deus (outras quatro letras), um sujeito perfeito.

Nada disso, porque ele tem defeitos, como todos. Suas unhas dos pés, por exemplo, são um horror, encravadas pelo atrito das brecadas impostas pelo jogo de tênis e que tênis (o calçado) nenhum consegue resolver. Para não falar das bolhas.

Ah, sim, como todo esportista de ponta, Guga sofre. "No pain, no gain", sem dor, sem vitória, como se diz. E hoje em dia ele sofre mais no saibro (o piso predileto, onde mais venceu) do que nas quadras rápidas, porque seu quadril reclama do esforço, quadril que precisou operar e que ainda não está 100% --se é que algum dia voltará a estar.

Em Atenas, jogará em quadra rápida, na busca de uma medalha, de qualquer metal, coisa que valorizará como a coroação de sua carreira tão coroada. Porque Guga tem essa coisa de representar o Brasil bem viva, sem discursos ufanistas, até porque acha que faz sua parte, não só ao auxiliar crianças deficientes como também ao dar bom dia aos empregados de sua casa ou ao guardador de carros que encontra na rua.

Édipo assumido, Alice, sua mãe, é tudo, até um pouco de pai, de quem guarda só recordações risonhas. O irmão mais velho, Rafael, é o parceiro que abriu seu caminho para o sucesso nas quadras e o mais moço, Guilherme, deficiente, é o dono do seu enternecimento permanente, além da avó, Olga, de quem fala com adoração.

Pense no Guga. E não faça cobranças. Ele já nos deu demais.

Juca Kfouri é colunista do jornal "Lance!"

jogo rápido

dieta
Muita fruta, massa e bastante líquido. Como várias vezes durante o dia.

amuleto
Minha camiseta do Avaí. Levo sempre, a qualquer lugar que eu vá.

um medo
Montanha-russa.

futuro
Sempre penso num futuro cada vez melhor. Sou muito positivo, sempre tento olhar o lado bom das coisas.

sonho
Tornar realidade o que eu espero do futuro.

pior momento
São tantas coisas boas que fica fácil esquecer as ruins.

melhor momento
Sempre o que estou vivendo, mas com certeza tive momentos especiais, como as vitórias sobre o (Pete) Sampras e o (Andre) Agassi em Lisboa, e os meus três Roland Garros.

uma fraqueza
O meu quadril.

daria uma raquetada
Na atual administração do tênis brasileiro.

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