30/07/2004
Saltos ornamentais: O pulo da gata
Os saltos estrearam nos Jogos em Saint Louis-1904; o Brasil nunca ganhou medalha nessa modalidade
por
DÉBORA YURI
Alexandre Schneider/ Folha Imagem |
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Juliana Veloso
idade 23
altura 1,60 m
peso 60 kg
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Ela estaciona o Mercedes Classe A preto descalça, com óculos de sol de surfista e os cabelos louros cheirando cloro. Nascida em Laranjeiras, zona sul do Rio, a típica garota carioca Juliana Veloso, 23, carrega nos ombros a missão de popularizar um esporte sem nenhuma tradição no Brasil --os saltos ornamentais.
Desde que ganhou duas medalhas inesperadas nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, no ano passado, jogando os holofotes sobre a modalidade, ela é abraçada por crianças no Parque Aquático Júlio Delamare, onde treina nove horas por dia. "Sou sossegada, não mudei nada com a fama", diz a atleta, parada num semáforo com os vidro abertos. "Morro de pavor de bala perdida, mas nem penso em sair do Rio. Merrrrrmo."
Juliana é peixinho desde o berço. Seus pais, saltadores, se conheceram por causa do esporte. "Meu pai chegou a ser técnico da minha mãe. Tenho fotos dele saltando comigo quando eu era bebê", conta ela, que credita os resultados positivos que tem obtido nas piscinas à família. "Se eu tivesse pais 'normais', não estaria aqui agora. Qual é a mãe que deixa a filha faltar semanas nas aulas para ficar treinando?"
Ginasta por oito anos ("Treinava muito, mas nunca consegui ser boa"), a atleta acabou trocando as piruetas no solo pela piscina por acaso. Aos 12, vendo o irmão saltar, foi convidada para "experimentar". Tinha talento. Naquela mesma temporada, sagrou-se campeã brasileira.
A primeira praticante de saltos ornamentais brasileira a ganhar uma medalha na história dos Pans acha difícil repetir o feito em Atenas. "Minha meta é ficar entre as 12 melhores e disputar a final olímpica, já que nenhum brasileiro chegou lá. Traçamos o plano de brigar por medalha em Pequim-2008", diz ela.
Para a saltadora, a dor pode ser importante para o atleta, "porque ela faz você dar tudo de si". "No último Pan, saltei com um osso do punho direito quebrado. Saí chorando da piscina, de tanto que doía, mas não ia jogar todo o tempo de preparação fora. Na hora em que subi no pódio e peguei a medalha, eu nem lembrava que tinha punho", conta, dando risada.
Ansiosa para pisar na Vila Olímpica de Atenas, ela vai colocar na mala o livro "Pelas Portas do Coração", de Zibia Gasparetto, CDs de Alcione e Guns N'Roses e uma câmera fotográfica. "Adoro tirar fotos com outros brasileiros. Para mim, a magia da Olimpíada é essa: a união de todos os atletas", diz.
Na lista de compatriotas que deseja clicar estão o iatista Robert Scheidt, "o pessoal do vôlei" e "as meninas da ginástica". "Tirei uma foto que nunca esqueço em Sydney, com o Guga. Eu tive o prazer de comer com ele no refeitório da Vila Olímpica. Estava sozinha, ele chegou e perguntou se podia sentar. Pensei: 'Cara, você é o Guga, precisa perguntar?'. Aí ele sentou e eu fiquei caladinha, respondendo com monossílabos, de tanta vergonha."
Por causa dos treinos, Juliana trancou o curso superior de fisioterapia e parou de ir à praia --adora jogar futevôlei e "fingir" que pega onda. Ela mora com o noivo, jogador de futebol de salão, e vai se casar no próximo ano. "Gosto de homem com defeito. O (Reynaldo) Gianecchini, por exemplo, é lindo, mas parece uma boneca, uma porcelana, é todo lisinho. Acho que homem tem que ser homem, ter cara de homem", diz.
Mas o namoro a afastou de outra paixão. "Eu a-m-o futebol, sou Tricolor (Fluminense) de coração. Só que parei de ir às Laranjeiras (o estádio do clube) por causa do meu namorado. Ele diz que jogador não tem time, mas desconfio que seja Flamengo..."
jogo rápido
dieta
Adoro fast food, chocolate e tudo que é porcaria. Vou a rodízio de pizzas toda sexta.
amuleto
Levo um monte de penduricalhos, como uma foto da família, incluindo minha cachorra Mel, e meu terço.
um medo
Da violência.
futuro
Quero ter a minha família. Adoro criança.
ídolo
Dunga. Nunca foi o melhor tecnicamente, mas era sempre o jogador que tinha mais garra em campo.
sonho
Antes, era ir à Olimpíada. Agora, é chegar à final. E conhecer o Dunga!
pior momento
Uma lesão no ombro, em 97. Fiquei seis meses sem mexer o braço esquerdo, quatro médicos disseram que eu nunca mais recuperaria os movimentos.
melhor momento
A medalha de bronze no trampolim, no Pan de 2003.
uma fraqueza
Sou muito chorona. Choro pra caramba vendo cenas olímpicas na TV, por exemplo.