14/06/2004
Dia-a-dia - Franqueado "adolescente" se rebela
Após fase inicial de submissão total ao controlador da marca, empresário busca independência e pode causar desavenças
BRUNO LIMA
Free-lance para a
Folha
Fernando Moraes/Folha Imagem |
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Veteranos e novatos Ismail Essop Hatia, 71, é franqueado da Fisk há 34 anos. "Eu e o franqueador nos tornamos amigos", afirma. |
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Todo franqueado, não importa de qual setor, descobre um dia que poderia sobreviver bem sozinho, sem precisar dar satisfações e ao controlador da marca. Feito adolescente rebelde, adota então um estilo próprio, reclama de tudo e desobedece às ordens do "papai" franqueador.
Segundo os consultores, as fases de amadurecimento de um franqueado são como as etapas da vida. Depois de experimentar a dependência absoluta e de enxergar o franqueador como seu grande herói, o empresário passa por um período de auto-afirmação. É nessa hora que surgemos atritos.
"O pai de toda criança é o mais forte, o mais bonito e o mais inteligente. Com o tempo, os defeitos se tornam visíveis, e o filho adolescente passa a achar que o pai não sabe nada", compara o consultor Marcelo Cherto, presidente do Instituto Franchising.
Motivos das desavenças
A cobrança de royalties mesmo quando a unidade não dá lucro e a destinação das taxas de publicidade são motivos comuns de protesto nessa fase.
Depois de aderir a um Programa de Demissão Voluntária, Reinaldo Leite de Morais, 40, montou uma franquia de pizzaria, mas acabou fechando o negócio em janeiro deste ano. "No começo era muito rentável, mas depois não tive mais lucro", afirma.
Ele diz que a rede foi compreensiva com relação ao fechamento, mas reclama da cobrança de royalties. "A franquia é uma parceira sua. Se você lucra mais, eles ganham mais. Mas se você tem prejuízo, eles continuam recebendo. Não deveria ser assim".
Segundo os consultores, entretanto, a franquia não pode perdoar os pagamentos. "Se o franqueador abrir mão disso, desconfie, pois ele não dará suporte, não terá dinheiro para isso", alerta o consultor Roberto Cintra Leite.
A não conformidade com os padrões (como nos casos de franqueados "criativos", que inventam produtos ou fazem promoções sozinhos) e reclamações sobre precificação (só poder comprar de fornecedores autorizados, ainda que haja preços menores no mercado) também aparecem.
Infância e maturidade
É com o tempo e com alguns tropeços que o franqueado estabelece com o franqueador uma relação saudável de interdependência. "O empresário vê que as regras não existem por simples imposição. O franqueador é alguém que descobriu, com a experiência, que alguns procedimentos fazem a operação mais eficiente e rentável", explica Ana Vecchi, da Vecchi & Ancona Consulting.
Fernando Moraes/Folha Imagem |
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Veteranos e novatos Cláudia Marchió, que abriu há dois meses uma unidade da Fotoptica, costuma levar as filhas gêmeas para acompanhar sua rotina. |
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Cláudia Garcia Marchi, 36, abriu há dois meses loja da Fotopótica (óptica e fotografia). "Há vantagens como fornecedores homologados, marca forte e apoio de marketing." O desafio, conta ela, tem sido se dividir entre o negócio, o marido e as filhas gêmeas, Julia e Luiza, de dois anos e meio.
"A loja abre de segunda a segunda, e eu venho pelo menos uma vez no sábado e outra no domingo.Muitas vezes elas [as filhas] estão comigo. Já atá fechei uma venda com uma delas no colo."
Franqueado há exatos 50 anos, Eurothides Amado Fascina, 70, conta que é o mais antigo da rede Yázigi --a mais velha franqueadora brasileira ainda em operação. "Até hoje vivo da escola", diz.
"Quando comprou a franquia", revela, o termo ainda não era empregado no Brasil, mas os princípios do sistema estavam presentes. "Era uma franquia, a gente só não chamava assim."