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eu era meio borboleta

locomotiva dos anos 70 relembra tempos em que 'tudo era motivo'

Todo mundo queria ser diferente nos anos 70. Fui passar férias em Londres com minha irmã Cristina, que era modelo. Gostei tanto que resolvi ficar. Eu me encantei com o espírito livre dos ingleses, cheio de originalidade e excentricidade. Uma vez, estava acompanhando minha irmã num casting e me chamaram para ser modelo. Topei. Logo depois, Valentino veio fazer um desfile e me chamou para participar. Depois disso, fiz todos os seus shows de prêt-à-porter e alta-costura até parar de trabalhar. Acho que foi meu tipo brasileiro, carioca, que o atraiu. Era a novidade na época. Ganhei o apelido de "Rio". Talvez fosse a maneira de eu me mexer, meu cabelão... Nos anos 70, cada manequim tinha o seu jeito de andar. Tínhamos mais liberdade na passarela.

Usava-se muita plataforma, maquiagem, "flair jeans"... Valia tudo. Todos queriam ser originais. Existia uma certa androginia no ar: David Bowie se vestia com aquelas roupas supercoladas; Bianca Jagger, a deusa da moda na época, usava ternos masculinos. As pessoas estavam quebrando tabus.

Todo mundo tinha que ter uma "perfecto jacket" no armário. Eu tinha um casaco do Claude Montana, com franjões, um ombro imenso, era lindo! Pena que eu dei. Eu me achava totalmente "it" quando o usava. Agora: vestir grifes tipo Gucci, Chanel era coisa de mãe.

Aqui em Londres se comprava na Biba (um grande fenômeno); na Browns; Portobello Market; King's Road e os estilistas Zandra Rhodes, Ossie Clark e Bill Gibb. Tudo era muito curtido e intenso. Vivia-se em boates e casas de amigos. Tinha de brasileiros como Hugo Jereissati, Charlene Shorto, Vera e Júlio Santo Domingo e Silvinha Martins, a Richard Gere, Bianca e Mick Jagger, Iman, Jerry Hall, Brian Ferry, Halston, Ronnie e Jo Wood , Andy Warhol.... As pessoas saíam muito e era uma misturada danada. Não tinha graça nenhuma viver num grupo fechado. Eu era meio borboleta.

Era a época das grandes discos, tipo Studio 54, de NY. Carmem D'Alessio organizava grandes festas e tudo era motivo. Em Londres, o lugar era o Tramp, que existe até hoje. Em Paris, o clube gay Le 7 borbulhava nas épocas de desfiles.

No verão, as festas migravam para Ibiza, sul da França e Sardenha. Fazíamos a costa toda, de St.Tropez a Monte Carlo. Vejo meus filhos indo, mais ou menos, aos mesmos lugares. Mas de maneira diferente. O mais legal é que as histórias se repetem.

andrea dellal

Na pele de "Rio", Andrea Dellal abraça Arnold Schwarzenegger em página da revista "Interview", de Andy Warhol

foto acervo pessoal


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