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moda / vintage

meu íntimo colorido

Musa dos Novos Baianos relembra raízes do movimento hippie no Brasil

Minha primeira memória fashion foi aos 16 anos, em 1969. Comecei a usar uma calça jeans -rasgada e linda- com uma túnica dourada de princesa que minha mãe tinha feito para mim. Nos pés, tamancos de quitanda ou boots de exército. Como bolsa, uma maletinha de médico que achava uma gracinha. Na testa, um espelho retrovisor de Fusca preso com arame. Fui fotografada na Praça da República junto com os hippies.

Na época dos Novos Baianos, todos éramos muito despreocupados com o que era moda. Vínhamos de um caminho muito rococó e tudo o que fugisse daquilo era considerado subversivo. Era abominável. Mas todos nós tínhamos a alma muito colorida e a roupa começou a refletir o interior de cada um. Começamos a misturar aquele lado bem brasileiro -listras, camisetinhas- com todas as nossas influências, com tudo o que estava no ar nos anos 70: muita criatividade, muita cor e muita flor. A Terra passava por uma transformação, principalmente as ideologias. Era a época do movimento hippie e do flower power. Era a época de largar o que era o perfeito -o terno, a gravata, o sapato, o Chanel. Íamos a brechós achar coisas antigas para misturar com novas. Naquela época, isso ainda era estranho para as pessoas.

Quando comecei a viajar para o exterior foi um happening! Descobri Nova York, a rua 8, St. Marks Place e várias lojinhas que tinham muito a ver comigo. Foi lá que comecei a pintar o cabelo. Sempre gostei do cabelo azul da Branca de Neve e nunca encontrava essa tinta preta azulada. Certo dia, em Nova York, vi uma mulher com o cabelo roxo. Cheguei para ela e falei: "Where?!!". Eu não sabia falar inglês direito e ela tomou um susto. Falei: "Your hair!! Color!!!". Ela me deu o endereço e comecei a comprar tintas.

Não raspar debaixo do braço foi quase uma bandeira. Eu não queria raspar, só cortar um pouco e fazer um penteado. Foi um escândalo, mas eu estava muito feliz com as minhas axilas. No meu disco de Montreux apareço com os braços levantados e cabelo debaixo do braço. Quebrei tabus com tranqüilidade e doçura.

Sempre fui muito exagerada, mas nunca cheguei no lado descombinado da coisa. Minha mãe é uma pessoa superchique e na nossa família, desde pequeno, todo mundo sabe que cor combina com qual. Também tive uma fase de criar minhas roupas, com o Toni Maravilha. Usava muitas túnicas, brilho, cristal, sempre com um toque rock'n'roll. Passaram-se os anos e pouca coisa mudou em mim neste sentido. Talvez você encontre um ou outro Novo Baiano mais convencional. É uma opção. Posso até tentar ser mais clean, ficar chiquérrima. Mas sempre vou dar bandeira do meu íntimo colorido.

baby do brasil

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