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moda/ análise



o fim da era do estilista superstar
saída de tom ford do grupo gucci deixa fashionistas inconsoláveis

Viagra fashion, lenda viva, atraente, sedutor, super-herói, marqueteiro... Muito foi dito sobre o estilista Tom Ford durante os meses que antecederam este abril, quando o estilista texano sai definitivamente da direção criativa da Gucci e da Rive Gauche Yves Saint Laurent, ambas sob o controle do grupo Gucci. Em seus desfiles de despedida, foi ovacionado e emocionou.

Ele deixou sua marca na história da moda e sai justamente em seu melhor momento, como o próprio estilista observou em entrevistas recentes.

Por dez anos, Tom Ford seduziu o Planeta Fashion com seu discurso sexy, resposta ao minimalismo anódino que dominava a moda nos anos 90. Sua estratégia foi trazer de volta o glamour, que andava apagado pela pesada estética "heroin chic", de aparência drogada, recuperando o imaginário jet-setter, a excentricidade dos anos 70, da disco music, do Studio 54, dos vestidos de jérsei de Halston, das peles e do luxo que precisava ser recuperado para fazer o mundo da moda girar e lucrar.

Em parceria com Domenico De Sole, diretor-executivo do grupo, Tom Ford se cercou de uma atmosfera de desejo e paixão de moda. "Até mesmo as celebridades que veste, como Juliane Moore e Nicole Kidman, parecem apaixonadas por ele", já escreveu a crítica Suzy Menkes no "International Herald Tribune". Juntos, Ford e De Sole escreveram uma história sobre dinheiro, poder, controle e equilíbrio entre a criação e o comercial. A bola agora fica com seus substitutos, Alessandra Facchinetti, Alfreda Giannini, John Ray (no feminino, masculino e acessórios da Gucci, respectivamente) e Stefano Pilati na YSL. É a valorização do conceito da marca.

Enquanto sugere que o cinema possa ser sua nova mídia ("Espero ter forças para mudar minha carreira aos 42 anos", anunciou), Tom Ford diz que ama a moda. "Comecei a me animar com a idéia de continuar sendo um estilista. Não quero dizer que isso vai acontecer amanhã, mas daqui a um ano. Tenho certeza de que as pessoas só terão interesse no meu futuro quando eu tiver algo para mostrar. Mas todos os dias penso: isso seria uma jaqueta incrível", admite.

E, se foi com Tom Ford que a moda deu uma guinada nos últimos dez anos, é com ele que encerra uma era, a do estilista superstar, inaugurando novas perspectivas. Suas criações para a Gucci e a YSL já estão sendo compradas como itens de colecionador, vão sumir das prateleiras para sempre. E nem importa que essas peças só cheguem às lojas no segundo semestre deste ano. Tom Ford, para a moda, já tem sabor de vintage.

jackson araujo

Tom Ford em seu desfile final para a Yves Saint Laurent, em 7 de outubro de 2004

foto reuters

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