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06/10/1996
As mil cabeças de Pablo
MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local
De dez em dez anos, Picasso ressuscita. O fenômeno acontecia mesmo quando estava vivo. Para ser exato, desde o final dos anos 30, quando o crítico norte-americano Clement Greenberg decretou que a invenção de Picasso havia se esgotado nos anos 10 e 20. À época, Picasso ressurgiu no papel menos esperado: o de artista-comunista, criador da imagem que sintetiza os horrores da Segunda Guerra, o painel "Guernica".
Agora, 23 anos após sua morte, Picasso (1881-1973) reaparece como garanhão no cinema, como exímio retratista em mostra que saiu de Nova York e está em Paris, como fenômeno de lojinhas de museus e como revelação para uma nova geração de brasileiros. Picasso é a estrela da 23ª Bienal, que lhe dedica uma sala especial com 47 obras.
Faz 42 anos que tantos Picassos passaram por São Paulo. Foi na 2ª Bienal, que expôs até "Guernica".
Picasso ressuscita de dez em dez anos porque sua obra --principalmente a dos anos 10 e 20-- ainda não foi digerida adequadamente. Nesse sentido, nada mais simplista do que tratá-lo como um zumbi do modernismo.
Picasso resiste a essas camisas de força. Poderia ter sido reduzido a zero depois que encarnou o papel de "o último herói da pintura", o modernista que foi transformado em bufão para encantar e assustar as massas.
Quem virou sinômino da suposta maluquice da arte moderna e resistiu a isso, suporta quase tudo. Picasso é o comigo-ninguém-pode da arte moderna.
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