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06/10/1996
'Surviving Picasso' deve render indicação ao Oscar a Hopkins
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
em Washington
Depois de ter se transformado em Richard Nixon, o mais completo ator vivo do cinema, Anthony Hopkins, assume a pele de Pablo Picasso no filme "Surviving Picasso" (Sobrevivendo a Picasso), que estreou na semana passada nos EUA e deve entrar em cartaz no Brasil no início de novembro.
A julgar pela avaliação inicial dos críticos, Hopkins será, mais uma vez este ano, como vem acontecendo sistematicamente desde 1991, um dos mais fortes candidatos ao Oscar de melhor ator.
Não é só a atuação de Hopkins que atrai espectadores ao filme sobre Picasso. A equipe que produziu, dirigiu e escreveu o filme, o trio Merchant-Ivory-Jhabvala, também tem um currículo invejável de sucessos artísticos e de público que inclui: "Uma Janela para o Amor", "Maurice", "Howards End" e "Vestígios do Dia".
Além disso, sempre há a personalidade de Picasso, um dos grandes heróis do século, vista na intimidade, ainda que romanceada.
O filme não teve o apoio nem a autorização da família de Picasso ou de Françoise Gilot, uma das mulheres da sua vida. Os dez anos do caso vivido por eles é o tema central do filme.
Picasso e Gilot se conheceram em 1944, em Paris. Ele, 40 anos mais velho, já era uma celebridade. Ela, bonita e inteligente, sabia da fama de destruidor de mulheres do pintor. A tese do filme é que Gilot, ao contrário das outras, foi capaz de sobreviver.
Ruth Jhabvala, autora do enredo, não pôde se basear na autobiografia de Gilot, publicada em 64. O trabalho que utilizou foi "Picasso: Creator and Destroyer", de Arianna Stassinopoulos Huffington.
Ismail Merchant, o produtor, também não pôde usar as telas de Picasso e encomendou a dois artistas jovens, Bruno Pasquier e Vernon Witham, trabalhos que lembrassem --mas não demais-- o estilo do mestre.
James Ivory, o diretor, teve muito mais liberdade de ação para criar, já que o filme não pretende ser uma biografia factual.
Muitos apreciadores de arte têm se horrorizado com os pretensos Picassos na tela do cinema. Especialistas na vida do artista também se escandalizam com imprecisões factuais e exageros artísticos. Mas o público parece estar saindo satisfeito das salas em que o filme está em exibição. Hopkins só ganha elogios, e a estreante Natascha McElhone, como Gilot, também.
O filme, como os outros do trio, não é feito para faturar enormes bilheterias, mas sim para se pagar e receber prêmios. Ao que parece, vai conseguir.
Depois de Pablo Neruda, em "O Carteiro e o Poeta", Picasso entra para o rol dos artistas célebres desse século que acabam na tela.
Embora a imagem do pintor neste trabalho seja dada numa ótica feminista (numa cena, duas mulheres brigam literalmente por ele enquanto Picasso pinta "Guernica" e abomina a violência física), o resultado final acaba sendo o de se ampliar a mitificação já enorme que o público faz dele. Uma das frases de Picasso que se celebrizam no filme é: "Qualquer outro terá todos os meus defeitos, mas nenhuma das minhas virtudes".
"Surviving Picasso" é uma produção da Time Warner, distribuída pela Warner Bros.
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