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Picasso 07/02/1997

Filme reduz Picasso a garanhão cruel

MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local

Reduziram Picasso a um garanhão impiedoso com as mulheres e monstruoso com subalternos em geral. A operação de subtração foi feita pelo diretor inglês James Ivory no filme "Os Amores de Picasso" ("Surviving Picasso"), que estréia hoje.

O filme narra o relacionamento de Picasso (Anthony Hopkins) com Françoise Gilot (Natascha McElhone), a sexta das sete mulheres que viveram com Picasso e mãe de dois filhos do pintor.

A história se passa entre 1944 e 1953, entre Paris e o sul da França. É um dos períodos mais turbulentos da vida de Picasso.

Foi a época em que manteve um ateliê na Paris ocupada pelos nazistas, foi quando ingressou no Partido Comunista Francês e passou "uma detestável temporada no inferno", como diz o escritor francês Michel Leiris.

O inferno era a legião de comunistas, que tentava enquadrá-lo na estética realista do partido.

Foi no pós-guerra que Picasso virou uma estrela assediada por jornais e revistas, como jamais acontecera na história da arte.

Coitadinhas

Tudo isso aparece no filme como moldura para sublinhar uma outra história --a de como Picasso tiranizava as mulheres.

"Amores de Picasso" começa com o pintor na Paris ocupada seduzindo Françoise. Picasso tinha 63 anos; ela, 23. Foi o amor "mais arriscado" que Picasso experimentou na vida, segundo Pierre Daix, biógrafo do pintor.

Arriscado não só por causa da diferença de idade. Françoise era pouco mais do que uma adolescente quando foi viver com Picasso, mas tinha uma formação aristocrática que impedia que se dobrasse aos gostos do pintor.

Tanto que foi a única mulher que o abandonou --as outras foram abandonadas por ele.

Esse atrito entre o artista egocêntrico e a aristocrata coquete poderia ser a tônica do filme, mas Ivory preferiu focar o calvário de cinco mulheres que viveram com Picasso, todas tratadas como coitadinhas. É esse maniqueísmo feminista que afunda o filme.

Picasso sabia que era insaciável em matéria de sexo e debochava disso. No filme, diz a Françoise logo que a conhece que é um minotauro e precisa ser alimentado com duas jovens donzelas ao dia.

Ivory leva a sério a piada e constrói seu filme sobre ela.

O monstro

Transitam em "Os Amores de Picasso" as últimas cinco mulheres do pintor --de Olga Khokhlova, bailarina russa com quem Picasso se casou em 1917, a Jacqueline Roque, que sucedeu Françoise em 1953 e permaneceu com o artista até ele morrer, em 1973.

Nenhuma acaba bem no filme. Olga e Dora Maar, que viveu com Picasso entre 1936 e 1943, enlouquecem. Marie-Thérèse Walter, mulher de Picasso entre 1927 e 1936 e mãe de uma das filhas do pintor (Maya), torna-se a eterna dependente, a mulher que Picasso visita uma vez por semana.

Jacqueline fica com o artista porque se reduz a pouco mais do que uma serviçal. Françoise é a forte que consegue abandoná-lo, mas está condenada à infelicidade.

Picasso adora manipulá-las. Diverte-se jogando uma contra a outra. Numa cena, Marie-Thérèse e Dora disputam o pintor a tapas, enquanto ele pinta "Guernica", o painel que retrata os horrores da Segunda Guerra. "Briguem entre vocês", diz o artista.

Extraterrestre

Não parece haver dúvidas de que Picasso era egocêntrico, manipulador e tirânico. Não há novidade nisso. Só filisteus imaginam que artistas são seres angelicais.

Mas Picasso fez também uma das maiores revoluções estéticas deste século. Até o cubismo (1907), a pintura tentava representar o mundo. Com Picasso, a tela não representa nada --e só pintura.

"Amores de Picasso" ignora o paradoxo --atola no tirano e não diz nada sobre o pintor.

Na tentativa de mostrar o pintor por um ângulo supostamente novo (o das relações amorosas), o filme cai na armadilha mais banal dos que tentam se aproximar de Picasso --acabam pintando-o como se fosse um ser de outro mundo, um extraterrestre.

Filme: Amores de Picasso
Produção: Inglaterra, 1996
Direção: James Ivory
Com: Anthony Hopkins, Natascha McElhone e Julianne Moore
Quando: a partir de hoje nos cines Liberty, Morumbi 2 e Eldorado 5

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