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Picasso 04/06/1998

O ARTISTA PABLO PICASSO

Ele revolucionou a arte moderna expressando sensações e desejos

Dizer que Pablo Picasso dominou a arte ocidental no século 20 é apenas mais um clichê. Antes dele, nenhum outro pintor teve tamanho reconhecimento em vida. O seu público --ou seja, aqueles que ouviram falar do artista e viram seu trabalho, ao menos em reproduções-- chega a dezenas ou centenas de milhões de pessoas. Picasso e sua obra são os objetos de intermináveis análises, fofocas, críticas, adoração e rumores.

Nenhum outro pintor ou escultor --nem mesmo Michelangelo-- foi tão famoso enquanto vivo. E é bem possível que nenhum outro venha a ser, uma vez que o significado social, a articulação de mitos e a produção de imagens memoráveis foram largamente transferidos da pintura e da escultura para outros meios, como a fotografia, o cinema e a televisão. Picasso foi o último grande beneficiário da crença de que a linguagem veiculada pela pintura ou pela escultura tem significado fora do círculo de seus entusiastas. Foi também o primeiro artista a desfrutar da atenção obsessiva dos meios de comunicação de massa. Ele se encontrava no ponto de convergência desses dois mundos.

No mais, Picasso era o artista com o qual todos os demais eram comparados. É difícil indicar um movimento artístico no século 20 que ele não tenha desenvolvido ou, como no caso do cubismo, em parceria com Georges Braque, originado. Boa parte da história da escultura moderna está relacionada com a soldagem e montagem de figuras com chapas de metal. Essa tradição --formas abertas e construídas, no lugar de massas sólidas-- surgiu de um pequeno violão de lata cortada, dobrada e montada por Picasso em 1912.

A colagem --a união de figuras e outros objetos previamente desconexos sobre uma superfície plana-- tornou-se uma forma básica da arte moderna e deve-se também à sua colaboração cubista com Braque. Ele nunca chegou a integrar o grupo surrealista. Mas, nas décadas de 20 e 30, Picasso produziu as mais assustadoras distorções do corpo humano e as imagens mais violentamente irracionais e eróticas de Eros e Tanatos jamais cometidas em tela. Ele não era um pintor realista/repórter e muito menos o muralista oficial de ninguém. Mesmo assim, "Guernica" ainda é a mais poderosa imagem política da arte moderna.

Picasso não era filósofo nem matemático (não há "geometria" no cubismo), mas seu trabalho desenvolvido com Braque entre 1911 e 1918 esteve intuitivamente ligado aos conceitos de pensadores como Albert Einstein ou do matemático britânico Alfred North Whitehead: a realidade não é composta de objetos, entre os quais há espaços vazios. Na verdade, tudo se relaciona em um campo frenético de eventos interdependentes. O cubismo permanece sendo o dialeto artístico mais influente do início do século 20. Como que distanciando-se de seus imitadores, Picasso voltou-se então ao extremo oposto e abraçou o passado clássico, dando vida a mulheres corpulentas em meio a devaneios mediterrâneos, numa clara reverência aos pintores Corot e Ingres.

Apesar de o público estimá-lo como o arquétipo modernista, Picasso estava desconectado da arte moderna. Alguns dos maiores pintores modernistas, como Kandinsky ou Mondrian, entendiam seu trabalho como um instrumento da evolução e do desenvolvimento humano. Picasso, assim como seu ídolo espanhol Goya, não compartilhava de nenhuma corrente utópica. A idéia de que a arte evoluiu, ou de que tinha qualquer missão histórica, parecia-lhe ridícula.

Na obra de Picasso, tudo se refere a sensação e desejo. Sua meta nunca foi questionar a coerência, mas sim perseguir um alto nível de sentimento, transmitido com impressionante força plástica. Ele nunca foi um grande colorista como Matisse ou Pierre Bonnard, mas Picasso agrupava camadas de significado a fim de produzir flashes de revelação. Nesse processo, ele conseguiu reverter uma das correntes do modernismo: o favorecimento das relações formais em detrimento das narrativas . Ele as reintroduziu de forma disfarçada, como uma narrativa psíquica por meio de metáforas, trocadilhos e equivalências.

O elemento mais poderoso em sua obra --pelo menos após o cubismo-- era o sexo. Tudo nesse universo pictórico, especialmente a partir de 1920, parecia estar relacionado a corpos de mulheres nuas. Picasso impôs a esses corpos uma intensa carga de sentimento, desde o erotismo lúdico até a hostilidade sarcástica frenética, algo que nenhum artista ocidental havia feito até então.

Sua técnica foi a da metamorfose, recompondo o corpo para dar forma a suas fantasias de possessão e a seus terrores sexuais. "A natureza faz muitas coisas à minha maneira", disse certa vez, "mas ela as esconde! Minha pintura é uma série de histórias fantásticas de mulas-sem-cabeça". A morte de Picasso deixou seu público com um vazio que nenhum outro talento hoje, no campo da pintura, é capaz de preencher.

Robert Hughes

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