25/04/2004
De peito aberto
Sentir dor na mama ou encontrar um nódulo ao apalpar o seio são motivos de aflição para qualquer mulher, mas nem sempre significam problemas
LULIE MACEDO
MARJORIE UMEDA
da Revista da Folha
Mamas - São formadas unicamente de pele, gordura e glândulas, que produzem o leite. A consistência muda de acordo com sua única função fisiológica: a amamentação. Normalmente macio, fica mais rígido enquanto o bebê mama e se torna mais maleável depois do aleitamento. É o tipo mais comum de câncer feminino e o que mais mata.
Incomodada com atrasos menstruais ficava sua avó. As alterações mamárias subiram para o topo da lista de preocupações da mulher atual. O culpado por colocar os seios no alvo da moda -e do medo- é o câncer de mama, o maior causador de mortes femininas e também o que mais leva mulheres aos consultórios.
Esse medo tem nome -carcinofobia- e é alimentado principalmente por dois fatores, ambos tão inseparáveis do universo feminino quanto seios e útero: dor mamária e nódulos.
"Cerca de 70% das pacientes procuram os consultórios de mastologistas porque acham que a dor pode ser um câncer", conta Luis Henrique Gebrim, da Unifesp. "O que elas não sabem é que somente em 10% dos casos de câncer de mama a dor aparece como sintoma", diz.
Normalmente, a manifestação dolorosa é um problema cíclico ou uma nevralgia intercostal, explica o mastologista Ivo Carelli Filho, da Faculdade de Medicina do ABC. "Em 80% das ocorrências, a dor ameniza ou desaparece nas consultas seguintes apenas com a orientação verbal do médico. Conversamos, explicamos que o que ela sente é, por exemplo, uma dor associada ao ciclo menstrual, quando a mama reage às alterações dos hormônios, incha e fica dolorida. Depois de informadas, elas praticamente se esquecem do problema", relata.
A mesma apreensão se repete quando a mulher apalpa os seios e percebe um carocinho -mas nessa situação as estatísticas são mais complicadas. Nódulos são realmente o primeiro sintoma de câncer de mama e estão presentes em 60% dos casos comprovados da doença. Mas, paradoxalmente, 95% das ocorrências nodulares são alterações benignas e não apresentam riscos. Ou seja, boa parte dos cânceres de mama tem nódulos, mas a imensa maioria dos nódulos não é cancerígena.
Por isso, em matéria de caroços, a conversa tranquilizadora surte menos efeito. "São cada vez mais comuns as cirurgias motivadas pelo desconforto psicológico da paciente. Mesmo quando informada de que tem uma alteração benigna e que esta não apresenta nenhum risco de complicação, elas preferem retirar o nódulo", diz Maria Helena Vermot, da diretoria da Sociedade Brasileira de Mastologia.
Já que em qualquer dessas situações só o especialista pode dizer se há ou não motivo para preocupação, a apreensão que leva as mulheres aos consultórios nunca é demais.
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