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08/03/2005

A segunda adolescência

Na menopausa, tudo muda: a auto-imagem, as medidas e as perspectivas

por Mayra Stachuk

O corpo e a vida sexual mudam, fica mais difícil controlar o peso, a insegurança e as dúvidas existenciais martelam na cabeça. Qualquer adolescente se reconheceria nesta descrição -assim como as mulheres que passaram dos 45 anos e já entraram no climatério (período que antecede a menopausa, a última menstruação).

"Enquanto no final da infância o organismo passa por um amadurecimento, que envolve mudanças musculares, esqueléticas, intelectuais, emocionais e sexuais, no climatério uma nova transformação ocorre, mas leva a mulher à terceira idade", compara o ginecologista César Eduardo Fernandes, presidente do conselho científico da Sociedade Brasileira do Climatério (Sobrac).

Em maior ou menor grau, um tripé básico ancora as principais mudanças da idade madura:

1. O metabolismo, que vive uma mutação lenta e contínua. Assim como na adolescência, quando a garota já deixou de ser criança mas ainda não se tornou adulta, a mulher no climatério volta a enfrentar, três décadas depois, o estranhamento de um corpo que já não reage como antes.

2. A vida sexual manda mensagens difíceis de interpretar. A queda no desejo, por exemplo, passível de ocorrer em qualquer época da vida, deve ser encarada nessa fase como conseqüência de alterações orgânicas ou desgaste de um casamento de muitos anos?

3. O equilíbrio psíquico pode entrar em parafuso. Estar mais perto da terceira idade e se dar conta de que a juventude acabou gera angústia e depressão. Comparativamente, as crises da adolescência e as da menopausa têm, em comum, questionamentos e busca por respostas. A diferença é que, na idade madura, a mulher já não pode deixar tudo para depois.

De todas as modificações descritas acima, a mais visível é o aumento de peso. "Comecei a engordar sem perceber e a cintura foi sumindo. É um sufoco emagrecer", conta Maria Cristina de Arruda Corso, 52, motorista de van escolar. Apesar de transportar diariamente cerca de 30 crianças -o que poderia deixar qualquer um maluco, que dirá uma mulher sujeita ao turbilhão hormonal-, ela admite que o peso é mesmo seu principal incômodo.

"A queda hormonal não raro piora a função da tireóide, que passa a funcionar mais lentamente", explica Vicente Renato Bagnoli, ginecologista do Hospital das Clínicas. A quantidade de calorias ingeridas para manter o corpo funcionando bem deveria ser diminuída em 10% a 15% com a idade, atitude quase nunca adotada. Só para manter o peso, quem está acostumada a consumir 2.000 calorias diariamente deve reduzir para 1.700 a 1.800.

O que pouca gente sabe é que engordar até 5% do peso durante o climatério e na menopausa é normal e até saudável, porque a gordura tem a função de proteger os ossos, que tendem a se tornar frágeis. A pele também sai ganhando com uns quilinhos a mais, porque rugas e marcas de expressão não ficam tão evidentes.

Mas, para que a saúde não seja comprometida com o ganho de peso, é importante ficar de olho em dois índices: o de massa corporal (IMC) e o da medida da cintura em relação ao quadril. Ambos apontam quando o peso começa a beirar a anormalidade e a favorecer o aparecimento de doenças como diabetes e problemas cardiovasculares (veja no quadro como fazer os cálculos à pág. 21).

Mulheres que dão importância à qualidade dos pratos que vão à mesa e praticam atividades físicas regularmente desconsideram o peso como "o" problema estético da menopausa. Os fatores que fazem a procuradora de Justiça Luiza Nagib Eluf, 49, sofrer são a irregularidade no ciclo menstrual, a falta de energia e a pele -seu calcanhar-de-aquiles, diz. "A cada manhã me olho no espelho e tenho uma surpresa. Percebo que a lei da gravidade se faz cada vez mais presente", brinca. A perda do viço e da firmeza da pele, assim como o estado das unhas (mais quebradiças) e dos cabelos (que ficam mais finos e com maior tendência a cair), também é conseqüência da baixa produção hormonal, explica Bagnoli, do HC.

Divulgação
A atriz Ângela Vieira, 52, não teve sintomas graves quando passou pela menopausa aos 45 anos; só ondas de calor a incomodaram
Oh vida, oh azar

Não é surpresa que tantas mudanças físicas, justamente em uma fase de maior sensibilidade, mexam com a cabeça. Segundo a psicóloga Maria Célia de Abreu, doutora pela PUC-SP e autora de "Depressão e Maturidade" (ed. Plano), diversos fatores desencadeiam o estado depressivo-a aparência é apenas uma delas. O que causa insegurança e tristeza em alto grau é encarar a menopausa como sinônimo de velhice. "É importante que a mulher entenda que o conceito de beleza tem de ser adaptado. Vaidade e auto-estima também podem existir na idade madura", diz a psicóloga.

O fim do período fértil, decorrente da falta de produção do hormônio estrogênio, afeta fortemente as mulheres. Maria Célia recebe em seu consultório pacientes que nunca planejaram ter filhos, mas que se sentem frustradas por estar na menopausa e, em breve, impossibilitadas de gerar. "O papel de reprodutora está intrínseco na mulher. Enquanto a opção por não ter filhos é uma decisão racional, a questão está bem resolvida, mas, quando passa a ser orgânica, surge a crise."

A razão passa também pela noção de "fim da linha". Maria Cristina, a motorista das crianças, conta que pensar na finitude da vida lhe provoca amargura e aborrecimento.

Maria do Carmo/Folha Imagem
Motorista de van escolar, Cristina de Arruda Corso, 52, não se estressa com as crianças, mas com seu peso
Daí para a medicalização é um pulo. Estudo feito em Campinas pelo professor do Departamento de Ginecologia da Unicamp, Aarão Mendes Pinto-Neto, mostra que 98% das mulheres entre 45 e 60 anos recorrem a um médico para solucionar seus problemas de pré e pós-menopausa. Grande parte será medicada com calmantes em vez de reposição hormonal.

"A pesquisa revela que 28% das entrevistadas trataram dos problemas de climatério com tranqüilizantes, enquanto 19% usaram hormônio", afirma Pinto-Neto. "Isso não é o ideal. Não existe nada melhor do que a reposição hormonal para os sintomas do climatério."

Apesar de não ser nenhum mar de rosas, a menopausa pode se transformar em um período positivo, útil para um balanço da vida e para descartar o que traz infelicidade. "É comum a mulher questionar o casamento, pensar se ele ainda vale a pena. Tudo porque ela quer aproveitar da melhor maneira possível a última fase da vida", diz a psicóloga Maria Célia. Segundo ela, na faixa etária dos 40 aos 50 anos, a separação é muito mais pedida pela mulher do que pelo homem.

Karime Xavier/Folha Imagem
Luiza Nagib Eluf, 49, aponta a pele como a principal vítima do climatério
Na cama com medo

Com a aproximação da menopausa, é preciso lidar com o fantasma da perda da libido. A carência hormonal faz as glândulas responsáveis pela lubrificação da vagina liberarem menor quantidade de secreção. Esse fenômeno, chamado pelos médicos de secura vaginal, causa dor durante a relação. "Como é desconfortável, o sexo vai sendo, pouco a pouco, eliminado da rotina", explica Vicente Bagnoli, do Hospital das Clínicas.

A pouca lubrificação pode ser superada por quem sempre considerou o sexo algo importante e prazeroso, acredita a ginecologista Rosana Durães Simões, que atuou durante 15 anos no Ambulatório de Menopausa da Universidade Federal de São Paulo e, desde 1998, atende no ambulatório de sexualidade. A psicóloga Maria Célia, da PUC, compartilha da mesma opinião e acrescenta que o desinteresse pode ser psicológico. O ressecamento vaginal é facilmente corrigido com produtos específicos à venda em farmácias. "Quando há desejo e segurança, há sexo bom, independentemente da idade", diz Maria Célia.

Sintomas característicos do período (veja quadro à pag. 18) importunam a vida de 70% a 80% das mulheres, segundo levantamentos médicos. Destas, 25% têm problemas considerados mais graves, como depressão, insônia e perda de massa óssea. As que escapam desta estatística podem creditar a fase (quase) tranqüila à sorte genética.

A atriz Ângela Vieira, 52, chegou à menopausa aos 45 e teve como única sensação desagradável os fogachos, aquelas ondas súbitas de calor. Adepta da homeopatia, ela acha que sua experiência não foi traumática por causa do constante acompanhamento médico -uma endocrinologista e fitoterapeuta se associou à ginecologista no controle hormonal. Ângela usa um fitoterápico (produto natural que simula a ação do estrogênio) diariamente e um gel sintético aplicado no corpo duas vezes por semana. "Menopausa não é mais tabu. É importante saber que podemos passar por ela de forma suave, sem perder o apetite sexual e sem sofrer grandes transformações físicas e psicológicas."

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