30/03/2005
Empecilhos: Burocracia deflagra turbulências
Normas contraditórias, custos altos e infra-estrutura defasada prejudicam empresários
ROSANGELA DE MOURA
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
Joel Silva/Folha Imagem |
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TIPO EXPORTAÇÃO Operária da fábrica Opananken, de Franca (SP), vistoria sapatos para diabéticos; a marca exporta hoje 30% da sua produção para 20 países, principalmente para o Japão |
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A dinâmica das exportações do país hoje é mais intensa do que a dinâmica da construção de estradas e de portos e da desburocratização legislativa. Em 2002, o Brasil exportou US$ 60 bilhões. De lá pra cá, a cifra encostou nos US$ 100 bi (alta de 67% em dois anos).
O crescimento dessa cifra não foi acompanhado pelos devidos investimentos em infra-estrutura, gerando entraves de todo tipo. Além disso, há a burocracia. Diversos órgãos têm poder de interferir nas vendas externas do país, como Ibama, Receita Federal, Ministério da Agricultura e outros, gerando choques entre normas.
José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), defende a concentração das questões relativas à exportação. "Isso poderia evitar que as normas colidissem umas com as outras. As empresas não teriam necessidade de contratar consultores em exportação e reduziriam custos."
Obstáculos
Enquanto isso não acontece, os pequenos exportadores apresentam em comum uma trajetória repleta de obstáculos. Iolani Tavares, proprietária da Frutos da Amazônia, que produz doces com frutos exóticos como cupuaçu, graviola e açaí, entre outros, conta que, na primeira vez que se deparou com as burocracias do porto de Santos (SP), quase desistiu de exportar.
"Fiquei desorientada com as dificuldades. Não conhecia um despachante aduaneiro confiável para me assessorar e, por isso, tive prejuízos altíssimos", conta.
Tereza Sawaya Cunha, diretora da grife mineira Reserva Natural, que confecciona roupas com tecidos e aviamentos de fibras naturais, também relata empecilhos.
"Como havia cotas de exportação para o setor têxtil, precisei pedir permissão para embarcar produtos para a Europa e para os EUA", diz. Com a abolição das cotas neste ano, ela já atende pedidos dos Estados Unidos, de Portugal, da Itália e de Moçambique. "Pretendo explorar mais o mercado europeu. Quero crescer aos poucos, mas de forma sólida."
O gerente comercial da indústria de calçados Donadelli, de Franca, interior de São Paulo, Jorgito Donadelli, conta que hoje exporta 35% da sua produção e que sempre teve dificuldades.
O mais difícil, afirma, são as licenças ambientais. "Para cada tipo de couro que usamos, como jacaré, crocodilo, avestruz, cobra ou iguana, é preciso obter um certificado, o que pode levar 45 dias."