Folha Online 
Educação

Em cima da hora

Brasil

Mundo

Dinheiro

Cotidiano

Esporte

Ilustrada

Informática

Ciência

Educação

Galeria

Manchetes

Especiais

Erramos

BUSCA


CANAIS

Ambiente

Bate-papo

Blogs

Equilíbrio

Folhainvest em Ação

FolhaNews

Fovest

Horóscopo

Novelas

Pensata

Turismo

SERVIÇOS

Arquivos Folha

Assine Folha

Classificados

Fale com a gente

FolhaShop

Loterias

Sobre o site

Tempo

JORNAIS E REVISTAS

Folha de S.Paulo

Revista da Folha

Guia da Folha

Agora SP

Alô Negócios

Guia de Pós-Graduação
20/02/2005

"Não há doutor qualificado sem emprego"

da Folha de S. Paulo

O fluminense Jorge Almeida Guimarães, 66, assumiu em fevereiro do ano passado a presidência da Capes com um desafio que qualifica de "brutal": capacitar cerca de 125 mil docentes em turmas de mestrado e, até 2010, dobrar para 16 mil o número de doutores titulados por ano.

Em resposta aos críticos que dizem não haver mercado para tantos acadêmicos, Guimarães é categórico: bons doutores, diz, obtêm emprego "imediatamente".

Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.

Folha - A avaliação da Capes retrata fielmente a pós-graduação?
Guimarães - Sim, o nosso sistema de avaliação é dos melhores do mundo, mesmo entre países muito desenvolvidos.

Folha - Por que a avaliação da graduação no Brasil não consegue atingir êxito semelhante?
Guimarães - Bom, eu diria, em primeiro lugar, porque, apesar de os cursos de pós crescerem substancialmente, comparativamente com a graduação [o total] é muito menor. O que ocorreu com a graduação foi o fato de que o Brasil tem um grande mercado, haja vista que nós temos 10% dos jovens de 18 a 24 anos na universidade. Nos países vizinhos, como Argentina, Chile, Venezuela, Colômbia, essa proporção é na faixa dos 30%, e na Europa, 75%. Nos Estados Unidos [é de] 85%, e o Canadá já passou dos 100% porque há muitos jovens na universidade com menos de 18 anos. Então, a nossa situação é dramática.

A pós-graduação vem crescendo em cursos novos 9% ao ano. É um crescimento substancial. Mas são 3,3 milhões de alunos de graduação e 110 mil de pós-graduação. Então, apesar do crescimento fantástico da pós, ela ainda atrai uma proporção muito pequena [dos graduados].

Folha - Mas a demanda por cursos voltados ao mercado cresceu...
Guimarães - Porque nas áreas de ponta a graduação não dá conta de preparar o que o mercado de trabalho precisa. Por exemplo, a computação: uma área de ponta, extremamente importante. O Brasil é rico em jovens com muita criatividade, que são atraídos pelo mercado, e muitos não concluem a dissertação de mestrado. Isso acontece na enfermagem, na odontologia, na administração, na economia, em várias áreas que têm uma atração grande para pessoas que não vão ser cientistas.

Folha - A qualidade da pós caiu com o aumento da oferta?
Guimarães -
A pós de qualidade superior está centrada nas instituições públicas e em algumas instituições comunitárias, como as PUCs do Rio, de São Paulo, do Rio Grande do Sul, do Paraná, de Minas, que têm também cursos de muito bom nível. Há, naturalmente, uma demanda no setor privado de explorar esse importante nicho, haja vista a quantidade de cursos lato sensu.

Folha - Por que a Capes não avalia o lato sensu?
Guimarães -
Por causa do tamanho. Mas há uma preocupação grande do MEC de que nós vamos precisar, alguma hora, nos debruçarmos sobre a questão do lato sensu. Ele está crescendo desesperadamente. Há invasão de instituições até do exterior com desempenho sofrível. E nós estamos preocupados com isso. Já temos estudos de como puxar para o processo avaliativo o lato sensu. Não será, a não ser que haja uma determinação superior, uma tarefa da Capes, mas, seguramente, o know-how da Capes será utilizado. Os bons lato sensu estão se apresentando na Capes como mestrados profissionais. Isso sim, porque agora, ao fazer esse passo, a instituição aceita ser avaliada.

Folha - Recentemente, a Folha noticiou a dificuldade de doutores para encontrar colocação. A Capes pode incentivar contratações?
Guimarães -
Há várias respostas. A primeira é a seguinte: não tem doutor qualificado sem emprego. É uma história muito curiosa, mas a verdade é essa e tanto é que todo santo dia me pedem doutores para trabalhar com salários muito bons. Pode haver algumas áreas já com uma certa saturação, mas isso também não é tão verdade assim. Há um pouco de exagero em dizer que tem doutor desempregado.

Folha - Então um doutor bem formado encontra emprego sem problemas?
Guimarães -
Imediatamente, nas áreas tecnológicas, à beça. Outro fator importante é o seguinte: hoje o Brasil tem 254 mil docentes universitários. Só 21% têm doutorado e cerca de 30% têm mestrado, ou seja, quase a metade dos nossos docentes universitários não têm mestrado. Então, só o esforço de capacitar esses cento e tantos mil docentes é brutal para a Capes. Formando 8.000 doutores por ano, nós demoraríamos 15 anos se não houvesse crescimento dessa demanda e se não houvesse ninguém saindo do sistema - porque também há uma saída muito grande.

Então, de fato, essa notícia da Folha foi importante, mas nós já estamos tomando providências. A Capes já está avisando a todas as instituições privadas que aquelas que têm pós-graduação e estiverem dispensando doutores terão dificuldades de manter seus cursos junto à Capes. Não tenha dúvida.

Folha - Qual o total de mestres e doutores no país hoje?
Guimarães -
Hoje são 54 mil [doutores]. Mestres é um pouco mais, deve chegar a 80 mil. Agora, isso está muito longe da proporção de mestres, doutores e cientistas que os países desenvolvidos têm. Então, a demanda é muito grande.

Folha - Qual é o orçamento da Capes?
Guimarães - Eu peguei a Capes com orçamento de R$ 500 milhões no ano passado. E a projeção deste ano, com o apoio do ministério, é de R$ 683 milhões. É o maior aumento de orçamento da Capes desde que ela foi criada num ano só.

Folha - Como esse dinheiro é aplicado?
Guimarães -
70% é aplicado em bolsas, 10%, na manutenção do portal da Capes [www.capes.org.br], pelo qual toda a comunidade científica brasileira passa a cada dois dias buscando conhecimento, informação nova, patentes e dados internacionais. Os outros 20% são de outros programas, como a cooperação internacional. A Capes aplica apenas 2,3% em administração.

Folha - Os doutores são muito teóricos para o mercado privado? Estão fadados a uma rotina de pesquisa e docência?
Guimarães -
Eu fiz essa pergunta para quatro representantes das engenharias, eles falaram: "Olha, o que nós formamos, imediatamente o mercado absorve". Em enfermagem também, disseram: "Todos os formados são imediatamente absorvidos pelos hospitais do interior do Estado de São Paulo, com salários altíssimos". Como é que a indústria farmacêutica brasileira vai desenvolver medicamentos sem o pessoal qualificado da universidade?

Folha - Mas esses são casos de pesquisa. Em cargos executivos, há vagas?
Guimarães -
Não, para fazer genérico é cópia, você precisa de um químico competente, e isso a graduação não faz, quem faz é a pós. Essa é uma conversa de pessoal que quer desmerecer a pós-graduação. Se fosse assim, a gente estava cheio de doutor desempregado por aí. Não é verdade. Todo doutor em filosofia, por exemplo, é imediatamente absorvido, porque é a área que mais tem curso no Brasil.

Folha - A graduação forma mal?
Guimarães -
O ensino brasileiro é muito ruim. Desde o primário até o secundário. Tanto é que o Brasil está no 86º lugar no ranking do Pnud [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento], e 42º no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), porque concorreram 42 países. O país está cheio de pessoas com diploma sem se resolver no mercado de trabalho.

Assine a Folha

Classificados Folha

CURSOS ON-LINE

Aprenda Inglês

Aprenda Alemão


Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).