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21/12/2005

Crônica: Dóris em Paris

As agruras e delícias de viajar com uma cachorrinha da raça sharpei pela cidade-luz

por Nelson Ascher

Karime Xavier/Folha Imagem
Um cachorro (ou, no meu caso, uma cachorra) não está entre as peças de bagagem que as pessoas normalmente levam consigo ao viajar. Mas quando se planeja passar um ou mais anos fora e ela é sua cachorra, bom, o quadro muda um pouco, não? Foi o que me aconteceu quando deixei o Brasil, em maio de 2001, para viver alguns anos na Europa.

Viajar com uma cachorra nem sempre é uma operação simples e, em geral, seu transporte se resume apenas na primeira de uma série potencialmente infinita de dificuldades crescentes. Há, contudo, uma exceção até para uma regra tão universal quanto essa. Verdade: quando o destino é Paris, as coisas mudam de figura. Se o cão é o melhor amigo do homem (algo de que minha cachorra discorda veementemente, ilustrando seu desacordo com marcas de dentição em braços desavisados), a França é, sem dúvida, a melhor amiga dos cães.

Permitam-me, agora, apresentar-lhes a protagonista da história. Dóris é uma sharpei mais peluda, mais clara e menos enrugada do que a média, com a língua antes para o rosado do que para o azul, e nascida em setembro de 2000. Pesando cerca de 20 kg, ela tem as mandíbulas e a força de um animal de 30 kg. Antes de seu primeiro cio, ela era tão mansa que qualquer um poderia lhe introduzir a mão garganta abaixo.

Enquanto era um bebê, ela possuía o triplo da pele necessária. Mas, com o passar do tempo, valendo-se, quem sabe, de alguma receita secreta pela qual as fábricas de cosméticos pagariam bilhões, Dóris perdeu boa parte das pregas, que atualmente se concentram sobretudo no papo e no pescoço. Mais alguns anos e, sem requerer botox, plástica ou malhação, ela será lisa e estará esticada como uma jovem atleta recém-saída da academia. Mulheres do mundo inteiro: roei-vos de inveja!

Sua raça, prima da dos chou-chous, originou- se na China e quase se extinguiu quando, nos anos 60 e 70, Mao Tse Tung declarou guerra ao cachorros. Para ele, não passavam de bichos burgueses que deveriam ser atropelados pelo trem da história. Canis de Hong Kong, no entanto, pediram ajuda aos dos EUA para salvar a estirpe cujos exemplares, raríssimos 30 anos atrás, voltaram desde então a crescer e se multiplicar. Relativamente numerosos nas Américas, os sharpeis continuam sendo uma raridade no Velho Mundo.

Embarcar a Dóris envolvia uma burocracia não muito complicada (vacinas em dia, um certificado oficial de curta duração etc.), apetrechos básicos como uma jaula de tamanho adequado, um acréscimo de mais ou menos US$ 100 à minha passagem aérea e algumas gotas de tranqüilizante que a acalmariam até ser embarcada. A coitada voou no compartimento de carga, de forma bem menos confortável do que seu proprietário, mas também menos tensa, já que, ao contrário deste, não tinha idéia de que se encontrava num estado de equilíbrio instável entre o céu e a terra, dentro de um tubo de metal com dois rojões de cada lado e dez quilômetros acima do solo. Daí que tenha chegado à meta menos estressada do que eu (que, de resto, passei boa parte do vôo preocupado com o bem-estar dela), não há surpresa alguma.

Quanto à alfândega francesa, a cortesia com que foi recebida se revelou um bom agouro. Se outros já observaram que os parisienses tratam cachorros melhor do que crianças, poucos tiveram a oportunidade de experimentar quão generalizada e sistêmica essa atitude é no dia-a-dia. Por exemplo, quase não há cafés, bistrôs, brasseries ou restaurantes que não os aceitem. Tampouco é raro eles serem tratados com mais simpatia do que os clientes. Caso uma criança chore num desses lugares públicos, o resto da clientela olhará com desaprovação explícita para seus pais, como quem diz: "Calem a boca desse fedelho!" No entanto, se seu cão latir, a maioria compreenderá. E isso aplica-se igualmente aos vizinhos.

Onde se passeia com cachorros (em alguns dos parques, nas ruas e avenidas, às margens do rio Sena), os franceses, que não costumam ser muito loquazes uns com os outros e seguramente não com os estrangeiros, não resistem a abordar o dono, puxar conversa, perguntarlhe sobre a raça do bicho. Um cão em Paris equivale a um "green card" nos EUA, dando a seu portador algo como um direito automático à cidadania. Ademais, se o sistema de saúde do país está caindo aos pedaços e isso se patenteia no mau humor com que os médicos atendem os pacientes, o mesmo não acontece com os veterinários. Aqueles a cujos serviços recorri não só eram competentes como exerciam sua profissão, a qualquer hora do dia ou da noite, com evidente prazer.

A Dóris viveu três anos naquilo que pode ser chamado de paraíso canino. Conheceu a maioria dos sharpeis da cidade, entre eles o Karpov, que pertencia a um casal formado por um banqueiro suíço e uma jornalista russa, mas nem assim se sentiu preparada para assumir as obrigações da maternidade. E, além de manter minha "concièrge" intrometida a uma distância respeitosa (o que, naquelas bandas, não é pouca coisa), ajudou às vezes a enferrujar a torre Eiffel e deu sua humilde e constante contribuição às oito toneladas estimadas de dejetos com que os membros de sua espécie pavimentam diariamente as calçadas da capital francesa.

Antes de viajar

Para viajar para o exterior com o animal de estimação, é preciso apresentar o Certificado Zoossanitário Internacional (CZI), emitido gratuitamente pelo Ministério da Agricultura. O CZI pode ser retirado no aeroporto ou na sede do Ministério da Agricultura de cada Estado.

De avião

Algumas companhias limitam o número de animais por vôo. Por isso, faça a reserva com pelo menos 48 horas de antecedência.

Na cabine

Para levar o bicho na cabine, é preciso desembolsar taxa equivalente à cobrada pelo excesso de bagagem. Se ele viajar no porão, a taxa nos vôos internacionais é de US$ 100, em média.

Melhor época

Se a temperatura na cidade de origem ou na de destino estiver abaixo de 7ºC ou acima de 30ºC, é melhor adiar o vôo. Algumas empresas não transportam animais no verão, de maio a setembro. Certas raças de cães e gatos (persa e himalaio) são mais sensíveis ao ar rarefeito da cabine. É melhor optar por vôos sem escala.

Nelson Ascher é colunista da Folha.

     

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