19/04/2005
Igreja Católica reforça culto à personalidade do papa
da
Folha Online
Não é novidade que o Vaticano utiliza os meios de comunicação para divulgar a Igreja Católica. Com o desenvolvimento das técnicas de comunicação, a igreja começou a usar todos os meios possíveis para divulgar a instituição, como, por exemplo atualmente o uso da internet.
"As pessoas tendem a expor os aspectos inovadores de João Paulo 2º e esquecem que sempre foi uma técnica da igreja. A partir da revolução francesa, com o chamado romantismo católico, se estabeleceu essa estratégica de conquista das massas", afirmou o professor Instituto de Filosofia e Ciências da Unicamp Roberto Romano.
Segundo Romano, a igreja vem se preocupando e trabalhando muito para ter uma presença na mídia tendo em vista as massas pelo menos desde 1870. "Trabalha sistematicamente nisso", disse.
"O primeiro passo foi a criação da imprensa católica para influenciar a opinião pública. Em seguida, foi usar o cinema, já na perspectiva do culto à personalidade do papa, que é posto como elemento central", prosseguiu o filósofo, acrescentando que João Paulo 2º reforçou essa técnica de culto à personalidade. "O papa realizou um trabalho muito interessante de divulgação da igreja através da pessoa dele na imprensa internacional", ressaltou.
Para Altemeyer Júnior, o novo papa deve continuar mantendo uma boa relação com os meios de comunicação. ‘Isso hoje é a palavra de honra. O frei Beto tem uma brincadeira que é muito simpática. Ele diz que desde Galileu nós tivemos a alfabetização das comunicações porque, ao imprimir os velhos textos, ele democratizou o que era cultura geral. Agora, nós precisamos na igreja da alfabetização, e hoje ela já é uma função quase que inexorável, não tem como não ter.‘
O teólogo disse ainda que hoje quem vai fazer o papa é a mídia. ‘Ela quem vai determinar qual o perfil do novo papa. A mídia será, sem dúvida, um instrumento valiosíssimo. Não sei se o novo papa vai ter a personalidade teatral de João Paulo, cada um tem seu estilo, mas a igreja não vive mais sem internet, isso é condição básica.‘
Críticas
A intimidade com os meios de comunicação pode ser um ponto positivo no trabalho de divulgação da Igreja Católica pelo mundo. Por outro lado, alguns estudiosos apontam na estratégia superficialidade e distância da comunidade.
"Se por um lado o papa João Paulo 2º pode ter aumentado o número de fiéis por meio da divulgação da pessoa dele na mídia, por outro, ele pode ter prejudicado a manutenção de alguns fiéis com a centralização do poder no Vaticano", analisou Romano.
Para o professor de história da USP Augustin Wernet, é preciso utilizar atuar em todas as frentes para evitar o superficialismo. "João paulo 2º soube lidar muito bem com os meios de comunicação, de uma forma teatral. Os meios de comunicação fazem parte do mundo moderno e a igreja tem que se abrir. Por outro lado, ela não pode simplesmente ser a igreja dos meios de comunicação. Ela deve ser também a igreja dos pobres e dos excluídos", ponderou.
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