02/04/2005
Papa teve papel importante no fim da Guerra Fria e em outros conflitos internacionais
da
Folha Online
O papa João Paulo 2º foi um dos homens que mais trabalhou para encerrar a Guerra Fria no final do século passado. A importância do papa foi tanta para a geopolítica da época que o ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchov chegou a responsabilizá-lo pelo fim dos regimes socialistas do Leste Europeu.
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Papa em encontro com Mikhail Gorbatchov no Vaticano |
"Pode-se dizer que tudo o que aconteceu na Europa Oriental nos últimos anos teria sido impossível sem os esforços do papa e o enorme papel, inclusive político, que ele desempenhou na arena mundial", disse Gorbatchov.
O encontro entre João Paulo 2º e Gorbatchov, em 1989, no Vaticano, foi o primeiro entre um papa e um secretário-geral do PC (Partido Comunista) soviético. À época, foi considerado mais um indício de que a Cortina de Ferro começava a ruir.
De fato, os primeiros dez anos de pontificado de João Paulo 2º tiveram como marca sua luta obstinada contra o comunismo na Polônia.
Suas críticas ao comunismo serviram de inspiração aos poloneses quando criaram o sindicato Solidariedade --do líder operário Lech Walesa--, em 1980, dois anos depois de ele ter se tornado papa.
Reagan
A igreja ocupou lugar de destaque nos projetos do governo do presidente americano Ronald Reagan (1981-89) para combater o comunismo e os movimentos de traços marxistas nas Américas.
AP |
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Papa e o ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan |
De acordo com o livro "Sua Santidade João Paulo 2º e a História oculta de nosso tempo", de Carl Bernstein e Marco Politi, o codinome dado pela CIA (inteligência dos EUA) à Igreja Católica na América Central era "a Entidade".
O livro relata, por exemplo, que o papa ordenou que fosse engavetadado o relatório elaborado pelo Vaticano que criticava duramente a Iniciativa de Defesa Estratégica de Reagan ("Guerra nas Estrelas").
Até a Guerra do Golfo (1991), após a queda do comunismo na Europa central e oriental, o papa ou a igreja jamais se opuseram a um único aspecto importante das diretrizes dos EUA.
Silêncio e críticas
Reuters |
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João Paulo 2º cumprimenta Fidel Castro em Cuba |
Internacionalmente, o papa participou ainda de episódios polêmicos. Em visita ao Chile em 1987, o papa decepcionou organizações de esquerda por não criticar abertamente o regime ditatorial de Augusto Pinochet (1973-90).
Em 1998, João Paulo 2º passou cinco dias em Cuba e foi recebido pelo ditador Fidel Castro --fato criticado pelas comunidades cubanas da Flórida.
O encontro ocorreu depois de o papa criticar duramente o regime cubano afirmando que Castro fazia uma "revolução de ódio".
Especial
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