12/08/2005
Economia palestina está entre as piores da história, diz estudo
VINICIUS ALBUQUERQUE
da Folha Online
A recessão palestina está entre as piores da história moderna e mina a credibilidade da ANP (Autoridade Nacional Palestina), o que aumenta o apelo popular entre a população palestina dos grupos extremistas, segundo o estudo "Retirada, a Economia Palestina e os Assentamentos", feito pelo Banco Mundial.
Segundo o estudo, a renda média pessoal dos palestinos declinou em mais de um terço desde setembro de 2000 (início da nova Intifada) e quase metade dos palestinos vive hoje abaixo da linha de pobreza. O declínio do PIB (Produto Interno Bruto) per capita nos territórios palestinos chegou a quase 40% no fim de 2002, superando até as perdas sofridas nos EUA na depressão econômica de 1929, ou durante a recente recessão na Argentina.
Só em Gaza, o desemprego ultrapassa 46% da força de trabalho e a pobreza já atinge 68% da população da região.
Na raiz dessa crise econômica estão as restrições à circulação de palestinos e mercadorias entre os territórios palestinos e Israel, os "fechamentos". Esses "fechamentos" ocorrem basicamente em três frentes: dentro da Cisjordânia e da faixa de Gaza, através de toques de recolher ocasionais; nas fronteiras de Israel com a Cisjordânia e com a faixa de Gaza; e nas fronteiras entre a faixa de Gaza e o Egito e entre a Cisjordânia e a Jordânia.
O Banco Mundial diz no documento que se não houver reforma no sistema de fechamentos, a economia palestina "não irá se recuperar e os ganhos em segurança de Israel podem não ser sustentáveis". "Qualquer recuperação sustentável da economia palestina irá exigir o desmantelamento do sistema [de fechamentos]."
Em 2003, diz o estudo, a economia palestina viu alguma estabilidade, com a criação de 97 mil empregos nos territórios palestinos, principalmente nas áreas de construção e de transportes e no comércio informal. Os novos empregos refletiram a ligeira diminuição na violência, menos toques de recolher e fechamentos mais previsíveis.
A estabilidade, no entanto, é frágil, diz o banco. Com um crescimento populacional de 5,2% em 2003, o crescimento de cerca de 6% no PIB se traduziu em um ganho per capita de cerca de 1% apenas. Os empregos criados eram na maioria de baixa qualidade ou mesmo não-assalariados, como lavouras familiares ou de baixa qualificação técnica --sinal da "informalização" da economia, diz o banco.
Os investimentos privados totalizaram US$ 600 milhões, cerca de um terço dos níveis de 1999. As exportações, por sua vez, caíram, respondendo por apenas 14% do PIB palestino.
Os benefícios econômicos da retirada israelense, segundo o documento do banco, serão 'muito limitados', a menos que haja um alívio nos fechamentos, tanto dentro dos territórios palestinos como nas fronteiras. O banco diz ainda que, além disso, é preciso criar um programa que dê origem a um 'ambiente amistoso' para os investidores.
O estudo foi realizado pelo Banco Mundial a pedido da ANP e do governo de Israel, entre 6 e 17 de maio de 2004.
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