15/02/2006
Fantasma da falência do Banco Santos ainda assusta os investidores
EDSON PINTO DE ALMEIDA
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
FRASES
Eles agiram como se estivessem dando um golpe, pois ainda insistiam para que eu aumentasse as aplicações
FÁBIO FUZETTI
ex-investidor do Banco Santos
O lado bom da história é que mostrou ao mercado a necessidade de buscar outras formas de captação com prazos longos
JOÃO AYRES RABÊLLO FILHO
presidente da ABBC
O fantasma do Banco Santos, cuja falência foi decretada em setembro de 2005, depois de deixar um rombo de R$ 2,2 bilhões, ainda assusta os investidores em CDBs. Por tratar-se de um título privado, sua garantia é dada pela própria instituição que o emite.
Depois que houve a quebra dos bancos Nacional, Bamerindus, Econômico e Banorte, em meados de 1995, as próprias instituições criaram uma rede de proteção que beneficia principalmente os pequenos aplicadores.
É o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) que assegura, em caso de insolvência, o resgate de até R$ 20 mil por CPF ou CNPJ. Esse valor inclui aplicações em CDBs, poupança e depósito em conta corrente.
Como a garantia do FGC não existe para aplicações em fundos de investimentos, o mecanismo tem sido utilizado como argumento de venda para atrair investidores de menor porte. "É uma vantagem do CDB em relação aos fundos, para quem dispõe de pequenas quantias e quer aplicar a longo prazo", diz Fábio Euzébio, do Banco do Brasil.
Riscos
Já para os grandes investidores, a garantia do FGC muitas vezes não chega a ser um consolo. Regina Celi Taumaturgo e Fábio Fuzetti, ex-investidores do Banco Santos, estão entre aqueles que aplicaram bem mais do que R$ 20 mil e perderam.
Aos 62 anos, administrando a herança deixada pela mãe, Regina Celi comprou dois CDBs do banco, num total de R$ 1,2 milhão. "Fui influenciada pela gerente, que já me atendia em outra instituição e parecia ser uma pessoa correta. Ela usava os rankings publicados em várias revistas para mostrar que o banco era saudável", conta. "Eles agiram como se estivessem dando um golpe, pois ainda insistiam para que eu aumentasse as aplicações", diz.
Fuzetti é gestor de recursos e investiu 20% do patrimônio líquido do fundo que criou com sete cotistas em CDBs do banco, num total de R$ 438 mil. "Aceitei a oferta de que remunerariam a 105% do CDI e viabilizariam a criação do fundo", conta.
"É incrível, mas o banco tinha notas boas de classificação de risco e era um grande repassador de recursos do BNDES", observa. Fuzetti diz que já recuperou parte da perda e lamenta a falta de informações sobre os bancos para uma análise de crédito mais precisa.
Longo prazo
João Ayres Rabêllo Filho, presidente da ABBC (Associação Brasileira de Bancos Comerciais), entende que a crise do Banco Santos já foi superada. "O lado bom da história é que mostrou ao mercado a necessidade de se buscar outras formas de captação de recursos com prazos mais longos", diz. Para ele, o CDB é uma aplicação segura e oferece menos riscos do que a Bolsa e o dólar.
A principal recomendação para quem vai aplicar nesse ativo é pensar a longo prazo, em função da tabela regressiva do Imposto de Renda. Os fundos de investimentos são obrigados a descontar o IR a cada seis meses, enquanto os CDBs são taxados somente no resgate. Em dois anos, isso pode fazer diferença, pois o CDB vai capitalizar em juros o equivalente em cotas que o fundo perdeu.
Para Fernando Meibak, CEO do HSBC Investments, a desvantagem do CDB é o resgate obrigatório. "Mesmo depois de dois anos, se a pessoa quiser reinvestir o dinheiro, ela terá que se enquadrar novamente na tabela regressiva do Imposto de Renda e esperar mais dois anos para cair na alíquota menor", diz.
Paulo Vaz, do Unibanco, alerta que resgatar o dinheiro aplicado em CDB antes do vencimento traz prejuízo. "Os fundos levam vantagem porque têm mobilidade para comprar títulos, inclusive CDBs, sem que o aplicador precise tomar a decisão", diz.