15/02/2006
Fundos: Ciclo de alta da Bolsa deverá prosseguir
Analistas acreditam ser possível repetir bom desempenho dos últimos três anos, mas recomendam atenção no 2º semestre
EDUARDO CAMARGOS
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
O ano de 2006 começou bem para os fundos de ações. Os investidores que se assustaram com as oscilações da Bolsa no ano passado voltaram a marcar presença em janeiro. Mesmo com o índice Bovespa acumulando, com base no dólar, uma alta de 44,8% nos últimos 12 meses, os analistas do mercado acreditam que há espaço para um bom desempenho dos fundos de ações neste ano.
Os mais otimistas acreditam que é possível repetir o retorno médio anual de 43%, registrado nos últimos três anos por esses fundos, segundo dados do Labfin (Laboratório de Finanças da FIA-USP).
No entanto, pelo risco que apresentam, as aplicações em renda variável segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento) representam hoje cerca de 9% da indústria brasileira de fundos.
Para os analistas, o forte apelo da renda fixa, devido às altas taxas de juros, tem um peso muito grande na hora de escolher onde aplicar o dinheiro. "O investidor local ficou praticamente à margem de toda essa alta da Bolsa, porque o custo de oportunidade, computado pela taxa básica de juros, é muito alto", diz Walter Mendes, superintendente de Renda Variável do Itaú.
Momento certo
A principal questão para os investidores, porém, é saber se este é um bom momento para entrar num fundo de ações. "Eu discordo que a Bolsa esteja cara", diz Mendes. Ele acredita que o crescimento verificado até agora não é um fato isolado, mas faz parte de um contexto de alta dos mercados emergentes desde 2003. "A tendência futura é que eles caminhem para os níveis dos mercados desenvolvidos", diz.
O analista do Bank Boston Caio Santos confia em um cenário positivo para o primeiro semestre. Volatilidade somente a partir de maio, quando as eleições no Brasil e as definições sobre o crescimento dos EUA podem levar os investidores estrangeiros a vender parte de suas ações para realizar lucros. "Nós estamos recomendando que o investidor mantenha uma posição em renda variável acima da média, mas eu ficaria mais atento no segundo semestre", diz.
Como investir
A recomendação dos gestores é que seja direcionado para os fundos de ações somente aquele dinheiro que não será utilizado no curto prazo, numa estratégia de diversificar e complementar os investimentos. "É preciso tomar cuidado, pois a Bolsa está mais cara hoje do que no ano passado", diz Nelson Rocha Augusto, presidente da BB DTVM. "Toda entrada em fundos desse tipo deve ser vista como um investimento de longo prazo."
Para aqueles que pretendem colocar um volume maior de recursos em renda variável, é recomendável dividir o dinheiro em mais de um fundo. Opções para isso não faltam. Entre elas estão os fundos referenciados em índices de ações -Ibovespa, IBrX-50, ISE, IGC-, os que investem em ações de um determinado setor -bancos, energia elétrica, telecomunicações- ou mesmo os fundos de dividendos.
A estratégia do Safra, por exemplo, foi investir tanto em ações de bancos quanto de empresas de tecnologia. "Os bancos brasileiros são os que dão maior retorno no mundo, além de serem muito bem administrados", diz o superintendente de renda variável do Safra, Valmir Celestino. No setor de tecnologia alguns papéis, como os do Submarino, subiram muito em 2005."
Ele recomenda aplicar em renda variável um percentual entre 5% e 30% dos investimentos, de acordo com o perfil de cada um. Os clientes do Safra, por exemplo, destinam aos fundos de ações 10% em média do volume total aplicado no banco. Com a economia dando sinais de melhora, o momento é bom para o investidor aderir a esse tipo de aplicação. "Quem esperar vai realmente perder a oportunidade", afirma Celestino.
Em relação à aplicação direta em ações por meio de corretoras, Celestino diz que o cliente precisa ter uma boa orientação ou entender de mercado, além de ter tempo para acompanhar a Bolsa. "O risco é maior, porque você tem que gerir sua carteira e fazer o recolhimento dos impostos, enquanto os fundos têm profissionais que fazem isso e procuram as melhores oportunidades", diz. Além disso, completa: "O investimento está mais diversificado, o que reduz o risco".