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31/07/2006

Orientação financeira: Até quando viver de mesada

por EDSON PINTO DE ALMEIDA

Definir a hora de cortar a mesada é um dos problemas mais difíceis que as famílias de classe média enfrentam na relação com os filhos

Júlio Vilela/Folha Imagem
Trocar a engenharia pela música vai encurtar o tempo da mesada de João Cardoso Leão
Trocar a engenharia pela música vai encurtar o tempo da mesada de João Cardoso Leão
Um dos fatos conhecidos da vida de Roberto Menescal, compositor da Bossa Nova, é que ele, ainda jovem, nos anos 50, abandonou o curso de arquitetura para se dedicar à música. "Ótimo", disse o pai. "Sua mesada termina amanhã." Quase 50 anos depois, a história se repete com João Cardoso Leão, 23 anos, estudante do último ano de Engenharia da Produção da Poli (USP) –e agora também músico por opção. Ao contrário de Menescal, João vai concluir a faculdade e sua mesada não será cortada imediatamente. Mas já foi avisado de que o vínculo financeiro termina assim que receber o diploma.

O que separa os dois casos não é só o tempo. Se nos anos 50 e 60 sair da casa dos pais era sinal de independência para os filhos, hoje deixou de ser. Especialistas em finanças pessoais e psicólogos constatam no dia-a-dia de suas atividades que os jovens demoram cada vez mais para romper a ligação com a família, especialmente no aspecto financeiro. Saber a hora certa de cortar a mesada passou a ser um dos problemas mais difíceis para as famílias de classe média no Brasil enfrentarem na relação com os filhos. A razão principal é a dificuldade de ingresso no mercado de trabalho, além da exigência cada vez maior de educação formal para abrir as portas dos bons empregos.

Profissão adiada

Desculpa ou bom motivo? Há razão nos dois lados. "É comum os pais exagerarem a expectativa em relação aos filhos, dando a eles a idéia de que não podem aceitar qualquer serviço", diz a especialista em educação financeira e autora de dois livros sobre o assunto Cássia D'Aquino. Com isso, a perspectiva de trabalhar e ganhar o próprio dinheiro vai sendo adiada. "Entrar no mercado de trabalho sempre foi difícil e exigiu esforço. O que mudou é que hoje as profissões geram uma remuneração muito baixa no início", diz Ricardo Humberto Rocha, professor de mercado financeiro das Faculdades Ibmec SP e autor do livro "Esticando a Mesada".

Educação formal em excesso e pouca prática pode gerar um desequilíbrio, observa o economista e consultor Marcos Silvestre, coordenador-executivo do Cefipe (Centro de Estudos de Finanças Pessoais & Negócios). "O problema passa a ser tratado pela necessidade. Somente quando acontece algo com os pais é que os filhos vão trabalhar", diz. Para a psicóloga Rosely Sayão, a mesada deve servir para que os filhos possam consumir com responsabilidade, fazer as escolhas certas, renunciar ao que é impossível, economizar e investir a própria energia para conseguir algo. Num ponto todos concordam: a mesada precisa estar vinculada ao processo de educação da criança e do jovem, em todos os sentidos, principalmente em relação ao planejamento financeiro familiar.

"Importante é ensinar que há limites no orçamento da família. Os pais jamais devem fazer sacrifícios para garantir a mesada para os filhos. Ela serve para dar coisas básicas e não para estimular o consumismo", diz o planejador de finanças pessoais Louis Frankenberg. Segundo ele, os filhos precisam saber que há percalços na vida e que não se pode ter tudo na hora que quiser. "Há pais que dão celular para a criança aos 6 anos. O que exigir dela quando chegar aos 14 anos?", indaga.

As primeiras lições de educação financeira são fundamentais para que o momento de cortar a mesada aconteça sem conflitos e de forma negociada. Dependendo da carreira, o mercado de trabalho exige mais tempo de preparação técnica. Isso faz com que o jovem acabe emendando o mestrado com a graduação. "É natural a ajuda dos pais nesse caso. Talvez não precisem bancar tudo, pois é possível conseguir uma bolsa de estudos ou complementar a renda, fazendo estágio e dando aulas particulares", diz Rocha.

Outro ponto que os especialistas concordam é que a mesada não deve ser vista pelos pais como dívida, nem como obrigação, mas sim como um contrato. Para D'Aquino, não é correto aceitar que o filho fique fazendo pós-graduação eternamente, esperando um trabalho maravilhoso que não vem por falta de experiência. Silvestre entende que o jovem não deve postergar o trabalho para depois da fase universitária. "Isso não piora o desempenho escolar. Ao tentar livrar o jovem de alguma coisa árdua, os pais acabam privando-o de uma experiência fundamental que é a prática", diz.

Sem exageros

Cortar a mesada passa a ser um problema quando os pais exageram no valor. Por isso, é fundamental estipular uma quantia compatível com o orçamento de cada um (veja quadro ao lado). "Não daria uma mesada de R$ 400 para um filho de 14 anos. Quando começar a trabalhar ele vai sentir um choque porque provavelmente o salário será menor", diz Frankenberg.

A psicóloga Sayão entende que o dilema entre pais e filhos sobre independência financeira está relacionado ao que ela define como mito da juventude eterna. "Os pais de hoje não querem ficar velhos e os filhos não encontram espaço para se tornarem adultos", diz. Há quem veja na mesada exagerada uma porta perigosa para a entrada no mundo das drogas. O ideal é sempre conversar com os filhos a respeito de como ele está administrando o dinheiro. "Não é necessariamente a mesada que leva às drogas. Quando isso ocorre, é porque o problema não é só de educação financeira", diz Silvestre. Para não sobrar dinheiro indevidamente, ele recomenda subtrair da mesada o dinheiro que o jovem receba com trabalhos pontuais ou estágios. "Depois de formado, é possível negociar uma redução de 5% do valor da mesada a cada três meses", sugere.

Rumo certo

O médico Francisco Moreira Leão Jr, 53 anos, gerente de pesquisa clínica do Laboratório Fleury, pai do músico João, recomenda atenção para perceber se o filho está mudando de rumo na vida ou apenas esticando a adolescência. "Se o jovem tiver tudo com facilidade, vai pensar que não precisa ganhar dinheiro. A vida não é assim", observa. Por isso, ele gostaria que o filho se dedicasse à música nas horas vagas, e não o contrário. "Não posso interferir na decisão dele, mas é importante que ele aprenda a viver do seu trabalho", diz. "Nunca pensei em receber ajuda financeira para sempre", diz João, que recebe mesada desde os 13 anos e agora reforça seu orçamento, atuando em duas bandas e com apresentações de piano no hotel Hilton. No tempo que resta, dá aulas particulares de física e matemática. "Não descartei a engenharia, mas agora estou empenhado em viver da música", diz.

Em nome do pai

Leonardo Wen/Folha Imagem
Voltar a receber mesada aos 19 anos não estava nos planos de Vanessa Calegaro, 23 anos. "Eu comecei a trabalhar aos 16 anos para ter meu próprio dinheiro", diz. Por insistência do pai, interrompeu o trabalho na época do cursinho para o vestibular. Hoje, aos 23 anos, está no segundo ano de Fisioterapia nas Faculdades São Judas Tadeu, depois de desistir da Biologia. Sua mesada é de R$ 400 mensais. Além da faculdade, o pai, Felício Calegaro Neto, 45 anos, gerente editorial das Editoras Paulinas, também paga o curso de acupuntura. "Acho importante que ela tenha uma formação acima da média de mercado para alcançar sucesso em sua profissão", diz. O acerto entre ambos é que a mesada termine após a formatura. "Concordo que é bom para meus estudos, mas não me sinto totalmente confortável nessa situação", afirma Vanessa.

Como acertar na mesada

A hora de começar

O ideal é que a criança já saiba fazer contas de somar e subtrair. Recomenda-se começar sob a forma de semanada. Depois dos 11 anos, deve ser mensal.

Explicar os objetivos

Deixar claro qual é o objetivo da mesada, para que o filho valorize o dinheiro que recebe. Educação financeira é aprender a viver de acordo com o orçamento familiar.

Necessidade ou desejo

Cabe aos pais estimular o consumo responsável e jamais fazer sacrifícios para pagar a mesada. Os filhos devem aprender a poupar parte do que recebem, visando objetivos de curto e médio prazos, e não ganhar tudo a hora que quiserem.

Autonomia

Deixe seu filho fazer as escolhas de alocação de dinheiro. É preferível errar com a mesada do que estourar o cheque especial quando for adulto. Converse sobre o que ele tem feito com o dinheiro. Evitar excessos é a melhor receita.

Atitude não se compra

Mesada não é um instrumento de recompensa ou de punição. Ela deve servir para educar e preparar os jovens, ensinando-lhes o valor do trabalho e do planejamento financeiro.

A hora de cortar

Deve ocorrer de forma gradual, dentro de objetivos definidos. O consultor Marcos Silvestre recomenda reduzir, a cada três meses, 5% do valor da mesada, após a faculdade. Se o jovem fizer estágio, descontar o valor que receber pelo trabalho.

O direito é só estudar

Júlio Vilela/Folha Imagem
Advogada formada pelo Mackenzie e aprovada pela OAB Mariana Bachcivangi Garcia, 25 anos, atualmente estuda para disputar uma vaga em concurso público na área jurídica. Recebe dos pais cerca de R$ 1.000 mil mensais, valor que pode dobrar, contando o gasto com taxas de inscrição e viagens. A decisão de se dedicar ao serviço público foi apoiada pelos pais. Para a mãe, Maria Bachcivangi Garcia, 56 anos, coordenadora pedagógica e professora, a partir de uma certa idade a mesada ganha um sentido de compromisso. “Estamos oferecendo a ela uma oportunidade para se qualificar e encontrar um bom trabalho”, diz. Mariana queixa-se de que a sua situação, embora transitória, nem sempre é bem compreendida. “Abri mão de muitas coisas pessoais para atingir meus objetivos. O difícil é manter a tranqüilidade”, diz.

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