31/07/2006
Cenário para investir: O perigo do rebanho eletrônico
Investidores estrangeiros têm US$ 72,2 bilhões aplicados no país, segundo dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), do final de maio. Esse valor corresponde às aplicações feitas em ações, em títulos de renda fixa e em operações na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), mais os rendimentos acumulados.
Essa montanha de recursos significa um risco em potencial para o país, segundo Ricardo Carneiro, professor da Unicamp. Se houver uma fuga em massa de investidores, as reservas depositadas no Banco Central seriam insuficientes para garantir a saída dessas aplicações. O resultado de uma debandada do chamado rebanho eletrônico –que com alguns comandos via internet sacam bilhões– seria a disparada do dólar.
Segundo analistas de mercado, entretanto, esse tipo de corrida não ocorre. Mesmo em 1998, quando houve o maior pânico já vivido pelo mercado financeiro –e com justa razão, pois havia crise externa e interna– deixaram o país US$ 2,44 bilhões. Esse valor correspondia a 15% do estoque de investimentos de não-residentes registrado pela CVM. Estoque é o saldo acumulado das aplicações (dinheiro que entrou menos o que saiu) desde 1991.
Em maio deste ano, a saída foi de apenas 2,5% do estoque: no final de abril havia US$ 20,48 bilhões de recursos estrangeiros aplicados no mercado brasileiro e em maio esse volume caiu para US$ 19,9 bilhões.
O risco de saída de estrangeiros tem de ser avaliado pelo perfil das aplicações, segundo Jorge Simino, diretor da Fundação Cesp. Em maio, 80% do total aplicado no país estava em ações e 15,4% em renda fixa (leia quadro na pág. 17).
No mercado de ações, há investidores de longo prazo que não necessariamente sairiam correndo num momento de turbulência. “Além disso, se muitos tentarem sair ao mesmo tempo, os preços dos papéis desabam, desestimulando a saída”, diz Walter Mendes, diretor do Itaú.
Foi o que ocorreu na crise de 1998, quando a desvalorização das ações reduziu quase pela metade as carteiras de ações de estrangeiros. Elas valiam US$ 30,9 bilhões, em dezembro de 1997, e ficaram reduzidas a US$ 16,4 bilhões no final de 1998. Uma perda de valor de U$$ 23,5 bilhões, embora o total de recursos que deixou o país tenha sido de apenas US$ 2,4 bilhões. O risco, para Simino, estaria mais no mercado de renda fixa do que no de renda variável. “Na renda fixa, a saída de estrangeiros, num cenário de crise e pânico, afetaria 95% da poupança interna, pois é onde a maioria das pessoas aplica.”
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